1ª Coluna

Primeira coluna
Da educação ao betão

João CarregaO desenvolvimento de um país pode ser analisado tendo em conta vários fatores, como o serviço de saúde, vias de comunicação, o estado da justiça, o investimento privado e público, as exportações e importações, qualidade de vida, a cultura ou a educação. E é na educação que reside o maior desafio de qualquer estado democrático. A qualificação dos cidadãos é o garante que teremos futuro e que este estará entregue a gente capaz de assumir o que o país exige.
Muito tem sido feito, Portugal tem uma rede de ensino capaz de dar respostas aos jovens que querem prosseguir estudos. Começa a haver investigação de ponta, mas importa que o Governo dê sinais claros que a aposta na educação é para continuar e que, acima de tudo, valorize quem torna o ensino possível e quem forma os nossos alunos. Falo naturalmente dos professores. Uma classe, tradicionalmente desunida entre si, mas que nessa diversidade de pensamentos tem assegurado a formação de milhares e milhares de alunos. É na escola que diariamente confiamos os nossos filhos.
Independentemente da forma como vão terminar as negociações no que respeita à progressão da carreira docente (a mesma esteve congelada cerca de nove anos), o país não necessita de populismos, nem de colocar a sociedade contra a classe docente, como se todos os males viessem daqueles que formam, e bem, os nossos jovens. Não necessita de um Primeiro Ministro que junte, no mesmo pensamento, educação e betão. Infelizes ou ponderadas, as suas declarações não trouxeram paz e inflamaram ainda mais a opinião pública. Disse António Costa: "quando estamos a decidir fazer esta obra estamos a decidir não fazer evoluções nas carreiras ou vencimentos".
O Primeiro Ministro falava sobre o anúncio das obras de requalificação no IP3 e quis demonstrar que devem existir prioridades. Quem governa deve decidir e assumir as suas decisões. No passado também foi assim. Durante cerca de nove anos os professores tiveram as suas carreiras congeladas. Foi uma decisão política. Certamente que nesse período muitas estradas se construíram ou se requalificaram. Mas não quero acreditar que uma coisa esteja relacionada com outra. As declarações de António Costa vieram apimentar a discussão pública sobre a progressão da carreira, mas acima de tudo deram um sinal contrário à abertura e à coragem que o seu próprio governo teve em aceitar desbloquear a progressão da carreira docente. A escola não é um problema para o país, é a solução para o país. Exige-se por isso bom senso de todos, professores, governo e sociedade civil. Só com bom senso, e sem populismos, conseguiremos ser melhores e qualificar todos os portugueses num ambiente de respeito e de motivação.

 
 
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