Primeira coluna
A rede de ensino superior, a coesão e a resposta ao que está para chegar
As
instituições de ensino superior portuguesas têm sabido dar uma
resposta efetiva ao país na luta contra a pandemia de Covid-19.
Mais do que disponibilizar equipamentos, colocaram ao serviço da
saúde a ciência e a investigação. Mostraram um lado da academia
robusto, solidário e necessário a uma luta cujos cenários mudam de
um dia para o outro. Esta resposta acontece porque Portugal
soube construir uma rede de ensino superior bem distribuída pelo
seu território. No pós 25 de Abril de 74 a rede de ensino superior,
a par do Serviço Nacional de Saúde, é um dos principais patrimónios
que Portugal soube erguer.
Falo de uma rede que procurou não
deixar ninguém para trás, permitindo a que todos, em qualquer
distrito, tivessem a oportunidade de se qualificar. Uma rede que se
capacitou e soube ser um fator de desenvolvimento e coesão
territorial, que criou espaços de ciência e de investigação, muitos
colaborativos entre instituições nacionais e internacionais. Uma
rede que o país algumas vezes colocou em causa, como se ter
universidades e politécnicos espalhados pelo país fosse uma coisa
má, como se o direito à qualificação e à investigação ficasse
reservado apenas a alguns. Como se o país se pudesse dar ao luxo de
dizer aos portugueses, com demagogias económicas e sem visão
estratégica, que a rede é exagerada, que é de mais para os
portugueses. Não o é, o momento que vivemos comprova-o.
É esta rede que permite ao país
dar uma resposta eficaz e sólida à pandemia de Covid-19 nas suas
diferentes vertentes: social, solidária, educativa, de investigação
e de ciência. Pela primeira vez Portugal, nos fundos destinados à
ciência e inovação no âmbito do Quadro Comunitário de Apoio, vai
receber mais dinheiro do que aquele com que contribuiu. Falamos de
um retorno de mil milhões de euros. E isto deve-se ao trabalho dos
investigadores e das instituições que compõem esta rede
nacional.
Foi com esta rede que se criou
uma outra de testes à Covid-19 em lares de idosos e não só. Foi com
as universidades e politécnicos, de cada região, que se encontraram
soluções concretas, que se reforçou a ligação a empresas, que se
desenvolveram novos paradigmas de resposta ao momento que
vivemos.
É esta rede que nos poderá ajudar
a "repovoar" o país, qualificando jovens de outras nações, fazendo
com que também possam ser eles próprios ativos nacionais, como
qualquer outro cidadão português. Dito desta forma pode parecer
estranho, mas a captação de estudantes internacionais tem subido
todos os anos nas instituições de ensino o superior portuguesas.
Portugal, este ano, cresceu 34% na captação desses alunos e no
último ano já tinha crescido 28%, como referiu ao Ensino Magazine o
secretário de Estado do Ensino Superior, João Sobrinho Teixeira.
Falamos de milhares de alunos, sobretudo da CPLP. Por um lado este
crescimento traduz-se num aumento das receitas das instituições de
ensino, mas mais do que isso, constitui uma oportunidade para
através do ensino captar, qualificar e fixar jovens.
Este ano a pandemia poderá criar
algumas dificuldades na vinda desses novos alunos. Neste momento é
impossível saber se há condições internacionais para tal. Mas numa
coisa as universidades e os politécnicos portugueses têm a certeza.
A resposta que o país está a dar, até ao momento, à Covid-19 (uma
resposta que reafirmo tem muito do contributo da rede de ensino
distribuída em todo o território), leva-nos para um novo desafio
que o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior já
anunciou: a criação de condições junto da academia, para que as
instituições sejam catalogadas de "Covid Free". Nesse aspeto somos
competitivos com os melhores, pois países como os Estados Unidos ou
a Inglaterra têm uma maior incidência da doença que Portugal.
O que todos desejamos é ter
instituições Covid Free. Em todo o país. O modo como a rede está a
agir, de forma cuidadosa e consciente, poderá garantir confiança
aos estudantes (nacionais e estrangeiros) e às suas famílias para
que o regresso às universidades e politécnicos se possa ir fazendo.
Provavelmente o início do próximo ano letivo ainda vai ter que ser
feito num misto de ensino a distância e aulas presenciais. Mas é
bom para todos que a normalidade possa regressar, que se tirem as
coisas boas do que está a acontecer no ensino aprendizagem, mas que
se tenha a consciência que é importante que todos regressem à
escola, para que esta rede que agora nos suporta não fique
esvaziada de alunos nas suas instalações e nos seus territórios. A
acontecer, isso será dramático para o país como um todo.