Entrevista

Cláudia Vieira, actriz, em entrevista
Um(a) modelo a seguir

claudia3.jpgMinutos antes da foto de família que juntou os voluntários do Rock in Rio Lisboa, Cláudia Vieira falou em exclusivo para o «Ensino Magazine». A actriz, embaixadora do projecto de voluntariado da edição 2012 do festival que decorrerá no Parque da Bela Vista, defende que para reagir à adversidade as pessoas devem responder com «dinamismo, determinação e ir à luta».

O que representa para si ser embaixadora do voluntariado do Rock in Rio 2012, uma marca reconhecidamente de grande notoriedade, ainda para mais em tempos de crise?

Tem uma grande importância em termos pessoais, ao nível da carreira e da imagem pública, porque significa que temos de nos associar aos melhores para sermos, também, cada vez melhores naquilo que fazemos. O Rock in Rio já deu provas da sua qualidade de organização e é o maior evento de música internacional. Foi uma conjugação de factores que levaram a que eu aceitasse juntar-me a esta marca, mas pesou ser numa acção com esta especificidade muito própria, que é a de incentivar as pessoas a participarem e a inscreverem-se para colaborarem nas mais diversas áreas do festival.

Acha que a sua popularidade junto dos mais jovens foi determinante na sua escolha?

Tratou-se de um convite muito simpático que rapidamente agarrei, até porque tenho a experiência pessoal passada de já ter feito voluntariado em áreas distintas. Como tal, fazia todo o sentido para mim apelar à inscrição dos mais jovens a juntarem-se a esta acção. Curiosamente já sei que este foi o ano com maior adesão, tendo concorrido mais de 8 mil candidatos e foram escolhidos 400 para trabalharem ao longo das duas semanas do evento de forma voluntária.

É sabido que muitos dos voluntários são estudantes. Procurar conjugar uma actividade académica com um part-time é uma lição de vida com dividendos no futuro?

Faz todo o sentido. Como disse, muitos dos que aderiram estão a frequentar os seus cursos superiores, nomeadamente nas áreas de comunicação ou organização de eventos, e vai valer muito a pena ter esta experiência de vida neste momento, com a mais-valia de ir integrar o currículo dos cerca de 400 escolhidos. Mais tarde vão poder dizer, «em 2012, era eu que lá estava».

O desemprego jovem é uma chaga que alastra. Como vê a postura da juventude portuguesa num país e numa Europa em crise?

Vejo uma juventude desiludida com o presente e preocupada com o futuro e, em particular, com o seu percurso profissional. Contudo, é nos momentos de crise que surgem as melhores ideias e as pessoas se reinventam. Quem estiver em fase de formação, como estes jovens voluntários do Rock in Rio, deve aplicar na prática os conhecimentos que obteve, dando o seu melhor.

É preciso menos imobilismo e mais competitividade?

As pessoas têm que ir à luta e agarrar as oportunidades que surgem, serem dedicadas e, acima de tudo, entregarem-se de corpo e alma em tudo aquilo que fazem. Somos um país com muito sol e isso tem um lado positivo e outro negativo. O sol dá-nos a energia, mas também nos convida à preguiça.

É difícil manter o meio termo?

Temos de ser mais dinâmicos, mais activos, produzir mais. E colocar mais empenho. Causa-me alguma impressão ver jovens que estão a tirar um curso superior por andar. Não entrarem na saída profissional que mais desejavam, mas não se apoquentarem nada com isso. Não pode ser. As pessoas têm de querer ser boas e se possível as melhores nas respectivas áreas. Se não existem oportunidades, ou se elas são escassas, vamos à procura. Lutemos.

Determinação é a mensagem que deixa a estes voluntários e a todos os jovens de Portugal?

Sem dúvida. Aos voluntários do Rock in Rio desejo, antes de mais, que se divirtam, mas especialmente que colham a experiência de como é fazer na prática.

Tem uma filha de 2 anos, a Maria. Que valores está a procurar transmitir e legar à sua descendente?

Confesso que da experiência que tenho tido até ao momento, concluo é extremamente difícil educar. Já me tinham dito, mas desde que tenho a Maria é que pude comprovar isso. Não é fácil sabermos quais são as melhores opções. Todavia, há algumas regras e princípios que quero que ela siga e que são os mesmos que os meus pais me passaram. Por exemplo, não ser minimamente comodista. Reconheço que o meu percurso profissional me correu muito bem, mas também nunca virei a cara à luta.

Não deve ser fácil conciliar gravações de novelas com a educação de uma criança de tenra idade. Como dividiu o seu tempo?

Eu estava a fazer uma novela chamada «Rosa fogo», que me ocupava muito tempo, cerca de 12, 13 ou 14 horas por dia em gravações, e estava em preparação o começo dos «Ídolos». Estava exausta, como se compreende, mas preferi condicionar um bocadinho o meu lado pessoal e agarrar um programa que já era meu, e não o perder. Este exemplo concreto mostra a força de vontade e a determinação que são necessários para agarrar as oportunidades. Gostava muito que a Maria tivesse estas características, que me foram passadas pelos meus pais. Algo do género, «se queres, tens de conquistar».

Não admite que esses valores estão relativamente em contraciclo, visto que vivemos numa sociedade em que as crianças são demasiado mimadas pelos pais que as tentam compensar materialmente pela cada vez menor atenção que lhe dedicam ou por casamentos que terminam em ruptura?

Os mais novos têm quase tudo e demostram cada vez mais comportamentos de desapego em relação aos outros e desrespeito, em especial pelos mais velhos. Um tipo de educação que estou a tentar dar à Maria é que ela não pense que vai ter as coisas de forma fácil. Terá que empenhar-se para ter. A começar pelos brinquedos, que propositadamente não estão todos à disposição dela. Depois, cultivar o respeito e a consideração pelos mais velhos, que é uma característica que desapareceu na nossa cultura. Finalmente, familiarizá-la com uma lógica que está algo ausente nos tempos que vivemos, que o dar e receber devem andar de mãos dadas

Nuno Dias da Silva
Agência Zero
 
 
Edição Digital - (Clicar e ler)
 
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