Gente e Livros
Chris Cleave
(...) Foi então que comecei a chorar. Não chorei
quando mataram a minha irmã, mas chorei quando ouvi a música que
vinha do camião dos soldados porque pensei: Esta é a canção
favorita da minha irmã e ela nunca mais vai ouvi-la. Acha que sou
louca, Sarah?
Sarah abanou a cabeça. Estava a roer as unhas.
- Toda a gente da minha aldeia gostava dos U2 - disse eu. - Talvez
mesmo toda a gente da Nigéria. Imagine só, os rebeldes do petróleo
a ouvirem os U2 nos seus acampamentos na selva, e os soldados do
governo a ouvirem os U2 nos seus camiões. Acho que andavam todos a
matar-se uns aos outros e a ouvir a mesma música. Sabe uma coisa?
Na primeira semana que estive no centro de detenção, os U2 também
estavam no número um aqui. É uma coisa engraçada neste mundo,
Sarah. Ninguém gosta de ninguém, mas toda a gente gosta dos
U2.
A Sarah tinha as mãos juntas em cima da mesa e não parava de as
torcer. Olhou para mim e perguntou-me: - Estás em condições de
continuar? Consegues contar-me como é que escapaste?»
In Pequena Abelha
Chris Cleave nasceu em Londres, em 1973. Viveu parte da infância
na República dos Camarões mas não voltou a esse país.
De regresso a Inglaterra, estudou Psicologia Experimental, em
Oxford. Antes de se estrear na literatura trabalhou como
jornalista, colunista, barman, marinheiro, professor e pioneiro da
Internet. O seu primeiro romance, O Incendiário (2005) é um
bestseller internacional publicado em mais de 20 países. Venceu o
Prémio Somerset Maugham Award e o Prémio Especial do júri dos Prix
des Lecteurs. O Incendiário tem como tema o terrorismo e foi
adaptado para o cinema. O filme é protagonizado por Ewan McGregor e
Michelle Williams.
Pequena Abelha, o seu segundo romance publicado em Portugal,
também tem a chancela da Editora Asa. Chris Cleave teve a
ideia de escrever Pequena Abelha quando era estudante
universitário e trabalhou alguns dias, no ano de 1994, num centro
de detenção de imigrantes em Oxfordshire. Do contacto estabelecido
com os imigrantes nasceu a convicção de que não é crime ser
refugiado e que a prisão daqueles homens e mulheres era injusta.
Desse tempo e desses diálogos surge a promessa de escrever um
romance sobre o drama dos refugiados. Pelo seu humanismo, Pequena
Abelha é um sucesso literário bem merecido. Reconhecido
internacionalmente pela crítica e pelo público, o romance liderou a
lista de bestesellers do jornal The New York Times.
Para além de Incendiário e Pequena Abelha, é também autor dos
romances The Other Hand (2008); e After the End of the World
(2011). Este último sobre os limites da amizade e a rivalidade
desportiva.; e das short stories: Quiet Time; Fresh Water; e
Oyster.
Chris Cleave vive com a mulher e os três filhos em Londres.
Pequena Abelha. A Pequena Abelha é uma jovem nigeriana, refugiada
em Inglaterra, que procura Sarah, a editora de uma revista de moda,
no dia do funeral do marido desta. Este é o segundo encontro das
duas mulheres. Há dois anos atrás, elas conheceram-se em
circunstâncias trágicas, na Nigéria. A Pequena Abelha escapou,
graças ao sacrifício de Sarah, à perseguição de um grupo de
rebeldes ao serviço das empresas petrolíferas na Nigéria. Agora a
jovem nigeriana precisa novamente da ajuda de Sarah: saiu
ilegalmente do centro de detenção de refugiados e arrisca ser
deportada. Na Nigéria o que é que Sarah perdeu para poder salvar a
Pequena Abelha? E o que é que Sarah está disposta a sacrificar para
poder ajudar a Pequena Abelha?