Souto Moura em entrevista
A boa vingança do Sr. Arquiteto
A escola de arquitetura portuguesa
conseguiu uma "boa vingança" para o País em tempos de crise, com o
prémio Pritzker de arquitetura 2011, disse Eduardo Souto de Moura,
depois de ser distinguido com o aquele que é um dos mais
prestigiados prémios de arquitectura do mundo.
"Só se diz mal. Os juros sobem, somos desacreditados, a senhora
Merkel´ diz que temos férias a mais… não temos sido bem tratados. O
prémio é uma boa vingança", disse o arquiteto portuense em
Washington, onde no passado dia 2 de junho, foi homenageado numa
cerimónia com a presença do presidente norte-americano, Barack
Obama.
Mesmo em tempos de crise, Souto Moura considera, que a arquitetura
portuguesa em particular "nunca foi maltratada", como o mostra a
solicitação de arquitetos para conferências internacionais e
trabalho no estrangeiro, quando a falta de oportunidades em
Portugal obriga muitos a fazer as malas.
"É um gosto, para mim próprio, ver os meus alunos e colaboradores a
mostrar obra feita. E não é normal - não o digo por patriotismo ou
nacionalismo bacoco - que um país pequeno possa ter sete, oito,
nove arquitetos com uma qualidade daquelas. A ciência, a
arquitetura, está de parabéns", afirmou.
Com a crise, acrescentou, o investimento público e privado está
paralisado e adivinham-se "dias negros para a engenharia e a
arquitetura", pelo que muitos estão "a sair para o Brasil, para a
Europa, sobretudo para a Suíça, onde há uma grande necessidade de
projetistas".
Souto Moura revelou ainda que nunca lhe acontecera "pedir a um
amigo suíço para empregar um arquiteto" e ver o pedido recusado. No
estrangeiro, disse, é reconhecido o "sentido pedagógico, e de
preparação das escolas portuguesas de arquitetura, bem como a sua
capacidade de trabalho".
"A pessoa que fez com que a arquitetura portuguesa começasse a ser
notada foi o arquiteto Siza Vieira. Abriu portas e preparou uma
nova geração, que é a minha, que também tem ensinado", explicou
Souto Moura. No entender do arquitecto português "há esta empatia
de gerações que vai continuando e esperamos que venha a dar muitos
frutos".
Souto Moura afirma, que a sua geração é "uma espécie de escola
pós-Siza, que não o copia porque é gente inteligente", adiantando
que este "é um mestre, porque conseguiu inventar uma linguagem do
passado. É único, um caso especial".
Para o arquiteto, o Prizker foi-lhe dado precisamente por ter um
estilo "sóbrio de um país marginal".
Como diz: "Há um paradigma da arquitetura (…) muito baseado em
personalizações, star system, ícones muito referenciados, e nesta
conjuntura é preciso se calhar outro tipo de postura".
Sobre o impacto do prémio no trabalho do seu 'atelier', afirma que
para já é nulo. "Espero que venha a acontecer porque não há
trabalho. No estrangeiro há, mas também há uma crise europeia e os
países não costumam dar projetos a estrangeiros. É sempre uma
defesa nacional", afirma.
"A única coisa em que o prémio se faz sentir é nos parabéns na rua.
As pessoas ficam felizes e cumprimentam-me sempre que saio à rua",
adianta o arquiteto portuense.
Este texto foi escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico
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