Ágata Roquette, nutricionista
Fazer dieta não é nenhum 31
Sugere dietas, mas o seu último ano foi gordo. Os
pedidos de consultas e os livros vendidos projetaram-na para um
inesperado mediatismo. Chama-se Ágata Roquette e é a nutricionista
que explica como emagrecer sem privar-se de nada. Ou quase nada. O
que é a Ágata tem?
Já
lhe chamam a «nutricionista da moda». Quais as razões que explicam
o sucesso dos dois livros editados até ao momento?
Os meus livros são escritos na
primeira pessoa e são para ser lidos como se os leitores estivessem
numa consulta em frente a um nutricionista. Tanto «A dieta dos 31
dias», como as «As regras de ouro» foram editados com o objetivo de
facilitar a vida de pessoas que são, por natureza, desorganizadas,
nomeadamente em relação à sua alimentação. Outro objetivo que
procurei concretizar foi o método das consultas quinzenais para o
livro, de forma a conferir mais realismo aos conselhos que são
dados.
As
pessoas procuram-na mais por motivos de saúde ou há uma grande
obsessão pelo corpo?
Eu diria que há um grande
equilíbrio nos motivos da procura. No meu caso pessoal, penso que
50 por cento dos que recorrem aos meus serviços o fazem por razões
de natureza estética - como é o caso dos meus pacientes que vivem
na Linha do Estoril e como adoram praia, fazem tudo por perder 2 ou
3 quilos, apenas por vaidade. Mas a outra metade fá-lo por razões
de saúde, recomendadas por médicos de clínica geral. Também há o
caso das senhoras que aumentam de peso durante a gravidez e
constato, também, que se tem notado um grande incremento do número
de homens nas minhas consultas.
O
seu lema é que é possível perder peso, sem violentar demasiado o
dia a dia. Pensa que o termo dieta ainda está muito estigmatizado
entre nós?
Basicamente eu procuro passar a
mensagem que é possível fazer dieta sem passar fome. E procuro
desmistificar o conceito de rigidez associado à dieta, ao referir
que é possível ingerir, por exemplo, hambúrgers, ovo estrelado e
queijo gratinado, durante a dieta dos 31 dias. Por exemplo, não
acredito na dieta sem pão. Ele tem de existir ao pequeno almoço. E
sem dramas institucionalizo o chamado «dia da asneira», onde se
pode ultrapassar o risco.
No
seu mais recente livro, «As regras de ouro» descreve 50
dicas/receitas para emagrecer sem passar fome. Quais as mais
importantes que destacaria?
Primeiro que tudo há regras
negociáveis, mas há outras inegociáveis (hidratos de carbono fora
da alimentação, pelo menos ao jantar, por exemplo, arroz, pão,
massa, feijão e grão). Depois há estratégias para não estragar a
dieta e orientar a pessoa, nomeadamente o modo de compensar os
eventuais erros cometidos. De qualquer forma convém não dramatizar.
Se a dieta acontecer no verão não vem o mal ao mundo se for dada
uma "facadinha" com um gelado ou uma bola de Berlim na ida à
praia.
Esta dieta exige uma elevada dose de disciplina e querer
por parte de quem a pratica?
É preciso motivação. Visto que o
objetivo é perder peso, isso só depende da pessoa. Eu observo os
meus pacientes de quinze em quinze dias, o que faz com que eles se
sintam sempre acompanhados e, de algum modo, pressionados. Um dado
curioso que tenho constatado é que as pessoas que leram o livro
conseguem perder mais peso do que os meus pacientes das consultas.
Eu costumo dizer que é possível conseguir "fechar a boca" sozinho e
sem ajuda, mas estou em crer que é muito mais giro fazê-lo com
ajuda e um acompanhamento regular.
Dá
consultas de segunda a sexta no Estoril e em Lisboa. Sei que tem
uma média de 30 consultas diárias. O número de pacientes que a
procuram aumentou desde o lançamento do livro?
