Opinião

Contra Mão

João de Sousa TeixeiraVejo os telejornais, leio os jornais, à procura de notícias que me elucidem, que me eduquem quanto ao que ocorre de grave e injusto, sobretudo para aqueles que menos fizeram para que o país ande por aí de mão estendida, pedindo a quem não dá ou dá singelo por dobrado. Nada: não vejo nada, não oiço nada. Oiço falar duma troika, como poderia ser duma dupla ou duma quadrilha. Mas é uma troika de três, o colectivo de sumidades que avaliam o estado em que nos deixou a outra troika, mas esta de partidos, que ao longo das últimas dezenas de anos se têm sentado à mesa do orçamento.

Querem estes convencer-nos agora que são eles os salvadores da pátria, quando na realidade não passam de farinha do mesmo saco; vendilhões do templo dos tempos modernos.

Espanta-me depois quando leio notícias, artigos, crónicas assinadas, com opiniões cristãs, alertando para o perigo das lutas sociais, das acções de rua, das greves que, segundo estes, são prejudiciais aos mais desfavorecidos. Perdoai-lhes senhor porque sabem o que dizem! O perigo não está no garrote que o capital financeiro internacional, mais a ganância capitalista, mais as empresas de rating, não, o perigo advirá se os trabalhadores se manifestarem com a sua luta, com a sua unidade contra este estado de coisas, contra a fome e a miséria, contra a dependência do BCE e do FMI.

É claro que os ex-futuros miseráveis governantes - digo-o com mágoa e cautela - tudo fizeram para que assim fosse, pavoneando-se, mentindo, vendendo gato por lebre, fazendo pagar o justo pelo pecador. Mas hoje há por aí uns grifos (que me perdoem os bichinhos) a fazer crítica em contramão que, se nos distraímos, até parecem de esquerda. Na verdade, são do mais salazarento que há, querendo convencer que tudo se mede com a mesma bitola; que tudo a que assistimos se deve, não à cáfila de intrujões armados em democratas de longa data, mas ao Abril que conquistámos em 74, que justamente se fez para por cobro a muito do mal que a maioria do povo volta hoje a enfrentar. Mais milhão, menos milhão de empréstimo, é desta forma que, dizem, está a solução para a crise económica. Alguém pagará depois com língua de palmo. É a conclusão a que chego quando vejo os que nos conduziram em contramão até aqui de olhos fixos no rabo do adversário (adversário, para dizer um nome) e nas cadeiras do poder, acenando com intenções vagas de preocupação social, destinadas ao lixo no dia seguinte às eleições.

Fartos de saber que a solução para o desenvolvimento económico e social não passa por quem repentinamente se tornou amigo do povo português, mas outrossim com o apoio dos trabalhadores portugueses, com o incentivo à produção nacional e consequente criação de emprego, nomeadamente para os jovens, e com a implementação de políticas sociais que beneficiem os sectores da população que têm vindo a sofrer com o degradar das suas condições de vida, o desemprego e a ausência de medidas para combater a corrupção e a acumulação de riqueza nas mãos de meia dúzia de figurões da praça. Na verdade, os que se perfilam como salvadores da pátria, parecem sofrer de autismo e comportam-se como aquele condutor que circula em contramão mas vai comentando com indignação que são todos os outros condutores a conduzir fora de mão.

 
 
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