Um percurso cada vez mais cosmopolita
Universidade da Beira Interior assinala 34 anos com oito mil alunos
A Universidade da Beira Interior (UBI) assinalou 34
anos, numa data que este ano não pôde ser comemorada com a
tradicional sessão solene e entrega de bolsas de mérito. A pandemia
trocou as voltas ao país e às academias.
António Fidalgo, reitor da UBI,
fala precisamente dos novos tempos, do que mudou e do que pode
mudar. Em entrevista destaca o percurso da universidade que hoje
tem cerca de oito mil alunos e que, no seu entender tem ambiente
universitário dos mais intensos do país.
O reitor fala também de como a
UBI respondeu às contingências da pandemia, de como estão a
regressar as atividades presenciais, e como poderá ser o novo ano
letivo.
Depois da pandemia ter
obrigado as instituições de ensino a interromper as atividades
presenciais, foi recomendado pelo Ministério que as universidades e
politécnicos reiniciassem algumas dessas atividades. Como é que
isso está a ser feito na UBI?
Todo este processo foi feito de
uma maneira muito participada, através de reuniões com todos os
presidentes das faculdades e departamentos. Foi desta forma que
tomámos a decisão de encerrar as atividades presenciais e de as
reiniciar. No dia 30 de abril fizemos uma reunião onde foi
deliberado recomeçar com as atividades presenciais. Na verdade, a
UBI nunca esteve encerrada. Tivemos sempre cinco portarias abertas,
a sala de leitura (24) da biblioteca esteve a funcionar todos os
dias, as residências continuaram abertas - onde tivemos 300 alunos,
na sua maioria estrangeiros. Mantivemos em funcionamento uma
cantina, mesmo no Dia de Páscoa. O que desejamos, e queremos, é que
as aulas que obrigam à presença física reiniciem os seus trabalhos.
Temos docentes a lecionar desde o dia 11 de maio, sobretudo na
parte laboratorial. A biblioteca também já abriu as salas de
leitura maiores.
Esta é a melhor forma de
se preparar o novo ano letivo?
Estamos a reiniciar as atividades
presenciais e esta é a melhor forma de preparar o ano letivo. Neste
momento estamos todos a navegar à vista. Da Organização Mundial de
Saúde as mensagens vão-se alterando, nomeadamente quanto ao uso da
máscara ou o toque em objetos. Aquilo que estamos a fazer é, com a
máxima prudência, reiniciar o que interrompemos a 16 de março.
Continuamos a acreditar que a universidade é um local seguro. O
que estamos a assistir, não só ao nível do ensino, mas também nas
atividades económicas e sociais, é de alguma dificuldade das
pessoas perderem o receio. Houve o confinamento, cautela, mas agora
é preciso, com a mesma cautela, regressar à atividade
presencial.
A questão dos estágios
preocupa as instituições, pois não sendo possível a sua realização
nos casos que obrigam a contactos presenciais, há que encontrar
alternativas. Como é que a UBI está a ultrapassar esta situação
sobretudo na área da saúde?
Na área da saúde temos os exames
clínicos, mas o nosso propósito é que no dia 30 de junho os alunos
finalistas tenham os seus mestrados integrados concluídos. Mas não
só na medicina. O que pretendemos, em todos os cursos, é, quando
chegarmos a agosto, podermos entregar os diplomas. Queremos dar a
normalidade possível aos alunos e aos professores.
Quando em março, de uma
semana para a outra, tiveram que suspender as atividades
presenciais, como é que a Universidade reagiu, como é que docentes
e estudantes encararam e abraçaram as aulas a distância e os
colaboradores o teletrabalho?
De uma maneira muito positiva.
Desde 2013/14 que trabalhamos numa intranet dentro da universidade
com grande capacidade. E desde 2011 que praticamente não temos
papel no processo académico, pois é tudo feito digitalmente. De
alguma maneira estávamos preparados, pois caminhamos para os
escritórios sem papel. Numa outra perspetiva, as próprias
faculdades organizaram-se, houve muita solidariedade entre os
docentes, pois há professores que já trabalhavam há mais tempo com
ferramentas informáticas. Abrimos, na nossa intranet, um fórum
dedicado ao ensino online. O que dissemos é que não deveríamos
trabalhar apenas com uma ferramenta. Os alunos naturalmente têm
mais facilidade em se adaptar bem. No que respeita ao teletrabalho,
há profissionais que não são tão vocacionadas para isso, e aí o que
fizemos foi um horário contínuo.
E aos estudantes foi dado
apoio, sobretudo ao nível de equipamento?
Sim, desde logo mantendo alguns
espaços abertos, como a biblioteca, como atrás referi. Mas também,
no âmbito da parceria que temos com o Santander, criámos uma
rubrica de empréstimo de computadores a alunos mais
carenciados.
A UBI tem um conjunto
significativo de alunos estrangeiros, de que modo eles foram
acompanhados e apoiados?
Dos 1600 alunos estrangeiros que
temos a maior parte regressou aos seus países. O mesmo aconteceu
com os estudantes Erasmus. Dos 300 alunos que ficaram na
universidade apenas 17 eram nacionais. Procurámos criar condições
para todos. Aqueles que foram para os seus países, através das
ferramentas informáticas, mantiveram-se presentes mas, a distância.
