Artigo
Afastados da ESCOLA pela porta da CASA
A situação atual de confinamento, consequente da
pandemia do Covid-19, suscita um novo paradigma para a educação,
posicionando a Escola no espaço da Casa. Em consequência desta
realidade impuseram-se múltiplas condicionantes e dificuldades,
permitindo questionar o valor da instituição escolar e,
consequentemente da arquitetura escolar, como estrutura
condicionadora da aprendizagem, socialização e desenvolvimento
humano.
Indispensável na vida de qualquer
indivíduo, a Escola promove a educação individual e coletiva,
procurando instruir tanto conhecimento quanto entendimento. Este
equipamento social, estruturado pelos seus vários atores e pelo
seu, cada vez mais completo, programa funcional e organizacional,
ambiciona induzir o processo de ensino aprendizagem para além da
tradicional sala de aula, objetivando e alcançando um ensinamento
em comprometimento com múltiplos e diversificados espaços.
A Casa, ambiente que sustenta os
nossos hábitos, vê-se agora perturbada e invadida por dinâmicas do
dia-a-dia que lhe eram alheias, sendo sujeita a uma reestruturação
das suas rotinas, afetando decisivamente os modos de habitar e a
sua organização espaço-funcional. É para este contexto que a Escola
se translada, deslocando-se da sala de aula para a sala de estar,
ou para o quarto, numa simulação da tradicional normalidade onde,
dependendo das responsabilidades individuais se replica o espaço de
aprendizagem, agora fundamentalmente assente nas tecnologias
digitais, materializadas por um ecrã.
Nestas circunstâncias, amplia-se
o comprometimento da família com a educação dos mais novos,
tornando inevitável a participação essencialmente, com os menos
independentes, sob pena de se ver comprometido o processo de
aprendizagem.
O espaço escolar direcionou-se
para assegurar condições e oportunidades similares a todos, com o
propósito de minimizar as desigualdades, perspetivando uma efetiva
inclusão. Contrariamente, o ensino à distância, dependente das mais
variadas ferramentas tecnológicas, tende a expor fragilidades no
ajuste e capacidade de atender às necessidades e especificidades
individuais.
Decorrente do confinamento no
espaço doméstico, e consequentemente, do afastamento do espaço
escolar, as diferenças sociais e educacionais enfatizaram-se, desde
logo no acesso aos recursos tecnológicos, mas também na capacidade
de adequar os espaços habitacionais às várias e simultâneas
atividades educativas e profissionais. Apesar das iniciativas de
promoção dos diversos recursos que procuram continuar os processos
pedagógicos, a identidade inclusiva e de igualdade de oportunidades
corre o risco de ser colocada em causa, alienando-se a dimensão
agregadora do espaço escolar. Deste modo, o contexto no qual a
aprendizagem se viu obrigada a instalar, permite enfatizar a
pertinência da escola na construção do indivíduo e na sua
integração na sociedade.