Editorial
Desafios pedagógicos do confinamento escolar
Na passada semana a Professora Idalina
Jorge divulgou um interessantíssimo e importante texto em que
afirmava que as escolas, para fazer face ao ensino não presencial,
não tinham utilizado um sistema de ensino a distância (que obriga à
utilização de metodologias e técnicas específicas) mas sim um tipo
de "Ensino Remoto de Emergência".
Não nos interessa, agora, centrar
o debate nessa particularidade académica. A ela voltaremos. O
importante, para nós, como afirmámos em artigo anterior, é o facto
de 1- os professores terem recuperado, durante este período,
mais de cinco anos de formação, ao demonstrarem quão rapidamente se
adaptaram às tecnologias que os confinaram ao ensino não
presencial; 2 a Internet ter tido um papel fundamental quanto ao
desempenho da comunicação, da informação e da formação das
populações escolares, neste particular contexto pandémico.
Face às circunstâncias, o que se
fez, fez-se bem, fez-se muito, com empenho e numa (quantas
vezes impossível) postura inclusiva.
Dos últimos estudos divulgados
sobre a utilização educativa da Internet nas escolas públicas, em
circunstâncias de ensino presencial e num contexto de aparente
normalidade, tínhamos retido que os professores do 1º Ciclo estão
mais familiarizados com as tecnologias da informação e da
comunicação, mas têm dificuldades em utilizar essas tecnologias em
contexto da sala de aula. Por outro lado, os mesmos estudos
confirmam que, no domínio das Tic, os docentes evoluem em ordem
aritmética, enquanto que os alunos o fazem em ordem geométrica.
Porém, se alguma coisa esta pandemia nos ensinou, foi o facto de
este fosso de literacia digital se ter atenuado significativamente.
Ou seja, a referida "emergência" de comunicação a distância
aproximou, no domínio das tecnologias, as diferentes gerações
integrantes da comunidade escolar.
Existe, então, um enorme desafio
que se coloca futuramente à escola, às famílias e aos educadores: o
de conseguir fomentar a aprendizagens das tecnologias digitais,
sabendo, simultaneamente, integrá-las num ambiente educativo. Para
que essas tecnologias digitais promovam as mudanças esperadas no
processo educativo, devem ser usadas não como simples máquinas para
ensinar, ou aprender, mas como ferramentas pedagógicas que criem um
ambiente interactivo, que proporcione ao aprendiz, face a múltiplas
situações problema, investigar, levantar hipóteses, testá-las e
redefinir as suas ideias iniciais, construindo, assim, o seu
próprio conhecimento.
Por outro lado, o Estado terá de
promover a democratização do acesso de todos os estudantes, em pé
de inteira igualdade, aos equipamentos necessários à comunicação
síncrona, não presencial. Porque, também aqui, a igualdade do
acesso promove a igualdade do sucesso escolar.
Mas também se revela urgente a
requalificação e formação do corpo docente, quanto ao domínio
destas tecnologias da informação e da comunicação. Infelizmente,
como se constata pelos dados das diferentes pesquisas, há um imenso
abismo entre o conhecimento tecnológico que possuem os professores
e a sua relação e implicação com a prática pedagógica. Para muitos
a tecnologia é a simples utilização da máquina, sem o saber fazer
pedagógico que sempre deve acompanhar toda a inovação educativa. A
incorporação dos instrumentos de processamento digital na educação
exige, pois, a aprendizagem de um novo conjunto de competências no
uso pedagógico dessas técnicas de comunicação.
Sabemos que a escola de massas
dificulta a inclusão digital de todos os alunos, já que promove um
novo tipo de estratificação escolar que divide os que têm
computadores em casa e os que não os têm; os que têm Net em casa e
os que a não têm; os que têm Net de alta velocidade e os que não a
têm…
Todavia, essa mesma escola de
massas pode favorecer o atenuar da exclusão digital a que muitos
alunos estariam votados se souber, como referimos, democratizar o
acesso e a manipulação destes novos instrumentos educativos,
organizando-se em torno de objectivos claros, de equipamentos
acessíveis e de um corpo docente motivado, informado e formado no
uso das tecnologias da comunicação e da informação.