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Monza o Mito

motor.jpgNão pelas razões mais lógicas, nos anos setenta era mais fácil assistir às transmissões televisivas dos grande prémios de fórmula 1 do que hoje.
Lembro-me do indicativo da Eurovisão que abria e fechava as grandes transmissões. Lembro-me também dos momentos mais dramáticos. O acidente de Roger Williamson em 1973 que provocou a sua morte no circuito de Zandvoort onde se disputava o grande prémio da Holanda. Fazendo uso dos fantásticos nos instrumentos que a Internet nos proporciona, pude rever recentemente o acidente e os minutos de desespero que se viveram, com a heróica atitude do piloto David Purley, tentando resgatar das chamas o seu colega.
Não me esqueço também do acidente no Autódromo de Monza em Setembro de 1978, que provocou a morte do grande Ronnie Peterson. Passados alguns anos, e depois de muitos bodes expiatórios, as culpas ficaram do lado do "starter" da corrida. O grande prémio de Itália desse ano foi a primeira corrida onde se usou o semáforo em substituição do antigo método que consistia em baixar a bandeira do país como sinal para a partida. Com o novo sistema o "starter" precipitou-se e accionou o semáforo de partida antes que os últimos carros da grelha estivessem imobilizados. Assim a parte traseira do pelotão chegou à primeira "chicane" com muito mais velocidade que os pilotos da frente, provocando este aparatoso acidente que também feriu gravemente o piloto Vittorio Brambilla, atingido na cabeça por um pneu que se soltou do carro de outro concorrente. Mais de 30 anos depois, temos disponíveis vídeos impressionantes que mostram ao pormenor as operações de resgate, protagonizadas pelo corajoso James Hunt, a retirar Peterson das chamas, situação apenas conseguiu adiar por 24 horas a morte do seu colega.
Estas situações dramáticas estiveram sempre ligadas a este desporto, e o Autódromo de Monza, o mais mítico da Europa, foi palco de algumas das mais marcantes.
Foi a 15 de Maio de 1922 que se iniciou a construção do primeiro traçado de 10 quilómetros deste autódromo, levada a cabo pelo Milan Automobile Club para comemorar o seu 25º Aniversário. De acordo com os historiadores o primeiro motivo para o aparecimento desta pista foi a criação de uma infraestrutura que rivalizasse com autódromo, onde já se disputava o grande prémio de França, mas parece que também houve grande influência por parte dos construtores italianos, para que dispusecem de um local onde testar as suas criações.
Ao longo dos anos a pista foi sofrendo evoluções mas a sua grande marca é o anel de velocidade criado em 1955. Com duas curvas de elevada inclinação unidas por duas rectas opostas com pouco mais de um quilómetro, podia ser usada na versão simples ou interligar com o circuito tradicional. Esta evolução foi no entanto um fracasso, pois as altas velocidades atingidas deteriorar os pneus muito rapidamente e exigia dos carros grandes esforços, devido às forças em jogo.
Poucos grande prémios usaram o anel de velocidade, sendo por isso criadas corridas alternativas. A certa altura foi mesmo organizada uma corrida para veículos com espicificações da prova de Indianapolis, apelidada de " A Corrida dos Dois Mundos" (América e Europa). Esta prova acabou por ser só disputada pelos americanos, uma vez que os europeus, cientes da superioridade dos de além mar, com máquinas mais adaptadas às ovais, uniram-se e recusaram participar numa prova lhes era impossível de vencer.
De polémica em polémica, de acidente em acidente, o certo é que o mito foi crescendo e o Autodromo de Monza encontra-se hoje de boa saúde, perto dos 90 anos de idade, sendo para os "tifossi" a catedral onde podem expressar a sua devoção aos carros do grande Enzo Ferrari...mas isso é outra história.

Paulo Almeida
 
 
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