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Sándor Márai

Sándor_Márai.jpg«(...) Quem sobrevive ao outro é sempre traidor. Sentíamos que tínhamos de viver, e não é possível atenuar isso, porque ela é que morreu. Morreu, porque te foste embora, morreu porque eu fiquei e não me aproximei dela, morreu porque nós dois, homens, a quem ela pertencia, fomos mais vis, orgulhosos, cobardes, barulhentos e silenciosos que o que uma mulher podia suportar, porque fugimos dela e a traímos porque lhe sobrevivemos. Essa é a verdade. Tens de saber isso, enquanto estiveres em Londres, quando tudo acabar, na última hora, sozinho. Eu também saberei, nesta casa: e já o sei. Sobreviver a alguém, a quem amámos tanto que teríamos sido capazes de matar por ela, sobreviver a alguém a quem estávamos ligados de tal maneira que quase morremos por isso, é um dos crimes mais misteriosos e inqualificáveis da vida. Os códigos penais não conhecem esse crime. Mas nós os dois sabemos - diz em voz baixa e seca. - E sabemos também que com toda a nossa inteligência ressentida, cobarde e orgulhosa, não salvaguardámos nada para nós próprios, porque ela morreu, nós estamos vivos, e nós três estávamos ligados duma maneira ou de outra, na vida e na morte. (...)»

In As Velas Ardem até ao Fim

Sándor Márai nasceu a 11 de Abril de 1900, em Kassa, cidade húngara que hoje pertence à Eslováquia. Romancista, poeta, dramaturgo e jornalista foi autor de mais de 60 livros. Nos anos vinte, passou um exílio voluntário na Alemanha e na França, durante o regime de Horthy. Com a implementação do regime comunista na Hungria, emigra para os Estados Unidos da América, abandonando definitivamente o seu país, em 1948. Em 1920 começa a trabalhar como jornalista. O primeiro romance foi escrito aos 24 anos. Toda a sua obra é escrita em húngaro, e a maior parte, entre 1928 e 1948. Apesar de ser um escritor admirado no seu país, quando a sua obra é proibida, acaba por cair no esquecimento. Sándor Márai suicidou-se a 22 de Fevereiro de 1989, em San Diego, Califórnia. Com a queda do regime comunista a sua escrita é novamente reabilitada no Leste. Os romances: As Velas Ardem até ao Fim; A Herança de Eszter; A Mulher Certa; Rebeldes; e Divórcio em Buda estão publicados em Portugal pela Editora D. Quixote.

As Velas Ardem até ao Fim.

Num pequeno castelo de caça na Hungria, dois velhos amigos encontram-se para uma conversa decisiva. Há 41 anos que Konrád, o rapaz pobre, descendente de Chopin, que sonhava secretamente com uma carreira como músico, partira para o extremo Oriente; e Henrik, o militar de sucesso, filho abastado de uma família nobre, tinha ficado na Hungria. Numa única noite, num singular encontro, para o qual Henrik se preparou mais de quarenta anos, dois homens, no final da vida, vão falar de uma mulher e de um segredo, cuja força, ditou uma separação irreparável.



Eugénia Sousa
 
 
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