Entrevista

Um caso de sucesso entre os jovens portugueses
Feromonas, o YouTuber português

feromonas2.JPGMiguel é o nome próprio. Campos o apelido. Mas todos os "fenoninhos" o conhecem por "Feromonas". Uma entrevista "fenonástica" para ler do princípio ao fim.

Miguel Campos para os mais próximos, mas o resto do mundo conhece-o por "Feromonas". Como lida com esta dupla personalidade?

Considero que "Feromonas" é uma das minhas vertentes, como pessoa. Comecei de forma introvertida, como sempre fui, e cresci, ganhei confiança, fruto do êxito e da aceitação do meu trabalho como YouTuber. Tudo isso foi um processo gradual que fez com que aumentasse o meu leque de público que diariamente assiste aos meus vídeos. Foi, se quiser, uma bola de neve que cresceu e que teve como consequência a melhoria e o aperfeiçoamento dos conteúdos que produzo.

É uma pergunta inevitável, como surge este nickname ou nome artístico: "Feromonas"?

Foi algo súbito e ao mesmo tempo interessante. Inicialmente na internet eu era conhecido por "Fenomenal", que era uma habilidade num jogo online que eu jogava. Eu tinha um amigo meu que era o Jeans, que achava esse nome vulgar e presunçoso, e começou a chamar-me vários tipos de nomes começados pela letra «F». Dá para imaginar, não é? Até que um dia surgiu o "Feromonas". Não fazia ideia do que era, mas soou- -me bem e acabou por ficar.

O seu canal no YouTube apresenta números impressionantes:  quase 3  milhões de subscritores e mais de 400 milhões de visualizações.  Sente satisfação e estupefação ao mesmo tempo pela dimensão estatística?

Sem dúvida, é impressionante. Isso deve-se especialmente ao grande apoio da comunidade portuguesa e, claro, também da comunidade brasileira ao trabalho que eu tenho vindo a desenvolver ao longo dos anos. É super gratificante.

Os seus fãs estão em grande parte no Brasil?

Sim, praticamente metade. A comunidade portuguesa cresceu p'ra caramba nos últimos tempos, mas isso também se deve ao grande salto que dei para captar o interesse do público no meu país, tanto nos vídeos que produzo no canal, como nos filmes em que tive oportunidade de participar.

Qual a diferença entre os público dos dois países?

Basicamente nenhuma. A recetividade é muito idêntica. Tanto os portugueses como os brasileiros gostam de se divertir com algo que seja hilariante.

Quantas horas trabalha por dia nos seus vídeos?

A média é demorar 4 a 6 horas por vídeo e eu costumo fazer dois vídeos por dia. Tem sido um trabalho completo e em contínuo, que se tem focado muito no "gaming", que é a parte com a qual eu mais me identifico. Também procuro participar em eventos internacionais para aprender com novas experiências e procurar mostrar o meu trabalho além-fronteiras.

Considera que integra o grupo de poucos portugueses que se dá ao luxo de fazer o que gosta e ainda por cima ainda lhe pagam por isso?

Sim, sem dúvida. É completamente verdade. É a minha praia. Nunca pensei chegar onde cheguei e que me pagassem por aquilo que faço.

YouTuber é mais do que uma profissão, um hóbi que dá dinheiro?

É mesmo isso. Mas quero recordar que quando comecei, há seis anos, estive três anos a zero em termos de receitas. Fazia mesmo por carolice. Era o meu hóbi. Adorava ir ao YouTube e aprender com os que produziam conteúdos com o único objetivo de alegrar os outros. Neste momento, é a minha profissão e ao mesmo tempo um hóbi, que diverte os outros e a mim e me permite ganhar algum dinheiro.

O target principal do seu público cifra-se entre os 7 e os 14 anos, que são aqueles a que chama os "fenoninhos" e "fenoninhas". Que cuidados e cautelas tem na mensagem que transmite para um público numa fase crucial de crescimento e formação de personalidade?

