Primeira coluna
Da educação ao betão
O desenvolvimento de um país pode ser
analisado tendo em conta vários fatores, como o serviço de saúde,
vias de comunicação, o estado da justiça, o investimento privado e
público, as exportações e importações, qualidade de vida, a cultura
ou a educação. E é na educação que reside o maior desafio de
qualquer estado democrático. A qualificação dos cidadãos é o
garante que teremos futuro e que este estará entregue a gente capaz
de assumir o que o país exige.
Muito tem sido feito, Portugal tem uma rede de ensino capaz de dar
respostas aos jovens que querem prosseguir estudos. Começa a haver
investigação de ponta, mas importa que o Governo dê sinais claros
que a aposta na educação é para continuar e que, acima de tudo,
valorize quem torna o ensino possível e quem forma os nossos
alunos. Falo naturalmente dos professores. Uma classe,
tradicionalmente desunida entre si, mas que nessa diversidade de
pensamentos tem assegurado a formação de milhares e milhares de
alunos. É na escola que diariamente confiamos os nossos
filhos.
Independentemente da forma como vão terminar as negociações no que
respeita à progressão da carreira docente (a mesma esteve congelada
cerca de nove anos), o país não necessita de populismos, nem de
colocar a sociedade contra a classe docente, como se todos os males
viessem daqueles que formam, e bem, os nossos jovens. Não necessita
de um Primeiro Ministro que junte, no mesmo pensamento, educação e
betão. Infelizes ou ponderadas, as suas declarações não trouxeram
paz e inflamaram ainda mais a opinião pública. Disse António Costa:
"quando estamos a decidir fazer esta obra estamos a decidir não
fazer evoluções nas carreiras ou vencimentos".
O Primeiro Ministro falava sobre o anúncio das obras de
requalificação no IP3 e quis demonstrar que devem existir
prioridades. Quem governa deve decidir e assumir as suas decisões.
No passado também foi assim. Durante cerca de nove anos os
professores tiveram as suas carreiras congeladas. Foi uma decisão
política. Certamente que nesse período muitas estradas se
construíram ou se requalificaram. Mas não quero acreditar que uma
coisa esteja relacionada com outra. As declarações de António Costa
vieram apimentar a discussão pública sobre a progressão da
carreira, mas acima de tudo deram um sinal contrário à abertura e à
coragem que o seu próprio governo teve em aceitar desbloquear a
progressão da carreira docente. A escola não é um problema para o
país, é a solução para o país. Exige-se por isso bom senso de
todos, professores, governo e sociedade civil. Só com bom senso, e
sem populismos, conseguiremos ser melhores e qualificar todos os
portugueses num ambiente de respeito e de motivação.