Entrevista

Antigo internacional português em entrevista
Como Paulo Futre finta a crise

futre1.jpgPaulo Futre foi o primeiro jogador português a conquistar um lugar ao sol num clube estrangeiro e dispensa apresentações entre os portugueses. Numa mítica conferência de imprensa, em que o ex jogador previa a vinda de «charteres» de chineses para Portugal, conseguiu a atenção do país inteiro, ofuscando mesmo a saída do governo do primeiro ministro demissionário José Sócrates. O episódio mediático valeu-lhe vários convites para a televisão. Fez uma "perninha" na representação, com a novela Laços de Sangue, uma passagem pelo videoclip de David Carreira e o Programa televisivo Futrebol. Em entrevista ao Ensino Magazine, realizada na Escola Superior de Tecnologia de Castelo Branco, Paulo Futre, concentradíssimo, explica como se deve fintar a crise.

Quando fala com os jovens como é que encara esse papel?

Encaro sempre como uma grande responsabilidade. Estamos a falar do futuro do nosso país, o futuro, em todos os aspectos. Tento contar-lhes as minhas histórias de vida e motivá-los um pouco. A situação é má, não só em Portugal, mas a nível global. Acima de tudo quero passar a mensagem de que nunca devemos baixar os braços. Por muito má que seja a situação, temos sempre de lutar.

Acredita que o seu exemplo de vida, a sua história, podem estimular as gerações mais novas para que não desistam?

Sim, é uma grande história. Pode ser um exemplo, sem dúvida. Não tudo, como é normal. Tenho situações de muita polémica, também cometi erros. É um sonho americano, em que vens lá muito de baixo e consegues atingir os teus êxitos. Muitas coisas da minha vida, podem ser um exemplo para todos os jovens.

Com a actual crise os mais jovens procuram oportunidades fora do país. O Paulo Futre foi o primeiro futebolista português a vingar no estrangeiro, concretamente em Espanha. Esse exemplo de vida pode ser uma boa lição para que as pessoas acreditem no seu valor?

Sem dúvida. Mas temos que dividir as coisas. Eu fui um emigrante privilegiado. Tenho de dizer aos jovens e a todos os portugueses que queiram emigrar que estejam muito atentos. Especialmente agora, porque há gente que quer enganar, promete muitas coisas. Depois, os emigrantes chegam aos países e ficam completamente "agarrados" e sozinhos. Informem-se muito bem com as embaixadas, consulados. Podia contar mil histórias de portugueses que passaram por Espanha e Itália, países onde também andei. Foram histórias horríveis. Estejam atentos, informem-se bem com as embaixadas, não se metam em aventuras e não vão em promessas que podem correr mal.

Uma mensagem sua para os políticos foi que se a classe média estava a passar dificuldades e "a classe baixa estava a passar fome", disse. Passou um ano, que mensagem é que gostava de passar para os políticos?

Vejo, como todos nós, que a situação está má. Mas, sinto muito mais a crise em Espanha, porque os espanhóis estavam no "vigésimo andar", nós estávamos ali no "terceiro" ou "segundo". Os Espanhóis agora estão muito perto de nós. É como uma montanha, hoje está tudo cá em baixo. Mas isto tem de mudar. Agora, deixar uma mensagem aos políticos não é nada fácil. A medida que tomou o Pedro Passos Coelho no corte dos subsídios é uma medida politicamente horrível, mas era necessária. Porque isto não está fácil.

Um dos capítulos fortes da sua vida foi essa conferência de imprensa com os charteres, os chineses e companhia limitada. Acredita que as pessoas tem um timing na vida para ter uma jogada certeira e apostar tudo?

Ali tinha duas opções: uma era voltar para trás. As nossas sondagens estavam muito atrás dos outros candidatos. Ainda por cima, o governo tinha caído naquele dia. Quando cai um governo, quando se demite um presidente da república, ou um primeiro ministro, como foi o caso de José Sócrates, não há espaço para mais ninguém. Era um tema não só para Portugal, mas, para todo o mundo. Como estava a dizer, tinha duas opções: ou voltar para trás, - eu vinha de Madrid quando me disseram que o governo tinha caído - ou inventar algo para fazer ruído. Surgiu a situação do "chinês". Já tinha falado com Dias Ferreira, e não nos podemos esquecer que isto é um negócio que existe há 13 anos lá fora. Actualmente há jogadores asiáticos, em clubes europeus, que trazem muitos ingressos para os clubes, a nível de sponsers, etc. Quando fui para a frente com o chinês, quis fazer barulho. Mas, não sou estúpido, tinha a minha defesa.

Foi um pequeno erro de cálculo, o chinês não veio para Alvalade, mas, vieram charteres de chineses para tomar conta da EDP. Como cidadão preocupa-o os chineses estarem a gerir uma componente estratégica do país?

É uma saída. Que estejam eles a controlar, hoje, é algo puramente económico. De certeza que foi um bom negócio para nós. É a situação que vivemos e temos de aceitar.

Neste segundo capítulo da sua vida, com a televisão, os chocolates, muitas coisas surgiram após aquela conferência de imprensa?

Sim, foi uma coisa inesperada. O que vivi durante este ano é talvez a grande homenagem que Portugal me está a fazer. As grandes homenagens tinham sido feitas em Espanha. Depois da conferência de imprensa, passado umas semanas, eu era o ídolo para três, ou quatro gerações depois da minha, e, para uma, ou duas abaixo de mim. Hoje são os pais dos miúdos de 10 anos, que de certeza dizem aos filhos "Olha lá, que este gajo era o meu ídolo".

O programa Futrebol é uma agradável aventura televisiva?

Foi uma grande experiência e uma grande aventura, com um grande profissional como é o Sousa Martins, - o Mário Sousa, como eu o chamo. É uma grande experiência onde está a correr tudo bem. É um programa completamente diferente. Temos a parte séria, mas a maior parte do tempo tentamos brincar. Se as pessoas vão para a cama com um sorriso, eu e o Mário Sousa já ficamos felizes.

Quando jogam os "três grandes" torce por algum destes clubes portugueses, uma vez que jogou nos três?

Eu sou sportinguista. Quando o Sporting não pode ganhar, também tenho, como toda a gente sabe, uma costela do Porto. Mas, também foi uma grande honra jogar no Benfica. Sinceramente, depende do momento que esteja cada um. O Braga tem um mérito tremendo. Tem feito um trabalho excelente.

Há algum tempo, fez uma "perninha" na representação, numa novela, e participou no videoclip do David Carreira. Gostou desse tipo de experiências?

Adorei estar com o David. Gravamos aquilo num dia. Já vinha com a experiência dos "Laços de Sangue". Hoje, quando faço as minhas reportagens para o programa, acho que aprendi muito com o que fiz n` Os Laços de Sangue. Foi uma experiência maravilhosa, em todos os aspectos. Trabalhar com aqueles grandes profissionais, ver as câmaras, onde tens de estar, onde não tens de estar, foi uma grande experiência.

 
 
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