opinião
Ser Professor na Escola do Séc. XXI
A escola é, em nosso entender, o
território de referência do exercício profissional docente. É
espaço de excelência da profissão lembrando a urgência de reflexão
sobre novas formas de ensinar e aprender, face à complexidade
crescente da sociedade da informação. Nesse sentido, «Ser
professor» na escola do Século XXI, submersa no paradigma da
complexidade (Morin, 2002) coloca desafios e compromissos éticos
com o futuro mas, sobretudo, com o presente.
Parafraseando António Nóvoa (2010),
entendemos que a escola não deve dar «mais do mesmo» mas oferecer o
que não há possibilidade de viver em qualquer outro lugar.
Concordámos com este investigador quando relembra que do mesmo modo
que há cem anos a pedagogia precisou de introduzir na vida da
escola (actividade, jogo, afecto, movimento) indo no sentido oposto
da sociedade, pela mesma razão, devemos pensar a escola como um
lugar diferente, um lugar de silêncio, de reflexão, do diálogo, da
razão, um lugar que contrasta com o ruído que domina a sociedade do
mercado e do consumo.
Provavelmente, a verdadeira
dificuldade passa por definir claramente as novas missões da escola
face à complexidade do presente e ao desconhecimento do futuro.
Neste suceder, arquitetamos uma escola «envolta em mistério» que
desconhecemos em absoluto mas que perspectivamos considerando,
desde logo, a centralidade que lhe atribuímos no acesso ao
conhecimento e como fundamento da democracia. Tal como salienta
Perrenoud (2005) falamos de uma democracia que pressupõe o debate,
que tem tempo para pensar, para se expressar, para ouvir e
compreender os pontos de vista contrários e encontrar compromissos
éticos. Resta uma dificuldade: é preciso conceber uma educação para
a cidadania adequada ao nosso mundo. Efetivamente, o espaço
educativo reclama novas formas de aceder ao conhecimento e, nesse
sentido, coloca novos desafios, sobretudo, aos profissionais da
educação.
Qual será o papel da escola, no ano
de 2030? Qual será, doravante, o papel do professor? Que
competências deve (ou não) ter um professor? Que saberes se exigem
aos professores-educadores? Que práticas educativas serão as da
escola de meados do Século XXI? Para que novos papéis, novas
responsabilidades, novas relações sociais, serão estes
profissionais convocados?
Estas questões tornam evidentes que
o futuro exige, para os profissionais da educação, um projeto
formativo sólido, alicerçado em saberes holísticos que possibilitem
compreender e acompanhar a evolução do conhecimento emergente na
sociedade educativa, caracterizada pela sua fluidez, mutabilidade e
complexidade. Por outro lado, esta contextualização convoca-nos
para a emergência de um pensamento crítico, para a articulação
entre o conhecimento teórico e prático e para a reflexividade que
desvende o sentido do «ser professor» num tempo sem rosto com a
certeza, porém, de que os professores dão rosto ao futuro
(Baptista, 2005).
Na linha de pensamento defendida, os
professores continuarão a fazer a diferença e o «English Teaching
Robot» não passará de um projecto, incapaz de substituir o
professor [Cf. Time Magazine, Novembro de 2010].
Efetivamente, reconhecemos que o
futuro convoca os professores para a assunção de novos (e velhos)
desafios que se entrelaçam com as novas missões atribuídas à escola
e que a vinculam à construção do conhecimento, centrada no
desenvolvimento humano, condição para que possamos aprender a viver
juntos em cidadania activa, construindo um novo tempo através da
magia da escola (Silva, 2011). Neste caso, tal como António Nóvoa
(2010), sustentamos que o Século XXI será o Século do «regresso dos
professores» com o argumento de que só a pedagogia - uma pedagogia
nas mãos dos professores - conseguirá reintroduzir o sentido na
escola e nas aprendizagens
Nesta perspetiva, o apelo é para que
a escola ensine algo mais, não no sentido de uma maior quantidade
de conteúdos, mas tornando relevantes as aprendizagens escolares,
dando-lhes significado crítico e criativo, na e para a vida, sem o
que o contrato social não se cumprirá com exigências irrealistas à
escola (Perrenoud, 2005).
Concordamos que a escola sofre um
«transbordamento de funções», tal como evidencia António Nóvoa
(2010) que sugere à escola o que é da escola e à sociedade o que é
da sociedade. Sublinha, ainda, que é necessário que a escola se
recentre nas suas missões e recupere um sentido para o trabalho e
as aprendizagens e que deixe de ser o lugar onde tudo e nada
existe, onde tudo parece ter a mesma importância (…) o currículo
para o século XXI há-de ser o mais simples possível, deixando a
máxima liberdade aos professores.
Todavia, completarmos a «ponte»
entre uma escola transmissiva, elitista e com as finalidades
objetivas e a escola contemporânea (a transbordar de funções) tem
sido controverso e tem originado profundas reflexões teóricas. A
tarefa é imensa e carece da ponderação dos diversos interlocutores
sociais.
Reconhecendo que o conhecimento não
emerge, exclusivamente, na escola acreditamos que aí permanecerá a
centralidade construtora do saber (es), mediatizada pela pessoa do
professor, legitimando a marca e o contributo do laço humano
estabelecido através da relação educativa. Do nosso ponto de vista,
reside aqui o exemplo primeiro do comprometimento
ético-profissional docente com o devir em que cada um procure
construir no espaço escolar os alicerces de uma geografia social
mais justa, solidária e fraterna. Consequentemente, consideramos
que este tempo (presente e futuro) convoca os professores para a
assunção de novas responsabilidades interpretando a «memória e
herança» da escola e da profissão, mas abrindo possibilidades para
re(pensar) o «ser professor», face às exigências e às incertezas de
um mundo, complexo, inconstante e globalizado mas em que cada vez
mais se encontra justificada a presença humana do professor(a).