Castelo Branco apresenta investigação de ponta no CEI
O que diz o seu cérebro
Castelo Branco está a ser pioneiro no
estudo sobre a resposta cerebral quando é visionado um vídeo, ou
quando é provado um produto. A investigação está a ser feita no
Centro de Empresas Inovadoras de Castelo Branco (CEI) por João
Valente, docente da Escola Superior de Saúde do Instituto
Politécnico de Castelo Branco, e que tem a sua ideia de negócio
(Neuro feedback) instalada no centro.
O projeto, que tem como parceiros a Câmara de Castelo Branco, o CEI
e o Centro de Apoio Tecnológico para o Agro Alimentar, e o
Instituto Politécnico de Castelo Branco, permite definir aquilo que
realmente cada um de nós pensa sobre um determinado vídeo,
publicitário ou não, ou sobre um produto alimentar, por
exemplo.
Para a realização deste estudo, em que já foram feitos mais de mil
testes, são utilizados equipamentos de ponta, adquiridos pelo
Centro de Empresas Inovadoras e pelo CATAA - Centro de Apoio
Tecnológico ao Agroalimentar (ambos da Câmara de Castelo Branco), e
que fazem parte do Laboratório Sensorial da autarquia. O capacete
sensorial, surge como uma espécie de equipamento de
eletrencefalograma, e o eye tracking (que permite saber para onde
estamos a olhar, e que já é utilizado no neuro marketing). É com
esse equipamento (há também um outro móvel, que inclui uns óculos)
que é feito o estudo.
Com esta investigação é feita a correlação daquilo
que é respondido num questionário com a resposta cerebral. "Aquilo
que acontece atualmente é que, por exemplo, nas provas de sabores
de um determinado produto, apenas se utiliza o questionário. As
pessoas provam e respondem. Nós com este método vamos mais além,
pois medimos as sensações que as pessoas estão a ter quando estão a
provar os produtos. Isto permite verificar, de forma inequívoca, o
posicionamento de um determinado produto face aos seus rivais,
tendo em conta vários fatores como o sabor, ou o aspeto", diz João
Valente.
Os testes realizados até ao momento foram feitos em duas grandes
áreas: audiovisual e agroalimentar. No caso do audiovisual através
do visionamento de spots publicitários ou publicidade, é possível
registar as emoções e sensações das pessoas face àquilo que veem.
Permitindo, por exemplo, verificar se um determinado vídeo
promocional tem o efeito desejado junto do público, ou saber para
que parte do vídeo ou da publicidade as pessoas mais olham. No
agroalimentar são feitas provas de sabores.
Dos resultados já apurados, o investigador diz que "é perfeitamente
notório que as pessoas têm dúvidas quando respondem apenas a um
questionário. Nós temos testes que têm duas fases. Numa as pessoas
provam o produto com os olhos fechados, e posteriormente provam o
mesmo produto visionando a marca. O que se verifica é que as
respostas mudam, pois a marca pode alterar a perceção que têm do
produto. Verifica-se também que as pessoas têm dúvidas. Essa dúvida
é perfeitamente esclarecida com estes testes, algo que só com o
questionário não poderíamos saber. Nós já provámos que conseguimos
estratificar a avaliação que o
consumidor faz dos produtos que está a provar".
João Valente diz que a grande dificuldade nestas áreas, "é que
normalmente os estudos são feitos por equipas multidisciplinares,
com psicólogos, engenheiros de programação, ou técnicos que
percebam de eletroencefalografia, de especialistas que conheçam o
mapeamento do cérebro. São laboratórios que normalmente têm 20
pessoas". Mas neste processo, João Valente tem feito a investigação
sozinho, com o apoio do Centro de Empresas Inovadoras e do CATAA.
De resto, o investigador destaca o papel da Câmara albicastrense
neste e noutros projetos por si desenvolvidos.
Doutorado, na área do cérebro, pela Universidade do Minho, no
âmbito de um trabalho de investigação feito no centro de
investigação do Massachusetts General Hospital, que integra o MIT e
a Harvard Medical School, João Valente diz que o desafio de
desenvolver esta investigação partiu do CATAA. "Eu aceitei-o e
comecei a trabalhar nele. Os resultados estão a surgir e são muito
animadores", explica.
Com seis meses de trabalho, João Valente diz que "nesta fase
estamos a fazer confirmações, pois existem combinações diferentes
no cérebro que vão dando respostas diferentes. A chave do segredo é
encontrar quais são as posições do cérebro que dão melhores
indicações".
João Valente diz que esta investigação é uma mais valia para a área
do marketing. "Isto permite perceber como as pessoas avaliam um
produto, mas também o seu posicionamento e daí fazer a segmentação
de mercado, baseados em algo que não se pode esconder: a nossa
resposta cerebral. Eu até posso ser simpático e dizer que gostei,
mas o meu cérebro diz que não".
O docente diz que a primeira fase da investigação está concluída,
com a demonstração "que isto funciona. Agora vamos partir para a
segunda etapa, que passa por ver de parcerias e de analisar o
mercado". No futuro, João Valente acredita que o projeto pode
envolver mais pessoas, e que inclusivamente as pessoas que
participam nos testes podem vir a ser pagas. "Se tivermos sucesso,
será excelente para Castelo Branco, pois iremos chamar muitas
pessoas e empresas para testarem produtos, de uma forma inovadora",
conclui.