Editorial
Ensino não presencial: e depois do adeus?
Se
alguma coisa esta difícil conjuntura de pandemia nos veio ensinar
foi que, na era de uma informação subjugada às redes sociais, a
oferta de trabalho de profissões baseadas, exclusivamente, em
competências manuais estará em declínio nas economias mais
desenvolvidas. Quanto à inclusão digital demos um passo
significativo para a imunidade de grupo.
Daí que as novas aprendizagens,
baseadas na manipulação e na gestão da informação, partilhada nas
mais diversificadas plataformas, e o conhecimento do acesso às
bases de dados digitalizados, se afigure indispensável na abordagem
dos futuros objectivos escolares das novas gerações.
Neste novo domínio em que se
projectam as preocupações dos educadores, há duas confirmações
irrefutáveis: 1- os professores recuperaram mais de cinco anos de
formação, ao demonstrarem quão rapidamente se adaptaram às
tecnologias que os confinaram ao ensino não presencial, e a
distância; 2 - a Internet teve e terá cada vez mais um papel
importante a desempenhar no futuro da informação e da formação das
populações adultas e das jovens gerações.
Todavia, duvidamos que essa
importância advenha da simples disponibilidade e massificação, nas
escolas, do acesso a esses meios e serviços.
Pode o simples manuseamento de
uma nova máquina, ou de um novo serviço, contribuir para o
desenvolvimento pessoal e intelectual e para a melhoria da
intervenção cívica?
Se não, é bom que se reflita se
basta, apenas, dotar as escolas com computadores e com serviços de
acesso às redes digitais, ignorando que o importante não é mais a
"actualização contínua" das "máquinas", mas sim a "formação
permanente" dos docentes e dos alunos que a elas têm acesso,
sobretudo no aumento da sua capacidade (critério) de separar a
informação útil da que deforma e desinforma, bem como da divulgação
e conhecimento das bases de dados de indiscutível
credibilidade.
Sabemos que a escola de massas
dificulta a inclusão digital de todos os discentes. O ensino não
presencial e a distância veio, uma vez mais, provar o que já se
sabia: o acesso ao mundo digital promove um novo tipo de
estratificação escolar que divide os que têm computadores e tablets
e os que não os têm; os que têm Net em casa e os que a não têm; os
que têm Net de alta velocidade e os que não a têm; os que têm
smartphones com acesso permanente às redes digitais, e os
que…
Todavia, essa mesma escola de
massas pode contribuir para o atenuar da exclusão digital a que
muitos alunos estariam votados se souber democratizar o acesso e a
manipulação destes novos instrumentos educativos, organizando-se em
torno de objectivos claros, de equipamentos acessíveis e de um
corpo docente motivado informado e formado no uso das novas
tecnologias da comunicação e da informação.
Importaria, porém, que esta
última experiência integradora que acabamos de viver não seguisse
os passos da televisão quando, há umas décadas, prometia aos pais e
educadores ser "uma janela diferenciada para um mundo melhor"
oferecendo ao público uma programação voltada para a educação,
quando sabemos que hoje a generalidade dos canais de TV são
responsáveis por uma respeitável percentagem de iliteracia e de
abstenção da participação cívica dos seus espectadores.
Vivemos uma época social
caracterizada por um sistema complexo-adaptativo. Assim, caos,
auto-organização e adaptabilidade são algumas palavras-chave para
descrever este processo aparentemente contraditório que envolve a
sociedade, a escola, os educadores e os aprendentes. Talvez porque
desde a queda do muro de Berlim o mundo ocidental já não esteja
tanto dividido pelo peso das ideologias e os responsáveis
governativos se apercebam que o eixo da divisão se deslocou para a
análise dos indicadores que revelam o sucesso, ou não, da promoção
educativa das populações, incluindo-se nesse objectivo o domínio e
generalização das novas tecnologias da informação e da
comunicação.
Inclusão digital é, pois,
imperativa para todos os cidadãos se quisermos aceitar o desafio de
assegurar que a Europa seja reconhecida como uma referência pela
qualidade das suas instituições de educação e de formação,
garantindo que homens e mulheres de todas as idades tenham acesso à
aprendizagem e actualização ao longo da vida.