Genética
Beja codifica sobreiro
Do I Encontro Ibérico sobre o Declínio
do Montado, organizado pelo Centro de Biotecnologia Agrícola e
Agroalimentar do Alentejo (CEBAL), no Instituto Politécnico de
Beja, resultou a intenção do CEBAL em descodificar o código
genético do sobreiro, através de um projeto "pioneiro a nível
internacional".
No âmbito da primeira fase do
"GenoSuber - sequenciação do genoma do sobreiro", a equipa do
projeto, através de um estudo preliminar a nível molecular, já
selecionou 50 sobreiros puros, a partir dos quais, "em breve", vai
ser identificado o sobreiro cujo genoma (código genético) será
sequenciado, disse à Lusa Sónia Gonçalves, do CEBAL.
"Os sobreiros são árvores que se
cruzam frequentemente com outras espécies de 'quercus", como as
azinheiras, resultando muitas vezes em híbridos do ponto de vista
genético", ou seja, com misturas de ADN, "embora visualmente sejam
sobreiros", explicou. Por isso, através de vários critérios, foi
necessário selecionar os 50 sobreiros puros, que estão situados em
zonas de São Brás de Alportel e Loulé (Algarve), da Herdade dos
Leitões (Alentejo) e da Companhia das Lezírias e identificados por
coordenadas GPS e foto identificação.
A equipa já efetuou uma colheita de
folhas dos sobreiros, das quais extraiu ADN e realizou uma análise
através de marcadores moleculares, o que permitirá identificar os
sobreiros com menor variabilidade, disse, referindo que os
resultados estão a ser analisados para se identificar o sobreiro
cujo genoma será sequenciado.
Estes são os primeiros resultados
da primeira fase do "GenoSuber" e que vão ser divulgados durante a
apresentação oficial do projeto, que vai decorrer na sexta-feira,
em Beja, integrada no I Encontro Ibérico sobre o Declínio do
Montado.
Segundo Sónia Gonçalves, a
descodificação do genoma vai permitir "um avanço no conhecimento e
melhoramento genético" do sobreiro, "a espécie florestal com maior
interesse económico e social em Portugal", que é líder e o
responsável por cerca de 1/3 da produção mundial de cortiça.
Durante a apresentação, adiantou,
vai ser assinado um protocolo de colaboração entre o CEBAL e a
maior empresa mundial de produtos de cortiça, a Corticeira Amorim,
que vai associar-se ao projeto, devido à sua "importância" para a
fileira florestal.
A associação da Corticeira Amorim é
"muito importante", porque vai ser "um dos principais financiadores
privados do projeto" e servir de "interlocutor" com a fileira
florestal, o que vai permitir à equipa "perceber quais os problemas
que a produção e a transformação da cortiça têm" para "poder
orientar a investigação" no sentido de os resolver.
O "GenoSuber", que arrancou no
passado mês de janeiro e deverá durar dois anos e meio, vai "trazer
uma nova dimensão" à fileira florestal portuguesa, ao abrir a
possibilidade de delinear estratégias de melhoramento da espécie,
"com importantes repercussões a médio e longo prazo no setor" da
cortiça, explicou Sónia Gonçalves.
O projeto, que envolve outras cinco
instituições, além do CEBAL, e 28 investigadores, está orçado em
1,1 milhões de euros e será financiado em 85% por fundos
comunitários, sendo a verba restante assegurada por privados.