Entrevista

António Estanqueiro, Professor e autor
A Arte de Comunicar com os Filhos

António Estanqueiro copy.jpgAntónio Estanqueiro é licenciado em Filosofia pela Faculdade de Letras de Lisboa, professor de Filosofia e Psicologia no ensino secundário e autor do livro Comunicar com os Filhos (Chancela da Presença). Educar e comunicar com os filhos é um desafio que envolve riscos e começa por saber escutar. O autor explica (por e-mail) o melhor método para um diálogo eficaz, tendo como base a verdade.

O primeiro capítulo de Comunicar com os Filhos chama-se Escutar os Filhos. Saber ouvir é uma virtude que se aprende?

Saber escutar os filhos é uma arte que se aprende e é o grande segredo da comunicação. Implica sobretudo dar tempo e atenção aos filhos e tentar compreender as suas ideias e os seus sentimentos. Só a atitude de compreensão garante que os filhos poderão confiar nos pais e fazer-lhes confidências no futuro. Quando os pais sabem escutar, os filhos aproximam-se e comunicam mais abertamente. Quando os pais não sabem escutar, os filhos afastam-se, fecham-se no seu silêncio ou revelam-se mais conflituosos.

De que forma podem os pais motivar os filhos para o estudo?

Adianta pouco dizer aos filhos que estudar é a sua obrigação. Os pais fazem melhor se valorizarem a escola e ajudarem os filhos a ver a utilidade do estudo para o seu desenvolvimento social e para a sua vida em sociedade. Um outro processo de motivar os filhos para o estudo é reforçar a sua autoconfiança, elogiando os sucessos e os seus esforços. Um jovem autoconfiante, que acredita em si próprio, empenha-se mais e conquista o sucesso. Quanto mais sucesso, mais motivação! 

Como é que se podem orientar os jovens para escolher um curso que vá ao encontro da sua vocação, mas também das necessidades do mercado de trabalho?

Os pais devem acompanhar com atenção o percurso escolar dos filhos, procurando conhecer as suas motivações e os seus interesses. O papel dos pais não é forçar os filhos a tirar determinado curso, mas ajudá-los a fazer escolhas conscientes e responsáveis, tendo em conta as tendências do mercado de trabalho. Para isso, é fundamental recorrer aos serviços de orientação disponíveis nas escolas, sobretudo no 9º ano e no 12º ano, que são anos decisivos para a escolha dos cursos. Sabemos que nem todos os jovens precisam de um curso superior para a sua realização pessoal e social. Em muitos casos, os cursos profissionais são a melhor opção. Seria bom que alguns pais não alimentassem preconceitos em relação ao ensino profissional.

Os trabalhos de casa têm suscitado posições contrárias entre os educadores. Qual a sua opinião sobre os trabalho de casa?

Sou a favor dos trabalhos de casa, desde que sejam pedagogicamente pertinentes e estejam ao alcance das capacidades dos alunos. Na dose certa, os trabalhos de casa são um bom complemento das aulas, estimulam a revisão de conteúdos ou o treino de competências e promovem a autonomia e a responsabilidade dos alunos no processo de aprendizagem. Mas sou contra os trabalhos de casa excessivos ou demasiado difíceis, que os alunos não conseguem fazer sozinhos, mesmo que se esforcem. Acho injusto que a realização dos trabalhos de casa, pedidos pelos professores, dependa da disponibilidade e das habilitações dos pais ou da ajuda de explicadores. Fazer os trabalhos de casa é uma responsabilidade dos filhos.

Dizer sempre a verdade é fundamental na educação dos filhos?

Defendo que os pais devem dizer a verdade, só a verdade, sempre a verdade, mas não necessariamente toda a verdade. Omitir certas verdades não é mentir. De vez em quando, há razões que aconselham a não dizer toda a verdade. Mas mentir aos filhos é um erro grave. A mentira destrói a autoridade dos pais. Quando os filhos descobrem que são enganados, perdem a confiança nos pais. A educação faz-se pelo exemplo. Se os pais mentem, não conseguem ensinar aos filhos o valor da verdade.

No livro Comunicar com os Filhos, afirma: "A verdade é que a pressão torna o filhos prisioneiros da ambição dos pais. Numa palavra: infelizes." A felicidade nem sempre se encontra no caminho para o sucesso?

Essa pergunta conduz-nos à reflexão sobre os efeitos negativos da pressão para o sucesso. Os pais fazem bem em interessar-se pela vida escolar dos filhos, mas é arriscado pensar apenas no rendimento escolar. Se os pais exigem sempre os melhores resultados, custe o que custar, perturbam o equilíbrio emocional dos filhos, estimulam a competição, reforçam o individualismo e destroem o verdadeiro desejo de aprender. Os pais devem exigir esforço, de acordo com as capacidades dos filhos, e valorizar os esforços realizados, não apenas os sucessos obtidos. O objetivo da educação é promover o desenvolvimento integral dos filhos, tornando-os pessoas equilibradas e felizes.

Qual é a atitude que os pais devem ter quando o filho está a ser vítima de bullying?

A primeira atitude dos pais é conversar com os filhos e oferecer-lhes apoio incondicional. Depois, será útil comunicar com o diretor de turma. Compete à escola cuidar a formação cívica dos alunos, usar sistemas de vigilância nos espaços abertos e castigar os agressores. A cooperação da escola com a família permitirá identificar e resolver algumas situações de violência física. Se a violência persistir na escola, vale a pena ponderar a transferência dos filhos para uma escola mais segura e acolhedora. Quando se trata de violência psicológica, é prudente guardar as mensagens ofensivas e ameaçadoras, recebidas através do telemóvel ou da Internet. Um dia, poderão ser necessárias.

E quando o filho é o agressor?

Nesse caso, os pais devem intervir prontamente, para travar os comportamentos inaceitáveis. É fundamental que os filhos reflitam sobre o sofrimento que causam às suas vítimas e desenvolvam competências sociais. Quando os filhos praticam a violência física ou psicológica, de forma intencional e repetida contra os colegas mais fracos, revelam descontrolo emocional, egocentrismo e cobardia. Como primeiros educadores, os pais têm obrigação de cultivar nos filhos os valores do respeito e da solidariedade em relação aos outros.

Defende como estilos educativos o estilo participativo e o diretivo. Como define estes estilos?

O estilo diretivo e o estilo participativo são dois modos eficazes de exercer a autoridade. Usando o estilo diretivo, os pais tomam decisões, sem consultar os filhos, definem regras e limites, dizem claramente o que fazer e como fazer. Em geral, é o estilo aconselhável para orientar as crianças. Na educação dos adolescentes, será mais adequado o estilo participativo, que implica diálogo e negociação. A participação dos filhos na tomada de decisões permite prevenir ou resolver alguns conflitos. Os pais devem adotar um ou outro destes estilos educativos, com flexibilidade e bom senso, tendo em conta a maturidade dos filhos e as circunstâncias concretas. O essencial é evitar o autoritarismo e a permissividade.

Direitos Reservados
 
 
Edição Digital - (Clicar e ler)
 
 
Unesco.jpg LogoIPCB.png

logo_ipl.jpg

IPG_B.jpg logo_ipportalegre.jpg logo_ubi_vprincipal.jpg evora-final.jpg ipseutubal IPC-PRETO