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Bocas do galinheiro
Nick’s movies

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Nicholas Ray é, sem sombra de dúvidas, um dos realizadores que se descobrem a cada filme que vemos, ou revemos. Podia começar por esse monumento que é "Johnny Guitar", de 1954, com Sterling Hayden e Joan Crawfor, que é como quem diz Johnny e Vienna, cinco anos depois de um grande amor? Ou pelo menos amantes. Ela dona de um saloon e tem um novo amante, Dancing Kid (Scott Brady). Mas também uma fita de recordações, amores e desencontros, ódio, de Emma e Vienna, por causa de Kid, e morte, muitas mortes. Na altura foi desancado pela crítica, não pelo público (onde é que já vimos isto) e como muitos filmes e realizadores americanos dos anos 50, será resgatado pelos Cahiers, via François Truffaut, alcandorado a cult movie. Antes de voltarmos às suas grandes obras, que foram muitas, lembremos "Lightning Over Water" ou "Nick's Movie", uma espécie de diário a duas vozes sobre os últimos momentos do realizador, uma das mais estranhas e comoventes homenagens a Nicholas Ray, que morreria pouco tempo depois vitima do cancro que o destruía, num documentário que filma com Wim Wenders (Wenders conheceu e admirava Ray e tinha-o convencido a participar como actor num dos seus filmes, "O Amigo Americano" em 1977), um filme que nos mostra as suas últimas semanas de vida, algumas no hospital, e a cena final de um barco, no rio Hudson, que transporta as suas cinzas E é nesta obra, estreada já depois da morte de Ray que aparecem
excertos do filme que escolheu para ser visto na homenagem que lhe fizeram no Vassar College, e um dos seus filmes favoritos e que dirigiu em 1952 para a RKO "The Lusty Men" (Idílio Selvagem), a história de um veterano dos rodeos, Jeff McCloud (Robert Mitchum) e um candidato a campeão, Wes Merrill (Arthur Kennedy), e a mulher deste Louise, Susan Hayward, por quem Mitchum se apaixona e lhe propõe partir com ele. Perante a nega dela vinga-se em Wes, na luta, e nos rodeos, até um acidente fatal. Morre nos braços de Louise, que com Wes parte à procura de uma nova vida. Um filme sobre a solidão, mesmo dos que aparentemente têm companhia, sobre a ambiguidade das relações. Mais um, dos muitos filmes de Ray em que o fio condutor são as relações humanas, seja qual for a forma porque se manifestam. E daqui podemos dar o salto para mais duas obras-primas do realizador, "Bitter Victory" (Cruel Vitória, 1957) e "Rebel Without a Cause (Fúria de Viver, 1955). No primeiro temos o triangulo Richard Burton (Capitão Leight), Curd Jurgens (Major Brand) e Ruth Roman (Jane Brand). Burton e Ruth amaram-se, mas Ruth casou com Jurgens. Reencontram-se em Bengazi,em plena II Guerra Mundial, onde os soldados preparavam uma operação sobre o quartel-general alemão para se apoderarem de documentos secretos. O major só mais tarde vem a saber do passado de ambos. E é sem quaisquer escrúpulos que, sem nada fazer, deixa um escorpião picar fatalmente Burton. Vingou-se, mas é Burton, que perante uma tempestade de areia se coloca sobre o corpo do "inimigo", salvando-lhe a vida. