Quatro Rodas
À velocidade do som
Para a crónica de hoje, inspirei-me na
visita que recentemente efetuei ao Sinsheim Auto & Technik
Museum, onde passei alguns minutos a admirar o "The blue flame".
Trata-se do primeiro veículo automóvel a ultrapassar a velocidade
de 1000 Km/h, sendo o detentor deste record durante mais de uma
década. É uma verdadeira peça de arqueologia tecnológica, que não
podia estar melhor enquadrada, não fora este um dos museus mais
ricos da história da tecnologia do século XX. Nessa altura veio-me
também à memória o tempo em que tinha na minha caderneta o cromo do
"Blue bird", no lugar do carro mais veloz do mundo e único a
quebrar este record em solo australiano.
Vamos, pois, escrever sobre estes
records de velocidade automóvel. Temos primeiro que viajar no tempo
e fixar-nos, no início do século XX, quando, em 1902, o Automobile
Club de France se auto proclamou entidade certificadora de records
de velocidade. Não foram os únicos a reivindicar esta competência,
mas foram os que tiveram mais notoriedade, e é neste ambiente de
reivindicação de competências que aparecem os primeiros
registos.
Conta a história que foi em
Dezembro de 1898, mais precisamente no dia 18, na localidade de
Achères, nos arredores de Paris que se estabeleceu o primeiro
record de velocidade. O seu piloto era o francês Gaston de
Chasseloup-Laubat que conduziu um "Jeantaud" (carro à esquerda na
foto), e fixou este record em 92.78 Km/h. Menos de uma mês depois,
e no mesmo local, o belga Camille Jenatzy levou o seu "Jamais
Contente" (à direita na foto) a ultrapassar pela primeira vez os
100 km/h, sendo o primeiro a quebrar um record anteriormente
estabelecido. Como curiosidade, fica o registo que estes veículos
eram ambos propulsionados por motores elétricos.
Só em 1924 a AIACR (Association
Internationale des Automobile Clubs Reconnus), introduziu regras
precisas, para homologação de records. Assim para que um record de
velocidade pudesse ser considerado, o veículo e piloto teriam de
efetuar duas passagens no percurso em sentidos opostos, para anular
o efeito do vento. O valor do record seria a média da velocidade
atingida em cada uma das duas passagens, que teriam de ser
efetuadas num intervalo inferior a 30 minutos. A medida do tempo
tinha uma precisão de centésima de segundo e para o record ser
considerado, teria que ultrapassar em 1% o valor do anterior
record.
Desde então muitas coisas mudaram
no mundo automóvel, e em 1947 a AIACR deu lugar à FIA (Federation
Internationale de l'Automobile) que é ainda hoje quem que regula e
homologa estes records. O processo mantém-se quase inalterável, mas
desde essa altura vários foram os nomes de pilotos e automóveis que
foram quebrando o record.
Quase um século depois do feito do
"Jeantaud", o projeto britânico "ThrustSSC" estabelece, em outubro
de 1997, o que ainda hoje é considerado o record de velocidade de
um veículo automóvel, com o impressionante registo de "Mach 1.016",
o que quer dizer que quebrou a barreira do som fixando o record em
1.227,9 km/h.
Já passaram mais de 16 anos sobre a
data em que o "ThrustSSC" estabeleceu a sua marca. De facto nunca
tinha passado tanto tempo para se quebrar um record de velocidade
automóvel. Pelos vistos os record de velocidade que agora são
anunciados, já não são batidos nas pistas, mas sim nos
microprocessadores e nas fibras ópticas…coisas do presente.