Primeira coluna
As crises ganham-se pelo saber
A qualificação dos portugueses é o maior
trunfo que o país pode ter para ultrapassar momentos difíceis como
o que estamos a viver, devido à pandemia do novo coronavírus. Só
com conhecimento, inovação, investigação e ciência é possível
ultrapassar realidades que mais parecem ter saído de um argumento
de ficção científica, como acontece com a Covid-19 e tudo aquilo
que ela representa nas suas diferentes dimensões.
É na ciência e na investigação
que o mundo tem os olhos postos na esperança de que uma cura ou uma
vacina, ou ambos, possam ser anunciados. É um dos maiores desafios
de sempre que a humanidade está a pedir à comunidade científica.
Este é o momento em que todos conseguimos perceber o quanto a
qualificação das pessoas e a sua formação são importantes. É também
o momento em que a sociedade percebe a importância da escola nos
seus diferentes níveis de ensino.
No pré-escolar, no básico,
secundário e profissional assistimos a um esforço nacional no
sentido de minimizar a falta de aulas presenciais. Houve excessos e
ausências, mas na avaliação final teremos que dar nota positiva a
todos: aos professores, aos alunos, às famílias. Mas acima de tudo
ao país que não desistiu nem se resignou em encerrar apenas as
escolas. Que criou condições, as possíveis, para que os alunos do
ensino secundário regressassem às aulas presenciais nas disciplinas
para as quais iriam fazer exames de acesso ao ensino
superior.
Importa agora criar condições
para que seja possível o ensino presencial nas escolas a partir de
setembro. Em circunstância alguma devemos fazer aquilo que na gíria
jornalística se diz de show off, ou seja lançar foguetes sobre uma
mão cheia de nada (os políticos são muito eficazes nessa
comunicação).
É preciso garantir distanciamento
entre os alunos nas salas de aula e entre estes e os professores?
Sim. É preciso dotar as escolas de sistemas de higienização e
limpeza adequados? Sim. São necessários circuitos de entrada e de
saída? Sim. É preciso desdobrar as turmas? Sim! numa sala preparada
para 25 alunos que, anualmente, a escola já ocupa com 30 alunos,
não é possível ter esses mesmos estudantes com 1,5 ou 2 metros de
distância entre si. Não cabem lá. São precisos mais professores e
mais auxiliares? Sim. E não basta dizer que se vai fazer isto ou
aquilo, não basta um professor por escola. A resposta tem que ser
musculada e rápida.
No ensino superior, universidades
e politécnicos mostraram-se robustos e eficazes na resposta, não só
com as aulas a distância, no apoio aos estudantes e à sociedade, na
produção de equipamentos, na investigação com a criação de rede de
testes à Covid-19, no regresso às aulas presenciais. Foram ímpares
e mostraram a todos quanto são importantes. Quanto a rede de ensino
superior portuguesa é importante. Olha-se agora para o próximo ano
letivo, com o desejo de que seja possível regressar com aulas
presenciais. Será, certamente, possível nalgumas unidades
curriculares, não será noutras em que o elevado número de alunos em
sala de aula não é adequado.
O ensino misto poderá ser a
melhor solução. Não tenho dúvidas que todas as universidades e
politécnicos têm diferentes cenários para implementar tendo em
conta a evolução da pandemia. Todos estão determinados em fazer
funcionar as academias e os seus centros de investigação, em
qualificar não só os jovens que entram e já estão no ensino
superior, mas também aqueles, que já diplomados, querem
requalificar-se. Todas as instituições de ensino superior estão
empenhadas num esforço que deve ser mais coletivo que individual.
Todas têm a consciência que as crises se ganham pelo saber, mas
mais importante que isso, que o futuro se conquista com o
conhecimento. E é nisso que todos devem estar empenhados, a começar
pela sociedade civil que muitas olha para estas instituições como
espaços fechados em que apenas se formam doutores e engenheiros. Se
só assim fosse, o que seria do país e do mundo…