Sem dúvida. No meu consultório no
Estoril já tenho duas nutricionistas a trabalhar comigo, de forma a
responder às inúmeras solicitações. Há dias em que dou 12 horas de
consultas, outras apenas 6. Para amanhã tenho 48 consultas
marcadas, mas é um número absolutamente excecional e que só aceito
pela proximidade com o tempo de praia. Outro fator que pode
explicar o grande interesse das pessoas é que adotei uma preço
acessível para as minhas consultas. Como o tempo escasseia, criei
uma página no Facebook intitulada «A dieta dos 31 dias», onde com a
regularidade possível, procuro responder às questões mais
frequentes, quer através de posts, quer através de mensagens
privadas.
Teme
que estas suas regras e conselhos sejam confundidos com as dietas
mágicas?
Claro que não. Eu acredito piamente nesta dieta, até
porque são dietas já conhecidas tendo por base as chamadas dietas
proteicas ou semi proteicas. Limitei-me a fazer algumas variações,
adequadas à dieta portuguesa. Admito que os primeiros 3 ou 4 dias
sejam de grande sofrimento e de difícil adaptação, mas passada essa
fase inicial o organismo ganha inibição ao apetite. Está provado
que só por via da alimentação, ao longo dos 31 dias, uma mulher
pode perder entre 3 a 5 quilos, enquanto um homem pode ficar mais
magro entre 5 a 8 quilos.
A
dieta para surtir efeito deve ser acompanhada por exercício
físico?
Eu não obrigo os meus pacientes.
Até porque no exercício físico de ginásio, ganha-se músculo e
fica-se com muito apetite. Este tipo de exercício deve ser feito a
posteriori, para tonificar o corpo e ajustar ao peso pretendido.
Mas sou defensora de caminhadas regulares. Acho que têm efeitos
muito positivos.
Um
nutricionista deve ser visto também como uma espécie de psicólogo.
Acha que desempenha esses dois papéis clínicos
simultaneamente?
Psicologia e nutrição têm quase
tudo a ver. É preciso estar a atravessar uma fase boa. Um estado de
instabilidade mental não será aconselhado para começar uma dieta
desta natureza. Depende da fase da vida das pessoas, do stress do
trabalho, se existe tempo para estar na cozinha, etc.
Dá
consultas no local de trabalho a uma empresa de consultoria, em
Lisboa. A mensagem que lhes transmite é diferente da que passa aos
seus pacientes no consultório?
Eu dou consultas individualizadas
todas as sextas-feiras aos colaboradores dessa empresa que marcam
consulta, só que a única diferença é que é a empresa a pagar, visto
que tem um contrato de colaboração anual comigo. Creio que é um
«miminho» que os chefes dão para motivar os seus colaboradores. As
pessoas procuram conselhos sobre as práticas alimentares e também
alguns padecem de problemas de costas e de coluna devido ao tempo
excessivo que passam sentados à secretária.
Devia ser prática corrente nas empresas ter uma
nutricionista como se tem um gestor de recursos
humanos?
Creio que sim As empresas estão a
compreender que a saúde mental e física é determinante para uma boa
produtividade.
Os
portugueses, de uma forma geral, comem mal?
O peixe, o azeite e o bacalhau são
alimentos saudáveis e constituem a base da dieta mediterrânica dos
portugueses. Respondendo à sua pergunta, não há motivos culturais
para isso. O que acontece é que os problemas relacionados com
ansiedades e falta de controlo levam a comportamentos de gula e
distúrbios alimentares que têm reflexos no organismo.
Como vê a recente moda da marmita no local de
trabalho?
É uma boa moda e uma dieta ótima.
Consegue-se iludir a tentação da sobremesa, estimula a socialização
com colegas e sai incomparavelmente mais barato do que a ida ao
restaurante. Eu escrevi recentemente uma série de pequenos livros
para uma revista com dicas para almoços no trabalho para levar em
"tupperware" e que tiveram muito êxito. Numa clínica onde dou
consultas, em Lisboa, é muito frequente ver os colaboradores juntos
na copa a confraternizarem diante da refeição que confecionaram em
casa.
A
crise também já chegou às escolas. Sucedem-se as notícias de
crianças mal alimentadas fruto dos problemas financeiros das suas
famílias. De que forma a saúde destas crianças pode sofrer sequelas
com uma alimentação deficiente?
