Editorial
Escola, espaço de tradição e de inovação
Poucas instituições incorporam tanto simbolismo
se comparadas com a instituição escolar. Aí, no virar de cada
esquina, tropeçamos com gestos, linguagens e códigos, que se
revelam no modo de pensar sentir e agir dos jovens e dos seus
educadores. Quer queiramos ou não, estes rituais do currículo
oculto marcam mais as vivências, as representações e as memórias
colectivas dos protagonistas do acto educativo, do que qualquer
outra influência do currículo formal.
A escola é muito mais que o
espaço da sala de aula, e não é invulgar ouvirmos os estudantes
afirmar que gostam de ir à escola, mas não gostam tanto de ir às
aulas…
Nas escolas produz-se uma relação
dialéctica entre a contribuição dos docentes e dos alunos para a
eficácia dessas instituições, e a organização da escola enquanto
determinante do desenvolvimento e do eficiente desempenho
profissional de uns e dos outros.
Designadamente, o trabalho do
professor desenvolve-se em espaços que dão sentido e ajudam a
organizar o seu mundo conceptual, que possibilitam essa
transferência conceptual para a prática educativa, e o enquadram
dentro de um grupo profissional, que constitui também uma
referência insubstituível para o seu empenhamento na multiplicidade
de tarefas inerentes aos processos de ensino.
O principal da actividade docente
desenvolve-se dentro das paredes da escola, espaço em que se
elaboram complexas redes de controlo, de estruturas hierárquicas de
poder, que obrigam à reciprocidade de atitudes e de comportamentos,
e que determinam, significativamente, as escolhas e as opções de
cada docente quanto às suas práticas educativas.
Por outro lado, a organização
formal da escola, constrangida pelas exigências do poder político e
da sociedade civil, determina também que, em certa medida, a
autonomia (entendida como um primeiro passo para a inovação) se
traduza frequentemente numa "realidade virtual", já que se
considera como adquirido que o Estado e a sociedade têm o direito e
o dever de saber o que se faz (e como se faz) na escola, elaborando
para esse fim um indeterminado número de normativas apropriadas ao
exercício desse controlo.
Dentro da escola a aquisição de
representações de professores e alunos desenvolvem-se, então, entre
dois constrangimentos: os que os motivam o desenvolvimento pessoal
e profissional, e que provocam a busca de soluções inovadoras; e os
que obrigam ao cumprimento de rotinas, mais ou menos burocráticas,
e que inibem o despertar para da inovação educativa.
Entre a inovação e a tradição,
assim se processa a actuação de docentes e de discentes no quadro
das exigências das instituições escolares. Esta estrutura
organizacional pode provocar, nomeadamente, que cada professor se
concentre no trabalho na sala de aula, com os seus alunos, sem
promover qualquer tipo de intercâmbio experimental com os seus
colegas, que reproduzem os mesmos comportamentos na sala ao
lado.
O sentimento de partilha e de
pertença a um grupo, o estabelecimento de mecanismos de colaboração
ou, pelo contrário, a sua interdição, são factores decisivos para
incrementar, ou não, o desenvolvimento profissional dos docentes.
Sobretudo quando se proporcionam ou se restringem atitudes de
autonomia, de participação nas decisões, de partilha das
responsabilidades e, finalmente, de gestão participada dos
curricula, dos métodos e dos recursos que melhor os possam
desenvolver.
Todavia, é consensual que a
escola é um dos espaços privilegiados para promover e desenvolver
os processos de inovação, para proporcionar a melhoria do
desempenho dos professores e alcançar o sucesso escolar e educativo
dos alunos.
A adopção, implementação e
avaliação de inovações educativas, a adequação dos curricula ao
perfil de formação dos alunos e às expectativas da sociedade
conduzem, necessariamente, à aceitação de um compromisso
institucional entre o Estado, as escolas, os professores, os
alunos, as famílias e a comunidade. Este é, talvez, um dos desafios
que nenhum de nós terá o direito de recusar.