Quatro rodas
Naqueles tempos
Acabei de chegar a casa e eis que toca o telefone…
bem, não foi o telefone, mas sim o telemóvel. Queria começar já a
dar um ar nostálgico à cena, mas vamo-nos ficar pela
contemporaneidade do momento. Atendi então o nosso diretor a
confirmar a data de fecho do Ensino Magazine. Ainda nem sequer
tinha desfeito a mala, acabado que estava, de chegar do Rali de
Portugal, onde passei uns dias de trabalho intenso, tão duro como
reconfortante.
Chegou, no entanto o momento da
escrita, já longe da serra algarvia.
Com a memória fresca desta edição
onde colaborei pelo nono ano consecutivo, não podia deixar de
escolher como tema para o Rali de Portugal, mas comecemos mesmo com
um pouco de nostalgia.
Cresci a ouvir as reportagens da
Rádio Renascença, do então melhor rali do mundo. Adriano Cerqueira,
José Pinto, Helder de Sousa e Luis Celínio, eram entre outros os
protagonistas desta mediática cobertura radiofónica. Os postos de
reportagem estavam posicionados, no final das provas especiais,
usando os repórteres linhas telefónicas fixas que estavam
literalmente penduradas nos postes ou nas árvores que mais jeito
davam para que o telefone, ficasse o mais perto do "stop" de cada
prova especial.
Apesar de nesse tempo, estarmos
longe das "muletas" tecnológicas de hoje, o certo é que de uma
forma algo rudimentar, se conseguia seguir o rali segundo a
segundo, sendo a Rádio Renascença um autêntico centro de
cálculo.
Não tive oportunidade de conhecer uma sala de
imprensa dos ano setenta, mas imagino o barulho do teclar das
velhas "remington", os telefones de campainhas a tocar sem parar,
tudo isto misturado com o som troteante das máquinas de telex.
Imagino também uma sala impregnada de fumo de português suave ou sg
gigante, com copos de whisky esquecidos pelas mesas. Seria
assim?
E nos nossos dias como será? Já
estive em algumas salas de grandes eventos e claro o cenário é bem
diferente. Espalhados pelas paredes e mesas, temos dezenas de
plasmas com todo o tipo de informação, e imagens com diretos do
evento. Um silêncio latente, apesar de grande número de pessoas
espalhadas pelas mesas de trabalho, absortas entre o que lhes entra
na cabeça pelos "head phones", ou pelos monitores dos
portáteis.
Ao fundo, temos o balcão das
conferências de imprensa, com a parede devidamente decorada com os
"logos" dos patrocinadores.
Um mundo um pouco diferente, onde
em vez de jornalistas de jornais, abundam agora os que trabalham
para agências, e "freelancers" a tentar que o seu texto ou a sua
fotografia especial seja a primeira a chegar às redações.
A tecnologia não mudou apenas os
carros de corrida, mas também a forma como estes eventos, que
protagonizam, são transformados em conteúdos formatados para as
plataformas difusoras de informação.
É injusto dizer que dantes é que
era bom, pois ninguém é suficientemente isento para fazer esse
julgamento. Podemos, no entanto, dizer que temos saudades daqueles
tempos.