Gente & livros
Manuel Barata
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Faça-lhe umas botas bonitas, mas com solas de borracha, que sempre
duram mais", disse a minha mãe. "Põe aqui o pé", dizia o mestre
sapateiro, que, com um lápis, fazia a planta do meu pé numa folha
de papel pardo. "Mas faça-lhas folgadinhas, que o rapaz está a
crescer", insistia minha mãe. "Está descansada, que vai ter botas
por muito tempo", asseverava Ti João Balhau. E as botas foram
feitas e duraram muito tempo, porque quando o pé deixou de caber,
cortou-se a biqueira à bota e os dedos podiam crescer à
vontade".
In Mata Retratos à la
Minuta
(Ed. RVJ Editores)
Manuel Barata nasceu em 9 de
junho de 1952, na então freguesia de Mata, concelho de Castelo
Branco. Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas pela Faculdade
de Letras da Universidade de Lisboa, é autor de um conjunto
significativo de obras, na sua maioria poéticas. Viveu em Castelo
Branco, Lisboa, Paris, Luanda. Reside em Santa Iria da Azoia.
Ensinou português e francês. Foi quadro no Ministério das
Finanças.
Dos seus muitos livros
destacam-se "O fascínio da Quadra", editado este ano, "Fragmentária
Mente", "Quadras Populares - umas sim outras quase", "Fragmentos de
poesia", ou "Mata Retratos à la Minuta", onde reúne um conjunto de
histórias e personagens verídicas da terra que o viu nascer.
Mata Retratos à la Minuta é um
dos livros marcantes, pela sua diferença. "Habituado por quarenta
anos de jornalismo dito cultural a resumir, simplificar e
sintetizar, vejo neste livro de Manuel Barata uma autobiografia na
terceira pessoa do plural. Parece contraditório mas não é. Porque,
contando as histórias dos outros, o autor conta-se a si próprio,
integra-se e passa a fazer parte de um todo. O mesmo é dizer de uma
aldeia só com uma estrada para ir e vir, os seus conflitos,
palavras, sacrifícios, alegrias, ócios e negócios, vida e morte. Em
ponto grande. Que é o ponto da paixão", disse José Francisco do
Carmo sobre esta obra, que no próximo dia 12 de setembro será
apresentada ao público.