Primeira Coluna
Preparar o futuro com os jovens
A Conferência Mundial de Ministros
Responsáveis pela Juventude e o Fórum da Juventude "Lisboa +21"
juntaram, em Lisboa, nos passados dias 22 e 23 de junho, cerca de
uma centena de delegações, de todo o mundo, responsáveis por aquela
área, tendo colocado os jovens no centro do debate. António
Guterres, Secretário Geral das Nações Unidas, encerrou os trabalhos
e reconheceu que a sua geração "falhou numa resposta apropriada ao
desafio da emergência climática, e as crianças nas escolas
perceberam melhor o desafio que muitos líderes e, em alguns casos,
já estão a fazer a mudança".
António Guterres reforçaria aquela ideia, à saída de um evento que
21 anos depois voltou a ser realizado em Portugal, numa declaração
partilhada pela Agência Lusa: "há que reconhecer que os dirigentes
políticos da minha geração não têm estado à altura dos desafios do
nosso tempo e isso é particularmente grave nas alterações
climáticas. É muito reconfortante para mim ver que são hoje os
jovens que assumem a liderança e que, espero, possam levar os
dirigentes políticos da minha geração a colocar-se do lado certo da
história".
A questão das alterações climáticas tem merecido por parte dos
jovens iniciativas de afirmação, como aconteceu, embora de forma
tímida ainda, com as greves realizadas pelos alunos do ensino
básico e secundário em Portugal, no último mês. As palavras de
António Guterres darão certamente outro eco à premente necessidade
de se olhar para esta matéria à escala global, sem fanatismos, mas
com ações concretas, envolvendo todos os países. Os jovens
perceberam essa necessidade e a sua irreverência poderá ser
importante nesta e noutras matérias que foram discutidas durante
dois dias em Lisboa.
É neste sentido que surge a Declaração "Lisboa +21", em que os 50
ministros e 120 delegações de juventude presentes nesta Conferência
Mundial, se comprometeram a promover e fortalecer políticas
nacionais com base no Programa de Ação Mundial para a
Juventude, tendo em conta a Agenda 2030 para o Desenvolvimento
Sustentável. Neste documento, além das questões ambientais,
reforça-se a necessidade de se erradicar a pobreza e as
desigualdades, bem como a promoção à educação e igualdade para
todos os jovens.
O envolvimento dos jovens na discussão destas matérias, mas
sobretudo no colocar destes assuntos na agenda política, é algo que
deve ser perseguido. Neste processo, devem existir
responsabilidades, exigências partilhadas e bom senso na
implementação de medidas, sem extremos nem exageros. Os mais novos
estão mais recetivos a estas questões, fruto de um trabalho que
também começou nas escolas, de sensibilização, de alerta e de
esclarecimento. São as novas gerações que muitas vezes conduzem as
mais velhas a percorrerem um caminho mais sustentável. Mas também
são as novas gerações que mais sentem as injustiças numa lógica
comunitária e individual, em que nem sempre os direitos e deveres
são iguais para todos. Como referiu o Ministro da Educação, nesta
Conferência Mundial, "são os jovens que transmitem à geração
seguinte as premências do seu tempo".
A questão é, porém, complexa. Exige de todos o melhor, num mundo
mais globalizado, onde a população mundial atingiu recordes (somos
mais que nunca em todo o mundo), em que as redes sociais
transformam o pensamento e potenciam o conflito, às vezes de forma
cega. Neste contexto nunca devemos perder a história e o passado, o
rigor do que se diz e do que se deseja. Só dessa forma o mundo pode
ser melhor, afastando realidades afetas a pensamentos intolerantes
e fanáticos que mais não trazem do que violência. As gerações mais
jovens devem, por isso, assumir uma irreverência responsável e
séria, para que as suas ideias e reivindicações não possam ser
vistas apenas como protestos fundamentados no porque sim ou no
porque não. Da parte das Nações Unidas há abertura para que as
gerações mais novas sejam envolvidas e ouvidas. E isso é uma
oportunidade para todos.