O que pode mudar no superior…
As
instituições de ensino superior portuguesas preparam-se para
enfrentar um dos seus maiores desafios dos tempos recentes :
melhorar os seus indicadores de qualidade em áreas como a
investigação, a internacionalização, a formação inicial e
pós-graduada, ou a implementação efectiva do Processo de Bolonha.
Desafios que terão que ser desenvolvidos e alcançados num clima de
dificuldades económicas, pelo que também caberá às instituições
saberem gerar recursos financeiros próprios para o seu melhor
funcionamento.
O novo Governo liderado por
Passos Coelho deve incentivar as próprias instituições fazê-lo. No
seu programa eleitoral, o PSD aborda alguns pontos que merecem dos
agentes educativos alguma reflexão. Numa primeira linha surge a
adaptação do processo de Bolonha às reais necessidades do País e da
economia global, no sentido de promover uma maior empregabilidade
no final do 1º ciclo de formação; e adaptação da própria carreira
docente a esses mesmos objectivos. Na generalidade das
instituições de ensino superior, os cursos já estão adaptados, mas
falta alterar procedimentos, não só junto dos alunos, mas e,
sobretudo, junto da classe docente, promovendo uma maior interacção
entre quem ensina e quem aprende.
Passos Coelho pretende também
evitar a duplicação de ofertas formativas. Mas pretende fazê-lo
"dando primazia às instituições de referência e especializando
instituições com menor massa crítica a nível nacional". Uma opção
que certamente vai ter que ser discutida e analisada, até porque
não é em 20 ou 30 anos que se criam instituições de referência, e
porque o desenvolvimento do país e o acesso ao saber e ao ensino
superior não deve ser colocado em risco, sobretudo no interior do
país. O ensino superior é responsável pelo maior avanço que essas
regiões alguma vez tiveram. Permitiram fixar quadros qualificados,
criar novas empresas e, acima de tudo, garantiram o acesso ao saber
que antes estava vedado a quem tinha dinheiro ou estava perto das
poucas universidades que existiam. E dinheiro é que vai começar a
faltar às famílias portuguesas.
Outra das propostas de Passos
Coelho vai no sentido de "promover a mobilidade interna e externa
de docentes, com o objectivo de incentivar a mudança e a fixação
para novas zonas de ensino superior".
No financiamento das
instituições poderão surgir mudanças importantes. O programa
eleitoral do PSD prevê a atribuição de dotações para a investigação
básica limitada a certas instituições; e dotações para investigação
aplicada limitada com "Match Funding" (jogos de financiamento) de
empresas e associações sectoriais. Mas prevê também a atribuição de
prémios para o nível de internacionalização (alunos e docentes) e
para a presença em listas de referência internacionais. A
empregabilidade dos cursos, a nível nacional e internacional,
passará a ser outro factor a ter em conta, o mesmo sucederá com a
ligação ao tecido empresarial.
É claro que estas são as
propostas já tornadas públicas e que, necessariamente, deverão ser
alvo de um amplo debate com as instituições. As dificuldades que o
País atravessa colocam mais responsabilidade a quem decide, mas não
devem constituir uma desculpa para que se decida mal e se coloque
em risco a coesão nacional e o livre acesso ao saber. Portugal deve
saber potenciar-se como um todo, e não apenas como uma parte. Só
assim teremos um país competitivo e desenvolvido, apoiado num
ensino superior de qualidade…