Bocas do Galinheiro
Senhores da música
A importância da música
no cinema é inegável. Se nos primeiros tempos do cinema mudo, a
música foi introduzida para "silenciar" os projectores e acalmar os
ânimos dos espectadores, pouco dados a permanecerem em silencia
durante as projecções, aos poucos tornou-se imprescindível. Claro
que, com o aparecimento do sonoro e não sendo os diálogos
contínuos, não se estava no teatro, foi fácil perceber que nada
melhor que preencher a ausência de falas, e, desde logo, para
acentuar determinados momentos, a música era o efeito ideal. Não
estranha pois que, para além da introdução de temas conhecidos na
banda sonora, a composição cinematográfica passasse a dominar a
música dos filmes, já para não falar dos grandes musicais onde
nasceram temas inesquecíveis.
Quando falamos de grandes compositores para cinema, vêm-nos de
imediato à lembrança nomes como John Williams, quem não o conhece
da saga "Star Wars", para ficarmos por aqui, Jerry Goldsmith, de
filmes como "Rio Lobo", de Howard Hawks, e "Rambo" , de entre
dezenas, ou Bernard Herrmann, associado aos filmes de Hitchcock, de
que "Psycho" é notável exemplo. Mas hoje vamos falar de três
grandes compositores que nos deixaram este ano.
Desde logo Michel Legrand falecido a 26 de Janeiro. Músico, foi um
grande pianista de jazz, tendo trabalhado com nomes grandes do
género como Miles Davis, John Coltrane e Dizzy Gillespie, entre
outros. Foi porém como compositor e principalmente para cinema que
se notabilizou.
São dele bandas sonoras icónicas de filmes de Jacques Demy como
"Lola",(1961) a primeira colaboração entre ambos, e se perpetuou
nesse fabuloso "Les Parapluies de Cherbourg" (1964), nomeado para
três Oscar da Academia e "Les Demoiselles de Rochefort"
(1967), bem como de Norman Jewison, "The Thomas Crown Affair", a
versão de 1968, com Steve McQueen e Faye Dunaway, cujo tema "The
Windmills of Your Wind", ganhou o Oscar da melhor canção, outro foi
para a banda sonora de "Verão de 42", de Robert Mulligan (1971), ou
de Orson Welles, em "F for Fake (1973). Curiosamente, "The Other
Side of the Wind", um filme inacabado de Orson Welles, por causa da
morte do realizador, em 1985, terminado agora por Oja Kodar, vai
ter banda sonora de Legrand, o seu último trabalho para o
cinema.
Outro grande compositor desaparecido este ano foi André Previn,
Previn aos 89 anos em Fevereiro passado. Apesar de estar afastado o
cinema desde os anos de 1970, foi maestro da Orquestra
Filarmónica de Los Angeles, com vários discos gravados, não só de
música clássica, mas também de jazz.
O compositor arrebatou quatro Oscar pelos filmes "Gigi" (1958), de
Vincente Minnelli, "Porgy & Bess" (1959),de Otto
Preminger, "Irma La Douce" (1963), de Billy Wilder e "My Fair
Lady" (1964) de Georgr Cukor, para além de várias nomeações, entre
as quais canções originais em parceria com uma das suas
ex-mulheres, Dory, para "Pepe" (1960) de George Sidney, com
Cantinflas e "Two for the Seesaw (1962), de Robert Wise.
Altura para recordar ainda Maurice Jarre (pai do músico Jean-Michel
Jarre), também ele ganhador de vários Oscar, o primeiro dos quais
por "Lawrence da Arabia" (1962), de David Lean, com uma soberba
interpretação de Peter O'Toole, distinguido depois com "Doutor
Jivago", (1965), também de Lean, que imortalizou o "Tema de Lara",
e consagrou Omar Sharif, aqui ao lado de Julie Christie, e o
terceiro com "Passagem para a Índia" (1984), também com realização
de David Lean. O pleno desta dupla em nomeações para as estatuetas
douradas. Porém, onde falhava o Oscar arrecadava o Globo Ouro, como
aconteceu com "Gorilas na Bruma" (1988), de Michael Apted, com
Sigourney Weaver, que também arrecadou o Globo de Ouro, a encarnar
Dian Fossey. Nestes prémios Maurice Jarre foi ainda reconhecido por
"A Walk in The Clouds" (1995), de Alfonso Arau, com Keanu Reeves e
Aitana Sánchez-Gijón e Anthony Queen, a juntar aos que recebera por
"Doutor Jivago" e "Lawrence da Arábia"
Compôs ainda para realizadores como Alfred Hitchcock "Topázio"
(1969), John Huston "O Juis Roy Bean" (1972) e "O Homem que Queria
ser Rei" (1975), Luchino Visconti "Os Malditos" (1969) e Peter Weir
"A Testemunha" (1985), "A Costa do Mosquito" (1986) e "O Clube dos
Poetas Mortos" (1989). Ficaram também no ouvido as bandas sonoras
dos filmes "Atracção Fatal" (1985), de Adrian Lyne, com Michael
Douglas e Glenn Close e "Ghost" (1990), de Jerry Zucker, com
Patrick Swayze e Demi Moore, para lembrarmos só estes, duma
filmografia que ultrapassou largamente os cem títulos.
Até à próxima e bons filmes!