Sei de várias professoras que me
contam que muitos alunos vêm para as aulas da manhã com a barriga
vazia, o que necessariamente afeta o rendimento escolar. Os
hidratos de carbono são o alimento do cérebro e a sua ausência vai
dificultar a atividade cerebral e o modo de pensar. Da mesma forma
que as proteínas dão o necessário músculo a um organismo que se
quer resistente e forte.
As
cantinas escolares ainda são um obstáculo a uma alimentação
equilibrada por parte dos mais jovens?
Eu queria distinguir entre as
cantinas de escolas públicas e privadas. Nas primeiras há sempre
sopa, não há fritos, há fruta e uma sobremesa apenas uma vez por
semana. Nas privadas ainda continuam a persistir em muitos erros.
As batatas fritas são servidas e os refrigerantes estão à
disposição das crianças. Com dinheiro na mão, é muito difícil
evitar que consumam o que é mais tentador.
Deviam ser ensinadas regras de nutricionismo nas
escolas?
Acho que sim. As disciplinas de
alimentação saudável deviam fazer parte dos currículos, mas de
preferência com os pais presentes. Serve de pouco as crianças
aprenderem o que se deve comer e depois à noite, ao jantar, os pais
teimarem em erros crassos de alimentação.
A
obesidade é uma praga que vai afetando muitos jovens, especialmente
no mundo desenvolvido. Que quota parte de responsabilidades é que
podemos atribuir às cadeias de "fast food"?
Pode-se comer "fast food" uma vez
de 15 em 15 dias, no chamado «dia da asneira», mesmo para quem não
esteja em dieta. Até porque faz bem à alma. A diversificação dos
produtos apresentados, nomeadamente pela "McDonald's", passe a
publicidade, melhorou muito nos últimos anos, disponibilizando
sopas, sanduiches e saladas. Isto apesar de continuarem a figurar
nos menus os produtos mais emblemáticos. Por exemplo, ao comer um
"Big Mac" estamos a ingerir, mais o refrigerante e as batatas
fritas, para cima de 1000 calorias.
Se
pouco há a fazer quanto às tentações alimentares que nos rodeiam,
que medidas concretas, especialmente ao nível preventivo, podem ser
tomadas para combater a tendência para a obesidade nos
jovens?
Combate-se com uma alimentação mais
saudável e com muito desporto. Como disse, as tentações é que não
são fáceis de evitar. Eu vejo com os meus olhos que os alunos do
Liceu Francês, nas Amoreiras, em Lisboa, passam os almoços enfiados
numa conhecida cadeia de "fast food" mesmo em frente. É, pois,
muito difícil, manter ordem nestas cabeças, a menos que os pais
consigam a tarefa quase impossível de os controlar à hora do
almoço, quando estão distantes dos seus filhos. A identificação
juvenil é outro problema. Qual é o jovem que prefere comer um peixe
grelhado, quando todos os seus colegas optam pela comida
rápida?
Cara da Notícia
Dos 90 aos 58
quilos
Ninguém diria, mas Ágata Roquette já pesou 90
quilos. Quando deixou a patinagem a balança indicava 58 quilos. Os
distúrbios alimentares e muitos disparates depois, atingiu o que
considerou ser o ponto de viragem. Falhou muitas tentativas de
perder peso, mas o pedido de casamento do marido, em 2007, fê-la
prometer que chegaria ao dia da boda em plena forma. E
conseguiu.
Não entrou em medicina dentária e
seguiu a via da nutrição. É licenciada em Ciências da Nutrição e
Engenharia Alimentar pelo Instituto Superior das Ciências da Saúde
- Sul. Hoje é autora de livros que são lidos por dezenas de
milhares de portugueses e presença assídua em programas de
televisão. Primeiro foi «A dieta dos 31 dias», em 2012. Já este ano
editou «As regras de ouro de Ágata Roquette», ambos com a chancela
da Esfera dos Livros.
Mesmo com o mercado livreiro em
crise, os seus livros estão invariavelmente no top dos mais
vendidos. O primeiro vendeu 40 mil exemplares, foi editado em
Espanha com sucesso, e este para lá caminha. São um fenómeno de
popularidade, como a jovem nutricionista, de apenas 31 anos.
Nuno Dias da Silva
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