Quatro Rodas
A queda da ponte
Em 4 de março de 2001, às 21:15 horas, deu-se o
colapso da Ponte Hintze Ribeiro, que fazia a ligação entre Castelo
de Paiva e a localidade de Entre-os-Rios. Foi uma tragédia
nacional, que culminou com a morte de 59 pessoas. Quase de imediato
o ministro da tutela assume "a responsabilidade política" da
ocorrência e apresenta a "demissão irreversível" do cargo de
ministro que ocupava.
Lembro-me que Jorge Coelho estava
no lugar há menos de seis meses. Seria por isso, e de facto, das
pessoas que, naquele ministério, menos culpa teria no processo que
teve este trágico final.
Quando se ocupam lugares públicos
há que tirar elações das situações que nos vão ocorrendo e em casos
como este, manda a dignidade que se tomem decisões, proporcionais
às situações.
Vem esta introdução a propósito do
surpreendente documento que me chegou às mãos em anexo a um
comunicado da Mesa da Assembleia Geral da FPAK (federação de
automobilismo). Relembro no entanto que há algumas semanas o
presidente da instituição faleceu, abrindo-se automaticamente um
período eleitoral. Talvez na sequência deste acontecimento aparece
este documento que se chama "Resumo Executivo do Trabalho de
Auditoria Executado"… a pedido da direção, pelo que se pode ler
mais à frente. Pelo título é só um resumo, e de pouco mais de uma
página, mas parece ser o suficiente para se concluir que nos
últimos anos, naquela casa, as trapalhadas com o dinheiro foram
muitas. Isto é o que concluo da leitura de um texto elaborado por
especialistas (ROC), mas lido por um não especialista. Noto ainda
alguma preocupação do "resumo", em ilibar os restantes diretores,
fazendo recair sobre o falecido presidente a responsabilidade
destas trapalhadas.
Perante esta situação o que
deveriam então fazer os atuais diretores? À semelhança do que
aconteceu com Jorge Coelho, e uma vez que o "resumo" até os parece
ilibar, talvez afastarem-se dos lugares que ocupam, aceitando assim
a "responsabilidade política" de terem estado numa direção onde
aparentemente o presidente teve algumas atitudes difíceis de
qualificar. Assim mostrariam o seu desapego ao poder,
proporcionando a continuação das averiguações, sem a sua
interferência. Se efetivamente não têm nada a temer, então só têm
que deixar o caminho livre para uma clara averiguação, pois estamos
a tratar de uma instituição a quem foi atribuído o estatuto de
utilidade pública desportiva e que representa o nosso País nas
instituições internacionais do automobilismo, e por isso tem de ser
irrepreensível nos que respeita a este tipo de suspeitas.
Esta situação está a proporcionar
já o aparecimento de alguns nomes como futuros candidatos à
presidência da instituição, mas neste momento são só intenções,
pois não havendo ainda convocatória para as mesmas (estranhamente
diga-se), até se pode concluir que não se está verdadeiramente em
período eleitoral.
Espero pois que os alegados
candidatos a candidatos que ainda fazem, ou fizeram parte da atual
direção tenham a clarividência de não aparecer neste processo
eleitoral e se colocarem à disposição de quem irá aprofundar as
averiguações, colaborando com as mesmas de espontânea vontade.
Só assim poderemos deixar para trás
a ponte que caiu e começar a construir uma nova ponte mais robusta,
que todos os desportistas ligados ao automobilismo possam usar em
segurança e com orgulho.
Um confronto eleitoral em que
entrem pessoas da atual direção, vai trazer à discussão pública
assuntos que poderiam ser resolvidos dentro da instituição. Devemos
pois evitar isso porque, ganhe quem ganhe as futuras eleições, irá
certamente atrasar a construção da nova ponte (leia-se FPAK),
dificultando assim o aparecimento daquela obra, de que todos nos
queremos orgulhar.
Ainda estamos a tempo de escolher o
melhor caminho.