Candidato às Nações Unidas
António Guterres: “o mundo precisa de liderança e valores”
O candidato a secretário geral da ONU,
António Guterres, considera que "o mundo precisa, com urgência, de
liderança e valores". No debate entre candidatos àquele cargo, o
antigo primeiro ministro português, fez uma intervenção
elogiada pela comunidade internacional, lembrando que o futuro
Secretário Geral das Nações Unidas deve ser um símbolo de unidade,
mas ao mesmo tempo deve saber "combater, e derrotar, o populismo
político, o racismo e a xenofobia". Valores que, assegura, sempre
ter defendido ao longo de toda a sua vida.
Na audição, realizada no passado
dia 13 de julho, António Guterres mostrou-se determinado em vir a
ocupar aquele cargo, garantindo paridade de género na sua equipa.
Respondendo com objetividade e sem rodeios às questões que lhe
foram colocadas, recebeu mesmo dois aplausos espontâneos dos seus
pares, lembrando o trabalho fantástico que o atual secretário geral
da ONU, Ban Ki-moon, tem feito. Para esta audição, a ONU recebeu
1500 perguntas de organizações e da sociedade civil, das quais
foram escolhidas dez.
Na sua intervenção, António
Guterres defendeu uma reforma no Conselho de Segurança da
organização, recordando o antigo Secretário geral da organização,
Kofi Annan, que referiu que "nenhuma reforma da ONU está completa
sem uma reforma do Conselho de Segurança". Isto porque no entender
de António Guterres, o Conselho de Segurança tem problemas de
representatividade, pois não inclui membros permanentes da América
Latina ou de África.
Contudo, disse, "isto só será
possível se os países-membros assim o quiserem e se criarem o
consenso necessário para que essa reforma aconteça" garantindo que
a irá apoiar "mas de nenhuma forma irei substituir os
países-membros neste assunto, assim como em muitos outros".
A questão da
prevenção de conflitos foi também colocada a António Guterres. No
entender do antigo Primeiro Ministro português "tem de haver
um contínuo, com as mesmas prioridades e as mesmas estratégias",
durante todas as fases em que a organização lida com conflitos, o
que não sucede neste momento. O homem que exerceu o cargo de Alto
Comissário das Nações Unidas para os refugiados explicou que "há
mais atenção para a manutenção de paz, porque as câmaras estão lá",
sabendo todos "o que está a acontecer", mas que isso não ocorre
quando um conflito está na fase inicial.
A questão em si não é fácil, como
reconheceu António Guterres, até porque existe um debate na
comunidade internacional, relacionado com o risco de se interferir
com a soberania internacional. Mas é aqui, diz o candidato
português, "que o secretário geral pode intervir, de forma humilde,
para criar pontes entre os vários participantes e fazer entender
que existe uma forma de a prevenção de conflitos ter resultados e
reduzir o sofrimento humano".
Na sua audição, António Guterres
recordou o trabalho desenvolvido enquanto alto-comissário das
Nações Unidas para os Refugiados, sublinhando os motivos da sua
candidatura a Secretário-Geral da ONU: "senti a frustração de ver
as pessoas a sofrer e saber que não tinha uma solução para elas.
Foi por isso que entendi ser minha obrigação candidatar-me a
secretário-geral da ONU".
De referir que no dia 21 julho, o
Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU)
realiza a primeira votação secreta para escolher o próximo
secretário-geral. No entanto, o processo só estará terminado no
outono, sendo que o novo secretário geral toma posse em 2017.
António Guterres fez parte do
primeiro grupo de candidatos ouvidos, o qual incluiu Vesna
Pusic, da Cróacia, Susana Malcorra, da Argentina, Vuk Jeremic, da
Sérvia, e Natalia Gherman, da Moldávia. No segundo grupo estão
Helen Clark, da Nova Zelândia, Danilo Turk, da Eslovénia,
Christiana Figueres, da Costa Rica, Irina Bokova, da Bulgária, e
Igor Luksic, o candidato do Montenegro.