Cultura

Bocas do Galinheiro
Ridley Scott revisita Alien

prometheus-spaceship-image.jpgEm 1979, Ridley Scott, um realizador inglês vindo da publicidade, e com uma longa-metragem apenas, "The Duellists", de 1977, com Keith Carradine e Harvey Keitel nos papéis de dois oficiais napoleónicos que se vão bater em duelo, surpreendeu tudo e todos com uma obra que na época marcou a cinematografia de ficção científica. Estamos a falar de "Alien - O 8º Passageiro", uma space opera: novela ou película de ficção científica que coloca o acento tónico na acção, na aventura no espaço sideral (formado a partir do termo horse opera que designava jocosamente os westerns) , no léxico da obra "50 ans de cinema américain" de Bertrand Tavernier e Jean-Pirre Coursodon, que deu o mote para uma série marcante de ficção científica de terror.

A Scott se deve a cena marcante da saga: quando a tripulação da nave Nostromo de volta à terra após uma longa viagem é acordada do seu criogénico sono pelo computador da nave que respondeu a um suposto pedido de socorro, num desolador planeta onde chegam depara-se com um quarto cheio de estranhos ovos. Quando se aproxima para os examinar um deles rebenta e uma estranha e tentacular criatura alienígena prega-se literalmente na cara de Kane (John Hurt). Levado para a nave é posto em isolamento, e depois de alguns dias com a criatura alapada no rosto esta descola-se e morre. Mais tarde ainda, durante uma refeição Kane começa a sentir-se mal. Agarrada pelos camaradas o peito começa a latejar e a t shirt branca a ficar ensanguentada. De repente o seu peito literalmente rebenta e dele sai uma criatura, (momento icónico do cinema de terror) assim uma espécie de verme ou lombriga gigante, com dentes afiados e corpo viscoso. O animal ergue-se ameaçador e gritos agudos, observa ao seu redor e com mais um grito estridente salta de dentro de Kane e desaparece por detrás dos painéis da nave. Kane estrebucha e morre. A criatura, um xenomorph, cresce para uma forma monstruosa e um a um vai dizimando os membros da tripulação até fichar apenas a tenente Ripley, Sigourney Weaver para o encontro final em que ela se consegue ver livre da besta. Afinal não viu. É ressuscitada anos depois por James Cameron em "Aliens: O Recontro Final", de 1986, mais uma vez com a tenente Ripley numa missão que também não era de socorro, e em 1992 pela mão de David Fincher, de novo Ripley (Sigourney Weaver) em "Alien 3: A Desforra", leva a nave de salvamento até um planeta prisão. Só que desta feita carrega o embrião de um alien, para em 1997 surgir o quarto filme da saga dirigido por Jean-Pierre Jeunet, "Alien: O Regresso", em que Ripley é clonada e uma rainha alien é extraída do seu corpo para serem estudadas as criaturas que carrega. Tudo se complica quando uma consegue escapar do laboratório. Claro está que todos os filmes terminam com um jogo do gato e do rato entre Ripley e as criaturas que, como acontece no género, teimam em reaparecer. Ainda houve, em 2004 "Alien vs Predador", de Paul W. S. Anderson, com os predadores elevados a caçadores de aliens, cujos embriões se desenvolvem em humanos.

Enfim uma saga de êxito graças à visão de Scott que, no estrito âmbito da ficção científica criaria a obra-prima do género "Blade Runner", adaptando a novela de Philip K. Dick "Do Androids Dream of Electric Sheep?". Um misto de filme negro e o tema recorrente na ficção científica, a revolta da máquina contra o homem, diga-se o seu criador, em que o humano já duvida da sua natureza, interrogando-se se não será ele próprio um "replicant". Afinal "who wants to live forever?".

Ora, será um pouco através da procura das origens de Alien que Scott revisita Blade Runner, em busca do princípio da vida na agora estreada precuela de Alien, "Prometheus". Depois de descoberto um mapa alienígena que estabelece as relações de diversas civilizações ao longo de várias épocas da vida da Terra, a nave Prometheus e a sua equipa de cientistas é enviada aos confins do universo em busca da raça que lhes deu origem e onde descobrirão a resposta às questões mais importantes sobre a vida. Com Noomi Rapace, Michael Fassbender e Charlize Theron, o grupo de cientistas terá descoberto o grande segredo da criação da vida, mas depara-se também com a maior ameaça à sua extinção. Não vi ainda o filme mas pelos relatos o fim é de molde a que apareça uma sequela. Vamos esperar, porque Ridley Scott já tem em preparação um novo filme, "The Counselor", com Michael Fassbender, Brad Pitt e Penelope Cruz, entre outros, para estrear em 2013.

De um realizador que nos habituou a grandes obras, para além das já citadas, "Thelma e Louise", um road movie inebriante, "A Lenda da Floresta" ou "Hannibal" e mesmo "Chuva Negra", uma incursão pelo universo Yakuza, ou "O Gladiador", misturadas com alguns momentos menos bons, esperamos sempre o melhor.

Até lá, e bons filmes!

Luís Dinis da Rosa
 
 
Edição Digital - (Clicar e ler)
 
 
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