Universidade
UBI afirma-se em novos mercados
A Universidade da
Beira Interior (UBI) tem feito uma forte aposta na
internacionalização. A comunidade de alunos estrangeiros no seio da
academia já é grande. António Fidalgo, em entrevista ao Ensino
Magazine fala dessa aposta, mas aborda também outras questões
importantes como o subfinanciamento das instituições de ensino
superior.
O
subfinanciamento do ensino superior tem sido uma das suas
preocupações. O que deve ser feito para alterar essa
situação?
Temos que chegar a uma
fórmula que permita às universidades uma previsibilidade das
receitas e de dotação orçamental. Estas alterações contínuas não
são positivas, têm havido ajustamentos que significam mais cortes,
pelo que era importante chegarmos a um patamar de estabilidade e,
depois, haver uma distribuição equitativa pelas diferentes
instituições.
A
internacionalização tem merecido uma forte aposta da UBI. Cada vez
são mais os alunos estrangeiros que procuram a instituição. Só
alunos brasileiros são quase 200...
Não são só alunos
brasileiros. A internacionalização da instituição tem sido um
aspeto que temos trabalhado com sucesso. Temos aumentado o número
de estudantes estrangeiros e hoje temos mais de 10% de alunos
estrangeiros. Isto é importante porque a previsão é que o número de
estudantes nacionais baixe. Nós temos capacidade instalada, neste
momento estudam na UBI mais de sete mil alunos. Gostaríamos de
manter esses números ou até mesmo subi-lo, mas isso só será
possível através da vinda de estudantes
internacionais.
Referiu que havia alunos de outras nacionalidades para além
da brasileira, quais são?
O estatuto do estudante
internacional só saiu no ano passado. O nosso mercado é o dos
países de língua portuguesa. Temos alunos angolanos e também de
Cabo Verde. A UBi já tem um grande historial nesta matéria, estamos
a trabalhar com antigos alunos desses países , explorando o ativo
que são esses alunos, para que possam ser uma comunidade de
referência para a captação de novos estudantes. É nisso que estamos
a apostar, para que possamos aumentar o número de alunos
estrangeiros na nossa instituição.
Esse
recrutamento é feito para os cursos de licenciatura, ou também para
mestrados e doutoramentos?
É para os três ciclos de
estudo. Nas licenciaturas houve uma forte aposta, mas o crescimento
mais elevado registou-se nos mestrados e doutoramentos. Em
2013/2014 recuperámos da quebra do ano anterior, e neste momento
estamos numa fase ascendente, pelo que acreditamos que o número
venha a subir.
Os
alunos portugueses candidatos ao ensino superior são cada vez
menos. É complicado inverter estes números?
Nos próximos anos essa quebra
vai acentuar-se. A demografia é a grande dificuldade das
instituições de ensino superior.
O
programa + Superior pode ser um bom instrumento para as
instituições de ensino superior captarem novos alunos?
Acredito que sim. Este ano
vem mais a tempo. No ano passado a medida foi positiva, mas só se
teve em consideração as notas de entrada. Isto fez com que os
alunos beneficiados fossem os daqueles cursos que à partida nós
tínhamos as vagas preenchidas, casos de medicina e engenharia
aeronáutica. Este ano são as próprias instituições que indicam
quais os cursos que podem receber essas vagas do + Superior. Ainda
assim no ano passado tivemos 80 bolsas, mas acabámos por atribuir
100, pois houve outras instituições que não aproveitaram todas as
suas vagas.
Ainda
em relação ao alunos, uma das suas apostas era ter a academia
aberta 24 horas por dia. Isso já acontece?
Já tínhamos a UBI aberta aos
fins-de-semana. Com a concessão do bar da Biblioteca, conseguimos
ter as salas de estudo abertas aos sábados e domingos, e neste
momento temos uma sala aberta 24 horas por dia. A adesão tem sido
boa e vai marcar a universidade.
Como
é que tem sido a relação entre a equipa reitoral e a Associação
Académica?
É muito forte. Há uma
estreita relação entre a reitoria e a associação
académica.
A
investigação é outro eixo estratégico. O UBImedical pode ser um
instrumento de excelência?
Com certeza. Nós
tivemos a agradável notícia de que houve projetos vencedores no
programa comunitário H2020, sendo um deles de 7,2 milhões de euros,
e em que a UBI é líder. São concursos muito competitivos a nível
europeu. E a UBI tem tido uma taxa de sucesso muito boa.
E tem
havido uma forte ligação ao tecido empresarial?
Neste momento está a haver
muita ligação, através da vice-reitoria e da reitoria. Temos tido
essa ligação, por exemplo com a Celtejo e outras empresas. A ideia
é submeter projetos comuns à Comissão de Coordenação e
Desenvolvimento Regional do Centro. Mas estamos atentos a outras
parcerias. Há um acordo privilegiado com a PT, que por força das
circunstâncias da empresa está algo suspenso, mas no qual estamos a
trabalhar para que essa parceria possa avançar. De qualquer modo, o
centro de competências que estava previsto está em
andamento.
Quando é que o UBImedical estará a funcionar em
pleno?
Está a funcionar e já
justifica uma ; visita. Temos várias empresas a trabalhar nesse
espaço, de gente muito jovem. Temos tido uma adesão muito grande de
novos projetos na área de confluência da medicina e
informática.
O
Governo quer mexer no regime dos consórcios. O que lhe parece a
proposta da tutela?
O próprio Conselho de
Reitores (CRUP) foi muito crítico de forma unânime. Até porque esta
proposta vai contra o único consórcio que existe que é o da UNorte.
Há também o interesse das universidades do centro, em colaboração
com a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro
(CCDRC), em fazerem um consórcio. Mas os consórcios já estão
previstos no REGIES, pelo que não há necessidade de legislar sobre
isso. A UBI, Universidade de Aveiro e Universidade de Coimbra temos
reunido com regularidade na CCDRC. Há muitas parcerias a
estabelecer e vontade de o fazer.
Assumiu as funções de reitor há quase dois anos. Que balanço
faz do trabalho desenvolvido?
Penso que a UBI se
desenvolveu no seguimento do que já vinha sendo uma tradição na
instituição, ou seja dentro de uma gestão muito parcimoniosa, de
tal maneira que nós somos das instituições de ensino superior mais
robustas, no sentido de conseguirmos funcionar com menos dotação
orçamental. A UBI é a universidade em que as fórmulas, que estão a
ser propostas, nos dão direito a maior financiamento por parte do
Estado do que estamos a receber. Mas tudo isto é feito à custa de
muitos sacrifícios e de cortes que lesam a instituição. Para
concorrermos a fundos comunitários tem que qualificar o seu pessoal
docente e ter equipas de capacitação. Por isso temos a necessidade
de elaborar bons projetos, o que se faz com equipas qualificadas. E
os docentes têm feito um grande esforço, têm que trabalhar mais,
pois temos apresentado muitas candidaturas.
Neste momento a UBI tem- -se
desenvolvido nas duas áreas chave - ensino e investigação. A
Universidade, apesar de todas as dificuldades, tem vindo a fazer um
grande esforço de financiamento. No ano passado conseguimos quatro
milhões de euros em projetos. Este ano há mudança de quadro
comunitário, mas continuamos num percurso de solidez.