Primeira coluna
A escola faz-se com pessoas
O final deste ano letivo fez com que a
escola, no seu todo, procurasse dar uma resposta possível a um
cenário que há uns meses atrás se pensava ser apenas de ficção. De
uma semana para a outra, alunos, professores e famílias foram
obrigados a mudar de registo. O ensino deixou de ser presencial e
passou a ser ministrado a distância, com as plataformas que estavam
mais à mão. Em maio regressaram as aulas presenciais para algumas
disciplinas no ensino secundário e no ensino superior.
O novo ano letivo vai arrancar na
incerteza de como a pandemia nos vai continuar a condicionar, mas
na certeza de que é importante que haja aulas presenciais. O ensino
a distância foi e é uma ferramenta útil, mas não deve, nem pode,
substituir o ensino presencial. Os dois podem co-habitar em
percentagens diferentes, consoante as disciplinas e o nível etário
dos alunos. Importa, por isso, que se faça uma análise séria, não
superficial, daquilo que correu bem, menos bem e mal nestes três
meses de ensino a distância.
A escola soube responder e o país
deve saber tirar partido do que foi alcançado, mas também deve
saber tirar lições do que foi feito, do que foi conseguido, de como
alunos e professores responderam, de como as famílias se adaptaram
num processo complicado e inédito.
As novas tecnologias, tantas
vezes recusadas na escola, foram determinantes. As aulas síncronas
assumiram-se como um desafio, daqueles para os quais todos julgavam
não estar preparados. Houve resposta. A possível. Em muitos casos o
processo, novo, foi feito por achamentos. Pelo eu acho que é assim.
Mas o importante, em todo este caminho, é que houve empenho,
determinação, ousadia e exigência (nalguns casos, sobretudo nos
ensinos básico e secundário, as tarefas exigidas superavam o tempo
que os alunos poderiam dispensar, pois ainda lhes era pedido que
assistissem às aulas na RTP Memória).
A escola e a sociedade estão de
parabéns pelo que alcançaram, num processo que não vem em nenhum
manual de ensino, que foi novo para todos. Contudo, o novo ano
letivo deve ser encarado com a perspetiva de que as aulas
presenciais devem ser uma realidade. Como? A resposta não é única.
Sabemos que as salas de aula, sobretudo nas escolas de ensino
básico, secundário e profissional, são pequenas. 30 alunos ficam
acanhados. Terá que haver turmas mais pequenas, ou desdobramento
nas aulas. Isso obrigará a horários estendidos no tempo, a mais
professores nas escolas, mas em horas desencontradas. A
interligação entre o ensino presencial e o ensino a distância é
algo que deve ser equacionado. A experiência adquirida pode ser
potenciada, como complemento, ao ensino presencial.
Este final de ano no ensino
secundário e no ensino superior pode ter sido um ensaio. Mas em
setembro/outubro o objetivo é que todos os alunos, professores e
funcionários possam regressar à escola, porque a escola faz-se com
pessoas. E o ensino presencial é fundamental. Nos últimos meses fez
muita falta. Saibam agora, presencialmente, professores e alunos
tirar partido das novas tecnologias, que o futuro passa muito por
aí.