Doenças raras em Portugal
Os desafios de pais e filhos
Beatriz Santos e Cátia Ferreira,
estudantes de mestrado de Psicologia Clínica da Universidade de
Trás-Os-Montes e Alto Douro (UTAD), acabam de desenvolver uma
investigação acerca da vivência das figuras parentais com filhos
portadores de condição genética rara.
A investigação, coordenada pela docente e investigadora, Catarina
Pinheiro Mota, tentou perceber as questões da vinculação aos pais e
da vinculação amorosa, associadas às estratégias de enfrentamento
do processo de doença dos filhos.
Na investigação participaram 160 figuras parentais (61 pais e 99
mães) de filhos com doenças raras, com idades compreendidas entre
os 22 e os 81 anos. O estudo inclui pais de filhos com 71 doenças
raras distintas, das quais predominam a Espinha Bífida (9
crianças), Síndrome de Angelman (7 crianças), Síndrome de
Prader-Willi, Anomalia de Peters e Osteogénese Imperfeita (12
crianças).
Os resultados mostram que os pais evidenciam "maiores níveis de
rejeição no exercício da parentalidade comparativamente às mães".
Revelam ainda que um maior envolvimento da mãe nos cuidados
exercidos ao filho com doença rara, parece "potenciar o
desenvolvimento de maiores níveis de stress nas mães, devido aos
cuidados exigentes e constantes subjacentes à existência de uma
criança com doença rara". Contudo, a satisfação contínua das
necessidades da criança, por parte da figura materna, "parece
promover os vínculos entre ambos, potenciando maior disponibilidade
afetiva, apoio emocional, sensibilidade e aceitação da criança".
Por sua vez, o "menor envolvimento dos pais" nos cuidados prestados
ao filho com doença rara, "parece torná-los menos sensíveis à
capacidade de perceber e interpretar corretamente os sinais da
criança e responder adequadamente, podendo surgir, no exercício da
parentalidade, sentimentos de rejeição, hostilidade e não aceitação
da mesma".
Por outro lado, a presença de uma criança com problemas de saúde no
seio familiar, pode "colocar em risco a relação conjugal entre o
casal", devido às dificuldades subjacentes ao ato de cuidar de um
filho com doença rara. Se na perceção das mães, "uma má
distribuição das tarefas entre o casal" nos cuidados do filho,
poderá ser considerada uma "fonte de stress para a relação
conjugal", já para os pais, o tempo escasso partilhado com a
companheira sem a presença da criança, "é a maior dificuldade
imposta ao relacionamento amoroso entre o casal".
Segundo Catarina Pinheiro Mota, esta investigação pode contribuir
para um conhecimento mais amplo e prático acerca da realidade
destes cuidadores, chamando a atenção para a importância do papel
da família e para o trabalho com ambas as figuras parentais.
"Torna-se pertinente desenvolver programas de intervenção
estruturados, de modo a ir ao encontro das necessidades dos pais,
enquanto cuidadores de um filho com doença rara. A implementação
deste tipo de programas de intervenção poderá, juntamente com o
recente reconhecimento do estatuto de "cuidador informal",
constituir um passo relevante no sentido da prestação de apoio,
onde o fator raridade se constitui como um aspeto diferenciador no
ato de cuidar", conclui a investigadora.