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Quatro Rodas
A queda da ponte

Paulo AlmeidaEm 4 de março de 2001, às 21:15 horas, deu-se o colapso da Ponte Hintze Ribeiro, que fazia a ligação entre Castelo de Paiva e a localidade de Entre-os-Rios. Foi uma tragédia nacional, que culminou com a morte de 59 pessoas. Quase de imediato o ministro da tutela assume "a responsabilidade política" da ocorrência e apresenta a "demissão irreversível" do cargo de ministro que ocupava.

Lembro-me que Jorge Coelho estava no lugar há menos de seis meses. Seria por isso, e de facto, das pessoas que, naquele ministério, menos culpa teria no processo que teve este trágico final.

Quando se ocupam lugares públicos há que tirar elações das situações que nos vão ocorrendo e em casos como este, manda a dignidade que se tomem decisões, proporcionais às situações.

Vem esta introdução a propósito do surpreendente documento que me chegou às mãos em anexo a um comunicado da Mesa da Assembleia Geral da FPAK (federação de automobilismo). Relembro no entanto que há algumas semanas o presidente da instituição faleceu, abrindo-se automaticamente um período eleitoral. Talvez na sequência deste acontecimento aparece este documento que se chama "Resumo Executivo do Trabalho de Auditoria Executado"… a pedido da direção, pelo que se pode ler mais à frente. Pelo título é só um resumo, e de pouco mais de uma página, mas parece ser o suficiente para se concluir que nos últimos anos, naquela casa, as trapalhadas com o dinheiro foram muitas. Isto é o que concluo da leitura de um texto elaborado por especialistas (ROC), mas lido por um não especialista. Noto ainda alguma preocupação do "resumo", em ilibar os restantes diretores, fazendo recair sobre o falecido presidente a responsabilidade destas trapalhadas.

Perante esta situação o que deveriam então fazer os atuais diretores? À semelhança do que aconteceu com Jorge Coelho, e uma vez que o "resumo" até os parece ilibar, talvez afastarem-se dos lugares que ocupam, aceitando assim a "responsabilidade política" de terem estado numa direção onde aparentemente o presidente teve algumas atitudes difíceis de qualificar. Assim mostrariam o seu desapego ao poder, proporcionando a continuação das averiguações, sem a sua interferência. Se efetivamente não têm nada a temer, então só têm que deixar o caminho livre para uma clara averiguação, pois estamos a tratar de uma instituição a quem foi atribuído o estatuto de utilidade pública desportiva e que representa o nosso País nas instituições internacionais do automobilismo, e por isso tem de ser irrepreensível nos que respeita a este tipo de suspeitas.

Esta situação está a proporcionar já o aparecimento de alguns nomes como futuros candidatos à presidência da instituição, mas neste momento são só intenções, pois não havendo ainda convocatória para as mesmas (estranhamente diga-se), até se pode concluir que não se está verdadeiramente em período eleitoral.

Espero pois que os alegados candidatos a candidatos que ainda fazem, ou fizeram parte da atual direção tenham a clarividência de não aparecer neste processo eleitoral e se colocarem à disposição de quem irá aprofundar as averiguações, colaborando com as mesmas de espontânea vontade.

Só assim poderemos deixar para trás a ponte que caiu e começar a construir uma nova ponte mais robusta, que todos os desportistas ligados ao automobilismo possam usar em segurança e com orgulho.

Um confronto eleitoral em que entrem pessoas da atual direção, vai trazer à discussão pública assuntos que poderiam ser resolvidos dentro da instituição. Devemos pois evitar isso porque, ganhe quem ganhe as futuras eleições, irá certamente atrasar a construção da nova ponte (leia-se FPAK), dificultando assim o aparecimento daquela obra, de que todos nos queremos orgulhar.

Ainda estamos a tempo de escolher o melhor caminho.

Paulo Almeida
 
 
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