Fico super contente quando os pais se dirigem até mim e dizem: «excelente trabalho!». Elogiam o registo de língua cuidado, o nível de responsabilidade dado o público-alvo, etc. No fundo, reconhecem que é possível fazer uma espécie de comédia, ou seja, divertir, sem ofender e sem dizer asneiras. Nós, de certa forma, somos influenciadores da palavra e é fundamental que tenhamos noção do alcance do que dizemos e do que fazemos.

O YouTube foi a plataforma que o lançou para o topo. Com o evoluir da tecnologia e das plataformas associadas, o YouTube poderá ser, dentro de alguns anos, espelho do mundo, com maior número de visualizações e espectadores do que os próprios canais de televisão?

Acredito que sim. Estou super confiante nesse trajeto.  Portugal apanha muitas "trends" americanas, para bem ou para mal, e creio que antes de chegar cá, esse percurso vai acontecer primeiro nos Estados Unidos e noutros países na vanguarda das novas tecnologias. Portugal vai acabar por tomar o mesmo caminho, mas acredito que ainda vá demorar alguns anos. Acho que já sou considerado um dos pioneiros do YouTube em Portugal, especialmente pelo contributo que dei para tornar esta ferramenta um veículo privilegiado para as marcas se promoverem.

Tem 24 anos, está a estudar redes de comunicações e quer ser engenheiro informático. Tem tempo para conciliar os estudos e esta atividade que lhe ocupa 365 dias por ano?

Hoje em dia é cada vez mais complicado. Decidi dedicar-me, quase a tempo inteiro, ao YouTube, o que permite tempo apenas para realizar exames e frequências. Quero continuar focado no que faço profissionalmente, até porque sei que é uma paixão que vai durar muitos anos, mas também estou ciente que é importante, mais tarde ou mais cedo, concluir o meu curso na universidade. Até porque é uma área que me diz muito, visto que gosto de jogar vários jogos que são baseados em servidores e hoje em dia poder utilizar conhecimentos e habilidades que aprendi na faculdade - para além dos outros que continuo a aprender como auto-didata - vai ser de grande utilidade no futuro.

Não esconde o seu gosto pela vertente de entertainer que esta atividade lhe permite. Onde é que os seus sonhos lhe dizem que pode estar quando tiver 30 anos?

Muitas pessoas dizem- -me logo que o passo seguinte é passar para a televisão. Não acho nada. Quero ficar no YouTube até quando sentir que estou a produzir conteúdo divertido e que diverte os outros, mas não escondo que gostaria de abrir outras portas, como, por exemplo, fazer voice-acting, dar voz a personagens, tanto em filmes de animação, como em jogos.

Finalmente, em relação ao país que o viu nascer e presumo queira dar o seu melhor ao longo da sua vida. Que fórmula "fenonástica" é que Portugal precisa para sair na crise em que mergulhamos?

Com o que foi feito nos últimos quatro anos, com o governo Passos Coelho, estava-se a ver que Portugal estava a sair da crise.  Não tenho dados concretos que me permitam dizer o que está a acontecer agora com o governo de António Costa, mas independentemente disso, creio que o nosso país vai ter muita dificuldade em sair do poço em que caiu a nossa economia. Apesar disso, acho que estamos a ir pelo caminho certo e o pior já passou. Mas a recuperação será lenta.

As pessoas com aptidões e qualificações acima da média, como é o seu caso, têm tendência a ser convidadas para projetos internacionais. Admite que o seu futuro a curto prazo pode ser lá fora?

Com a melhoria da economia era previsível que mais microempresas e mais postos de trabalho fossem criados, mas não creio que nos quatro anos se vá ver uma tendência de crescimento significativa para grandes oportunidades internamente na minha área de trabalho. Portanto, nos tempos mais próximos creio que se tivesse uma oportunidade a não desperdiçar seria, certamente, no estrangeiro.

Enquanto não surge essa oportunidade, é continuar no YouTube e aumentar a participação no voice-acting que estão nos seus projetos imediatos?

Sem dúvida. Quanto ao canal posso prometer aos que me acompanham que vai continuar a ter conteúdos, todos os dias do ano, dia de Natal incluído, até porque normalmente nessas alturas festivas aumenta o pico de visualizações.

Nuno Dias
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Edição Digital - (Clicar e ler)
 
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