Universia 2018
Reitores aprovam Declaração de Salamanca
O Ensino Magazine acompanhou o IV Encontro
Internacional de Reitores da Universia. Uma iniciativa que
representou cerca de 10 milhões de alunos de todo o mundo e que
permitiu discutir e analisar o ensino superior, o seu futuro e os
desafios que universidades e politécnicos têm pela frente. No final
foi publicada a Declaração de Salamanca, que aqui reproduzimos na
íntegra, como documento conclusivo do encontro:
"O IV Encontro Internacional de Reitores da Universia, realizado
em 21 e 22 de maio de 2018 em Salamanca no
8.º centenário da sua Universidade
e com o slogan Universidade, Sociedade e Futuro, permitiu a mais de
700 reitores e representantes académicos de 26 países refletirem
juntos na Universidade do século XXI num momento de profunda
mudança e o seu papel fundamental no desenvolvimento social.
Durante dois dias, os participantes puderam participar em 13 mesas
de debate sobre temas estratégicos, como formação e aprendizagem,
perante o impacto da transformação digital, transferência de
conhecimento e
P&D&I no horizonte de 2030,
promovendo Empreendedorismo ou a empregabilidade de graduados
universitários, entre outros tópicos, e demonstrou a grande
responsabilidade que as universidades têm nesse contexto.
O efeito da revolução tecnológica já está aqui e
muitos setores estão a sentir o seu impacto. O Ensino Superior não
é a exceção e as diversas tendências tecnológicas e sociais têm o
potencial de transformar o modelo educacional e operacional das
universidades.
Os debates que ocorreram em Salamanca em 2018 apontam algumas
ações e programas especialmente relevantes para as universidades,
tais como: flexibilizar e aplicar métodos educativos inovadores e
repensar os processos organizacionais, administrativos e de
sustentabilidade; criar alianças, cursos e certificações com
empresas de diferentes setores; modelos de certificação novos e
alternativos e integração com plataformas globais; ofertas
formativas híbridas e programas de formação e atualização no local
de trabalho, no âmbito de uma formação adaptada às necessidades do
aluno e que se prolonga ao longo da vida; novos títulos, em
especial títulos relacionados com as ciências da computação, a
inteligência artificial, a ciência dos dados e a tecnologia; e
maior ênfase na educação humanística, bem como nas competências
transversais dos alunos.
As universidades são sinónimo histórico de geração de conhecimento
e pilares essenciais e insubstituíveis do progresso científico. A
investigação e a formação de investigadores devem continuar a ser
uma das marcas da Universidade. No entanto, a maneira de fazer
investigação mudou e as universidades devem adaptar-se a ela.
Por um lado, existem outros órgãos, públicos e privados, que são
hoje agentes ativos na investigação. A universidade deve interagir
e colaborar com eles. Por outro lado, a sociedade deve perceber,
tanto a nível local e regional em que a Universidade está inserida,
como a nível global, e numa realidade em que o conhecimento não tem
fronteiras, que a investigação das universidades aporta valor. Ou
seja, utiliza os seus recursos e a sua autonomia para o estudo, em
liberdade e a serviço dos interesses gerais, dos problemas que
afetam e preocupam a sociedade.
A Universidade deve fazer um esforço para informar e explicar o
que faz, porquê e para quê. Para tal, a investigação deve ser
aberta, participativa e colaborativa, o que requer a revisão dos
paradigmas de financiamento e avaliação de universidades e
investigadores.
Por fim, a investigação deve ser interdisciplinar e abranger todas
as áreas, dando especial atenção a um equilíbrio harmonioso e
sustentável entre os avanços tecnológicos e científicos,
especialmente os mais disruptivos e os valores humanos.
Os debates realizados sobre a contribuição das universidades para
o desenvolvimento social e territorial revelam a existência de
profundas desigualdades nas nossas sociedades. As universidades
refletem essas desigualdades e não podem eliminá-las por si só, mas
podem e devem ser uma parte importante da sua solução, sendo
exemplos de equidade e diversidade e atuando como agentes
transformadores do sistema económico e social.
Para isso, precisam de fortalecer as colaborações com diferentes
setores da sociedade, incluindo, entre outros, a iniciativa
privada, as comunidades locais, os meios de comunicação, a classe
política e as organizações não-governamentais, bem como outras
universidades.
Devem também fazer uma reflexão estratégica perante os Objetivos
de Desenvolvimento Sustentável, no marco de uma política
universitária de cooperação social, que deve necessariamente
incluir aspetos de acesso, equidade, internacionalização e espírito
inovador e empreendedor.
Consequentemente, a autorreflexão é essencial, a busca constante
de boas práticas e novas ideias, e a disposição de se adaptar e
mudar, para continuar a contribuir de forma contundente para o
desenvolvimento social e territorial.
Em conclusão, um contexto de mudança acelerada e constante, que
coloca à nossa sociedade do conhecimento desafios transcendentais,
como o crescimento equitativo e sustentável, requer uma
Universidade que seja capaz não apenas de se adaptar, mas de
liderar a mudança. Isso requer configurar a própria estratégia
institucional para cumprir um papel relevante na construção de um
futuro melhor, tanto para as comunidades em que está inserida como
para a sociedade como um todo, sendo as alianças entre
universidades e a colaboração com outros agentes decisivas, com o
objetivo comum de melhorar a qualidade de vida das pessoas. O
desenvolvimento de uma cidadania crítica, ética e capaz é e
continuará a ser tarefa insubstituível da Universidade; a criação,
transmissão e transferência de conhecimento que permita enfrentar
os desafios supracitados; e defender o papel da educação como
instrumento decisivo para o futuro dos povos e
territórios".