Rankings das escolas: a cereja em cima do bolo
E como se não bastasse tudo aquilo por
que as escolas, professores, alunos e pais passaram nos últimos
meses, vieram os rankings tendo em conta os resultados dos exames
de 2019. Era aquilo que faltava à escola num momento em que a
pandemia obrigou a esforços desumanos, em que todos os setores
foram afetados, onde houve desigualdades de acesso, ensino a
distância, ou falta dele. Onde houve medos e receios,
responsabilidade e irresponsabilidade, num cenário em que a pressão
psicológica sobre todos é grande.
Faltavam os rankings para por o povo a falar, a dizer mal e a
dizer bem, sem que isso tenha qualquer vantagem para as escolas,
alunos e professores, que neste momento precisavam de incentivos e
não de dedos acusatórios ou de abraços de felicitações.
Os rankings escolares, que cada órgão de comunicação apresenta à
sua maneira, tendo em conta aquilo que são os dados
disponibilizados pelo Ministério da Educação, transpõem para a
opinião pública resultados que não têm em conta contextos
importantes, como o tipo de alunos, os locais em que as escolas
estão implantadas, a caracterização sócio económica da comunidade
em que estão inseridos, o número de professores e funcionários, se
são públicos ou privados, se estão bem apetrechados
tecnologicamente, se os alunos têm explicações fora da escola, etc
etc.
Era mesmo o que faltava. O circo voltou. O Ministério da Educação
deveria ter tido tudo isto em conta. Já no passado, e todos os anos
por esta altura, o refiro. Os rankings das escolas, como são feitos
e divulgados, não traduzem o trabalho que é feito no meio escolar.
Mas afinal qual é a melhor escola?, pergunto de novo. Será a
melhor escola aquela que, num contexto escolar, social e económico
adverso, localizada numa região deprimida ou num bairro
problemático de uma qualquer cidade, consegue obter resultados
escolares e sociais positivos, recuperando muitas vezes situações
que pareciam impossíveis de ter solução? Ou será a escola inserida
num cenário sócio económico positivo, em que os pais dos alunos até
têm possibilidade de pagar explicações aos seus filhos?
Os rankings das escolas, já o referi e volto a fazê-lo,
apresentados da forma como o são, constituem um instrumento
enganador para a opinião pública, influenciando-a na escolha do
futuro dos jovens, denegrindo muitas vezes trabalho sério e eficaz,
vangloriando resultados que por vezes não se sabe se resultam
apenas do que é feito nas escolas, ou se vai para além disso,
através de reforço externo aos alunos (vulgo explicações).
Os rankings (e é bom que as escolas conheçam a sua realidade)
devem constituir, isso sim, um instrumento de trabalho para as
próprias escolas, agrupamentos e, porque não dizê-lo, para os mega
agrupamentos, que cada vez mais são um conjunto de mega problemas,
que não conseguem dar resposta às exigências das instituições de
ensino. Devem ser um instrumento de reflexão e de análise que deve
ser visto à realidade de cada estabelecimento de ensino, do meio em
que está inserido e da comunidade que serve.
Neste novo tempo, em que alunos, professores e comunidade em geral
mudaram procedimentos, ajustaram-se, sem aviso prévio, ao ensino a
distância, ao teletrabalho, muitas vezes sem condições,
excluindo-se muitos alunos (que a burocracia impediu de os ajudar
de forma mais célere), só faltavam os rankings a mostrarem a todos
uma realidade diferente daquilo que é a escola. Porque a escola não
são números, são pessoas, e as pessoas não são máquinas, são
gente.
Mais uma vez, o Ensino Magazine não publica estes rankings. Não é
esta a nossa forma de olhar para a escola.