Motor

Quatro rodas
Naqueles tempos

Paulo AlmeidaAcabei de chegar a casa e eis que toca o telefone… bem, não foi o telefone, mas sim o telemóvel. Queria começar já a dar um ar nostálgico à cena, mas vamo-nos ficar pela contemporaneidade do momento. Atendi então o nosso diretor a confirmar a data de fecho do Ensino Magazine. Ainda nem sequer tinha desfeito a mala, acabado que estava, de chegar do Rali de Portugal, onde passei uns dias de trabalho intenso, tão duro como reconfortante.

Chegou, no entanto o momento da escrita, já longe da serra algarvia.

Com a memória fresca desta edição onde colaborei pelo nono ano consecutivo, não podia deixar de escolher como tema para o Rali de Portugal, mas comecemos mesmo com um pouco de nostalgia.

Cresci a ouvir as reportagens da Rádio Renascença, do então melhor rali do mundo. Adriano Cerqueira, José Pinto, Helder de Sousa e Luis Celínio, eram entre outros os protagonistas desta mediática cobertura radiofónica. Os postos de reportagem estavam posicionados, no final das provas especiais, usando os repórteres linhas telefónicas fixas que estavam literalmente penduradas nos postes ou nas árvores que mais jeito davam para que o telefone, ficasse o mais perto do "stop" de cada prova especial.

Apesar de nesse tempo, estarmos longe das "muletas" tecnológicas de hoje, o certo é que de uma forma algo rudimentar, se conseguia seguir o rali segundo a segundo, sendo a Rádio Renascença um autêntico centro de cálculo.

motor copy.jpgNão tive oportunidade de conhecer uma sala de imprensa dos ano setenta, mas imagino o barulho do teclar das velhas "remington", os telefones de campainhas a tocar sem parar, tudo isto misturado com o som troteante das máquinas de telex. Imagino também uma sala impregnada de fumo de português suave ou sg gigante, com copos de whisky esquecidos pelas mesas. Seria assim?

E nos nossos dias como será? Já estive em algumas salas de grandes eventos e claro o cenário é bem diferente. Espalhados pelas paredes e mesas, temos dezenas de plasmas com todo o tipo de informação, e imagens com diretos do evento. Um silêncio latente, apesar de grande número de pessoas espalhadas pelas mesas de trabalho, absortas entre o que lhes entra na cabeça pelos "head phones", ou pelos monitores dos portáteis.

Ao fundo, temos o balcão das conferências de imprensa, com a parede devidamente decorada com os "logos" dos patrocinadores.

Um mundo um pouco diferente, onde em vez de jornalistas de jornais, abundam agora os que trabalham para agências, e "freelancers" a tentar que o seu texto ou a sua fotografia especial seja a primeira a chegar às redações.

A tecnologia não mudou apenas os carros de corrida, mas também a forma como estes eventos, que protagonizam, são transformados em conteúdos formatados para as plataformas difusoras de informação.

É injusto dizer que dantes é que era bom, pois ninguém é suficientemente isento para fazer esse julgamento. Podemos, no entanto, dizer que temos saudades daqueles tempos.

Paulo Almeida
 
 
Edição Digital - (Clicar e ler)
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