Editorial
Eis um dos pilares da democracia
Já referimos, em diferentes momentos,
que a escola pública é a maior conquista educacional da sociedade
portuguesa das últimas três décadas. Uma escola democrática,
inclusiva, de todos e para todos, que valoriza a cidadania, a
aprendizagem, a formação e a educação de crianças e jovens.
É uma realidade que se tem vindo a construir dia a dia, com muito
esforço e sacrifício de toda a comunidade escolar, porque é um
princípio por que vale a pena lutar, já que fortalece a democracia
e a construção de um mundo com mais harmonia e mais respeito pela
natureza e pela pessoa humana.
Os professores estão de parabéns. Com a defesa da escola pública
têm dado, mais do que ninguém, um contributo inigualável para o
atenuar das desigualdades sociais e para a futura construção de um
Portugal, também ele menos desigual.
Conseguiu-se ainda pouco? Estamos a trabalhar para resultados que
apenas serão visíveis daqui a duas ou três gerações? Algumas
políticas educativas encheram o caminho de obstáculos difíceis de
ultrapassar?
É verdade: nas respostas a estas questões temos de dar o nosso
acordo. Todavia, isso não invalida que, mesmo os mais cépticos, não
reconheçam que as democracias europeias estão longe de poder
inventar uma outra instituição capaz corresponder, com tanta
eficácia, às solicitações sociais, quanto o faz ainda hoje a escola
pública de massas. Mesmo sabendo-se que há fenómenos, mais ou menos
recentes, que colocam em causa os pressupostos dessa mesma escola
pública, como o são o aumento da violência nas escolas, a
generalização do bullying (sobretudo o mais sagaz e traiçoeiro, que
é o que utiliza as redes sociais), o abandono e o insucesso
escolar, a reprodução das desigualdades dentro da comunidade
educativa, a incapacidade de manter currículos que valorizem para a
vida, a erosão das competências profissionais dos docentes,
acompanhada pela perda do seu estatuto remuneratório e
social.
Infelizmente, hoje a vida nas escolas é muito menos atraente para
quem nelas estuda e trabalha. Todos sabemos, ou julgamos saber,
como deve ser e o que deve ter uma escola pública que promova a
aprendizagem efectiva dos seus aprendentes e o bem-estar e a
profissionalidade dos seus formadores.
Não queremos uma escola que seja de baixa qualidade. Por isso,
sempre estivemos com todos quantos defendem os princípios
fundadores da escola democrática e inclusiva. Uma escola que seja
exigente na valorização do conhecimento e promotora da autonomia
pessoal. Uma escola pública, laica e gratuita, que não desista de
uma forte cultura de motivação e de realização de todos os seus
membros. Uma escola pública que, enfim, se assuma como um dos
pilares da democracia e como um dos motores da construção de um
país onde seja orgulhoso viver e conviver.
Formar a geração de amanhã não é tarefa fácil. Mas será certamente
inconclusiva se avaliarmos a escola e o trabalho dos professores
apenas segundo critérios meramente economicistas.
A escola é muito mais que isso: é filha de um outro espaço social
e de um outro tempo matricial. Por tudo isso, é importante que se
continuem a exigir políticas públicas fortes, capazes de criar as
condições para que essa escola democrática seja, de facto,
universal, gratuita e gratificante, e que se assuma, sem tibiezas,
que o direito ao sucesso de todos é um direito fundador da
Democracia e do Estado de Direito.