Investigação da Universidade de Aveiro
Matéria escura poderá ser uma relíquia da inflação
O inflatão, a partícula que poderá ter
sido responsável por um período de expansão extremamente rápido no
princípio do Universo designado por inflação, poderá também
constituir a matéria escura, cuja origem permanece desconhecida. A
teoria é assinada por uma equipa de investigadores da Universidade
de Aveiro (UA) que mostra, em particular, que esse cenário é uma
consequência natural dos cenários de inflação quente, em que o
Universo não arrefece drasticamente durante a inflação.
O trabalho, assinado por João Rosa
e Luís Ventura, cientistas do Departamento de Física e do Centro de
Investigação e Desenvolvimento em Matemática e Aplicações da UA,
foi publicado este mês na Physical Review Letters.
A teoria da inflação foi proposta
em 1981 pelo físico americano Alan Guth, postulando a existência de
uma nova partícula - o inflatão - que nas primeiras frações de
segundo da sua existência levou a que o Universo se expandisse
muito rapidamente, acabando por ficar extremamente uniforme, como o
observamos hoje.
Nos modelos convencionais de
inflação fria, a expansão rápida leva a que a temperatura do
Universo decresça muito rapidamente durante a inflação (tal como um
gás arrefece quando expande). No final deste período, os inflatões
transformam-se nas partículas que conhecemos, como o eletrão e o
fotão (partículas de luz), num processo semelhante ao decaimento
radioativo, e a energia assim libertada é usada para "reaquecer" o
Universo.
Nos modelos de inflação quente,
pelo contrário, os inflatões transferem energia para o plasma
cósmico sob a forma de calor, mantendo o Universo a uma temperatura
elevada, sem haver necessidade de o "reaquecer" no final. Apesar de
esta ideia ter mais de duas décadas, só em 2016 foi possível
desenvolver um modelo teórico apelativo para a inflação quente, num
artigo da coautoria do investigador João Rosa e também publicado na
revista americana Physical Review Letters.
No contexto deste modelo, a equipa
da UA mostrou pela primeira vez que os inflatões não se transformam
noutras partículas após o final da inflação, apenas interagindo
significativamente com outras partículas, incluindo os fotões, a
temperaturas suficientemente elevadas que o Universo só atingiu
durante a inflação. Isto significa que os inflatões não
desapareceram, apesar de não os conseguirmos ver visto a sua
interação com a luz ser hoje extremamente débil.