Primeira Coluna
Os mega silêncios
O próximo ano lectivo começa com 150
novas unidades de gestão em todo o país, as quais resultam da
agregação de agrupamentos de escolas já existentes. Em muitos casos
a dimensão dessas novas estruturas ultrapassa os três mil alunos,
há mega agrupamentos que têm mais de quatro mil, e a generalidade
tem mais que dois mil, os quais estão espalhados por diferentes
edifícios e geograficamente afastados.
A discussão em torno desta questão,
que para o Ministério constitui um passo para a melhoria do ensino,
ficou aquém das expectativas. As vozes representativas da classe
docente que tantas vezes emanaram sábias opiniões sobre o futuro da
educação no país calaram-se nesta matéria. Um silêncio que procurou
passar entre os pingos de chuva, para que ninguém se molhasse e
para que as expectativas de alguns compromissos futuros,
alegadamente prometidos, possam ser concretizadas.
Esta falta de diálogo, sobretudo
junto da sociedade e da própria comunidade escolar, está a criar
algum mau estar na escola portuguesa. Mas para quem está na escola
é mais um instrumento para reduzir custos, para que mais docentes e
não docentes fiquem com a sua situação profissional indefinida, e
para que as gestões dessas unidades (as quais em vez de uma escola
apenas ou do agrupamento de escolas inicial, reúnem um conjunto de
estabelecimentos afastados no território e com projectos educativos
diferentes) sejam ainda mais difíceis. Se um agrupamento com 1200
alunos já é difícil de gerir, imaginemos um com três mil divididos
por diferentes escolas separadas geograficamente, nalguns casos a
mais de uma dezena de quilómetros?
Como em todos os sectores, também
na educação a palavra de ordem é reduzir. Uma redução que se faz
muitas vezes a régua e esquadro, sem se ter em conta a realidade
concreta de cada região, sem se conhecer o terreno, e onde cada uma
das estruturas que se situam abaixo da tutela tenta cumprir as
orientações que lhe são confiadas, ultrapassando, nalguns casos os
objectivos iniciais, demonstrando a quem manda que se pode fazer
mais. Esta situação não é nova. Aconteceu no passado e acontecerá
no futuro, independentemente de quem estiver a governar. Mas no
presente surge acompanhada de estranhos silêncios, que num passado
recente eram vozes constantes (umas vezes com razão, noutras não).
Não sou, nem nunca fui defensor de ruídos de fundo, pelo que em
muitas situações o silêncio pode ser a chave para a resolução de
muitos problemas. Não me parece que seja este o caso. O Ministério
da Educação fez o seu papel. Cumpriu aquilo a que se propôs. Fez o
seu trabalho de casa e concluiu com aproveitamento este dossier, o
qual no próximo ano será reaberto para a criação de mais uns
quantos mega agrupamentos de escolas. Resta saber se, tal como
neste final de ano lectivo, o mega silêncio dos senhores da palavra
dita e falada se vai ou não manter. Para mim, é me indiferente, o
importante é que a escola pública funcione e saia reforçada, com
respeito por todos os seus membros, e sem diálogos
condicionados...