Motor

Quatro rodas
As notas dos ralis

DSCN0288.jpgHá coisas no desporto motorizado, que nos passam um pouco despercebidas, mas que têm uma importância enorme. Essa importância só se consegue notar se fizermos um exercício de imaginação. Vou então propor-lhes um exercício que talvez só os mais ligados ao meio consigam interiorizar devidamente. Imaginem como seriam os ralis de hoje sem as conhecidas notas de andamento ou, pensemos de forma mais fácil… Qual seria a diferença de tempo entre o Loeb sem notas e o seu colega Hirvonen com notas, nos mais de 30 quilómetros da prova de classificação de Santana da Serra do atual Rally de Portugal? Trata-se pois de um exercício teórico, para o qual só um teste traria resposta.

Vamos tentar colocar aqui uma definição sucinta do que são estas notas dos rallys. Pode-se dizer que é um conjunto de símbolos anotados pelo navegador, que posteriormente, vão sendo ditados ao piloto durante as provas especiais de classificação, com a finalidade de o ajudar a recordar a estrada, alertar para situações específicas e dar indicações de andamento. Com as coberturas televisivas, de hoje, conseguimos ter consciência do sincronismo que a equipa deve ter para que tudo corra bem. Dizer "curva à esquerda", quando na verdade é para direita, ou "500 metros a fundo" quando há uma lomba no meio… como costuma dizer-se, "pode ser a morte do artista".

Hoje em dia, as provas de rally têm dias específicos para que as equipas efetuem os seus reconhecimentos, e possam retirar as anotações. Estes reconhecimentos não podem ser efetuados em carros de prova, e normalmente estão limitados a duas passagens, por cada prova de classificação. Longe vai o tempo em que, não existindo estes limites as equipas treinavam horas a fio, complementando as notas com sinalizações especiais no terreno, para marcar locais de travagem, mesmo à prova de nevoeiro, como acontecia pelas míticas Arganil, Candosa e Lousã.

notas.jpgAinda no final do século passado, havia um rally um pouco diferente de todos os outros, ou seja, um rally em que não se podia treinar porque o percurso era secreto. Refiro-me ao rally de Inglaterra, mais conhecido na altura como Lombard RAC Rally, no qual para se ter opção ao podium, era necessário fazer muitos rallys do campeonato inglês, para ir tendo conhecimento das estradas usadas. Os navegadores tiveram pois que desenvolver outra competência, a capacidade de, em andamento, poderem tirar notas, de modo a que as pudessem usar numa segunda passagem ou numa passagem, no ano seguinte.

Mas para provar que "a coisa" resulta mesmo, posso deixar aqui o testemunho, da origem destas notas, que recentemente li, no ressuscitado Jornal dos Clássicos, da autoria de Paulo Araújo.

Revela Paulo Araújo que foi em 1955, que o piloto Inglês Stirling Moss fez história ao vencer a famosa corrida das Mille Miglia em Itália, utilizando pela primeira vez notas de rally. Como se costuma dizer, "a necessidade aguça o engenho" e Moss encontrou assim a forma de bater os rápidos pilotos italianos bem conhecedores do terreno, por correrem em casa. O então piloto oficial da Mercedes treinou com a ajuda do seu amigo e jornalista Denis Jenkinson e elaboraram junto um conjunto de notas do percurso, inventando aquilo que são hoje as modernas anotações de rally. Com isto baixaram o risco de acidente e aumentaram a velocidade em zonas onde de outra forma passariam com mais cuidado. Como resultado acabaram a prova com um record que ainda hoje perdura.

Será que esta engenhosa, solução encontrada por Moss pode ser usada por quem, em vez de conduzir um carro, conduz um País?.

Paulo Almeida
 
 
Edição Digital - (Clicar e ler)
Unesco.jpg LogoIPCB.png

logo_ipl.jpg

IPG_B.jpg logo_ipportalegre.jpg logo_ubi_vprincipal.jpg evora-final.jpg ipseutubal IPC-PRETO