Editorial
Que novas competências escolares?
No seio da
maioria das famílias portuguesas e na generalidade das instituições
escolares os jovens são educados para desenvolverem uma cultura de
procura de um "emprego". Raramente os filhos e os alunos são
incentivados à criação/procura do seu "trabalho".
Esta aparentemente e pequena
distinção de cultura organizacional e de posicionamento perante a
vida revela-nos a grande diferença entre os que se situam num
modelo social dos primórdios do século XX e os que se integram na
sociedade global, de tecnologia aceleradamente evolutiva e que
prefigura a construção de uma sociedade de informação e de
conhecimentos multi-partilhados.
Em Portugal, se as escolas e os
educadores não cultivarem uma cultura de permanente aquisição de
competências de integração no tecido social e económico, estarão a
contribuir significativamente para que os nossos jovens engrossem
as fileiras dos inaptos e dos que um dia nem possam ser
considerados desempregados, dado que muitos deles, infelizmente,
nunca chegaram a ter qualquer actividade produtiva.
Revela-se, pois, necessário
perceber a grande mudança introduzida na economia pelo avanço das
novas tecnologias, pelo desenvolvimento dos mercados virtuais e
pela permanente deslocalização das empresas: os jovens terão que
ser preparados para identificarem as oportunidades que se lhes
deparem, transformando--as em actividades económicas viáveis. Em
trabalhos que os façam felizes desde que compreendam a necessidade
de formação ao longo da vida, face à mutabilidade do que outrora
era duradouro.
No entanto, e com poucas e recentes
excepções, o estudo das oportunidades e das particularidades da
sociedade globalizante não faz parte dos currículos escolares. E
esse descompasso não é só da escola. Também os currículos de
aprendizagem na família, na rua e nos grupos de pares (os
currículos informais e ocultos) raramente abordam estas temáticas.
Por isso, nunca é demais sublinhar que preparar os jovens para o
"emprego", hoje, é deseducar. É não desenvolver neles o
protagonismo, a iniciativa, inibindo a sua capacidade de inserção
autónoma na sociedade real.
Revela-se, então, essencial a
introdução nos planos de estudos, formais ou extracurriculares,
conteúdos e actividades que capacitem os estudantes a desenvolver
competências que os conduzam à iniciativa social, à participação
numa cultura de cidadania, com pleno conhecimento dos meios e dos
recursos que a sociedade lhes disponibiliza. Competências essas que
desenvolvam a vertente ética e deontológica das profissões e que
contrariem a actual tendência para o individualismo que, mais tarde
ou mais cedo, os pode arrastar para o fosso dos populismos que por
aí devaneiam.
No contexto das exigências da
sociedade do conhecimento e da tendência para a globalização dos
mercados, essa formação profissionalizante dos estudantes e a
construção de uma cultura centrada no saber, no saber fazer e,
sobretudo, no ser, revela-se fundamental para as instituições de
ensino que, também elas, queiram ser competitivas nas apertadas
teias dos sistemas educativos europeus. Se a globalização está
associada a uma aceleração do tempo e a uma progressiva integração
do espaço, então importa que estejamos abertos às exigências dos
processos irreversíveis que contagiam os agentes económicos.
Aprender a viver com isso é preocupação que deve nortear as
decisões estratégicas, das instituições de ensino, e dos
responsáveis pela educação, já que a questão que se lhes coloca é a
de saberem identificar e aproveitar as oportunidades que emergem de
uma economia internacional sem fronteiras.
A contemporaneidade exige que os
futuros profissionais possuam e demonstrem competências em diversas
áreas do saber e do saber fazer, muitas delas pouco tradicionais e
geralmente expurgadas dos templos de ciência estática em que se
transformaram as nossas escolas. Mudemos então essas escolas para
que possam voltar a desempenhar um papel fundamental em todo o
processo de formação dos novos cidadãos que se querem aptos a
viverem na sociedade da informação, sabendo assumir-se como líderes
audazes das próprias carreiras.
Sabemos que estes novos desafios obrigam a mudanças radicais nas
rotinas organizacionais das instituições. Mas sem mudança não há
futuro que valha a pena ser vivido.