Naturalmente que agora para as avaliações teremos que ter algum
cuidado, pois vão ter que ser feitas online. Há sempre uma maneira
excelente de fazer isso, que são os exames orais. No entanto, isso
torna-se problemático quando são turmas de 300 alunos. O que
estamos a fazer é, recorrendo a todo um conjunto de modos de
avaliação, poder avaliar os estudantes com justiça.
A resposta da UBI e das
outras universidades ao que o país precisa, como na realização de
testes, cedência de espaços ou equipamentos, produção de material
como viseiras, e a transferência de conhecimento para o terreno,
permitiu mostrar por um lado a importância das instituições, e por
outro a sua abertura à comunidade…
Desde o primeiro momento que nos
solidarizámos com Serviço Nacional de Saúde, com a cedência de
equipamentos ao hospitais da Cova da Beira e da Guarda, e com a
realização de testes à Covid-19 (através assinatura de protocolo
com o Ministério do Trabalho), numa sintonia estreita com as
autarquias da Covilhã, Fundão e Belmonte. Para além disso, a UBI
teve dois projetos selecionados na FCT, sendo que um deles foi o
mais bem avaliado.
Houve mesmo estudantes
que desenvolveram ações concretas, com a criação de plataformas na
internet sobre o comércio, ou de inaladores. Isto demonstrou o
espírito solidário da academia?
Sim, de toda a comunidade.
Naquela primeira semana tínhamos um cenário preocupante, tendo em
conta o que acontecia no norte de Itália e em Espanha, em Madrid. E
a nossa comunidade colocou-se ao serviço de todos, com as viseiras,
as máscaras ou os ventiladores. Felizmente a nossa região foi muito
pouco atingida e não chegámos a níveis críticos de ocupação dos
cuidados intensivos.
Relativamente ao próximo
ano letivo, já está definido o calendário de acesso ao ensino
superior, sente que a pandemia de Covid-19 poderá afetar a entrada
de novos alunos na UBI?
Há cenários diferentes. Há quem
defenda que vá diminuir como aconteceu na crise de 2012/13, onde
perdemos mil alunos, tendo-os recuperado nos anos seguintes. Também
não sabemos qual vai ser a repercussão nos estudantes
internacionais, sendo que neste momento as coisas estão a decorrer
bem. Caminhamos com todas as precauções, dialogando muito entre
nós. Aliás, o senado nunca, nos meus mandatos, reuniu tanto como
agora. Tem havido uma grande envolvência da comunidade académica
para fazer face, primeiro, à paragem e, agora, à retoma. Ninguém
pode dizer que o próximo ano letivo será normal. Há muitas
incógnitas. O lema que me tem guiado, e a todos os meus colegas, é
termos prudência, mas sem temor irmos avançando.
Que mensagem deixaria aos
jovens que agora se encontram a concluir o
secundário?
Que avancem e não tenham medo,
que cumpram os sonhos das suas vidas. Se querem tirar um curso
superior, é muito importante que o façam. Há que vencer receios. O
tempo da universidade é um tempo fantástico. A universidade é o
melhor sítio do mundo para passar os anos mágicos da juventude, de
conhecimento e de abertura ao mundo, em que os jovens entram na
vida adulta de maiores emancipados. Uma emancipação de juízo, de
fazer valer os seus critérios e de tomar decisões. É muito
importante os jovens vivam esta experiência extraordinária que é a
universidade.
Ao nível da oferta
formativa estão previstos novos cursos?
Temos avançado com alguma
precaução. No ano passado abrimos o curso de matemática, que tinha
sido interrompido há mais de 10 anos. É o único curso de matemática
a funcionar no interior do país. Estamos também a lançar a
licenciatura em físico-química. Estas foram as ofertas que mais
sofreram com a diminuição de jovens no ensino superior e com o
desemprego de milhares de candidatos a professores. O que
verificamos é que vai haver falta de professores. A classe docente
tem uma idade avançada, pelo que irão reformar-se bastantes
professores e é preciso substituí-los. A UBI nunca teve como
principal objetivo a formação de professores, mas temos a faculdade
de Ciências que tem todas as condições para isso. E esta tem sido
uma aposta nossa.
A UBI assinalou 34 anos,
num percurso que começou muito antes. Como é que avalia este
caminho, num altura em que a instituição continua a surgir em
rankings internacionais?
Foi um percurso de sucesso.
Começar em 1974, aqui nas faldas da Serra da Estrela, com o ensino
superior e depois com a criação da UBI, em 1986, temos que nos
sentir orgulhosos e com o sentido de missão cumprida. Olhando para
este percurso, temos que dizer que foi notável. Temos cerca de 8
mil alunos, o que é significativo.
Tem oito mil alunos mas
os ubianos são muito mais. Os antigos alunos têm merecido uma
atenção especial por parte da academia?
Desde que assumi as funções de
reitor que foi criado um gabinete de antigos alunos. Empenhámos
também os antigos alunos no órgão máximo da universidade, que é o
Conselho Geral, onde já temos quatro antigos alunos. E não tenho
dúvidas que no futuro a maioria das personalidades externas serão
antigos alunos. Hoje a UBI tem uma oferta fantástica, com mais de
30 licenciaturas, muitos mais mestrados e doutoramentos. Estamos em
velocidade cruzeiro, pelo que importa continuar este trabalho e
crescer sempre um pouco. Fomos a única universidade que, entre 2011
e 2018, fora de Lisboa, cresceu em número de alunos. Temos um
ambiente universitário que será dos mais intensos do país.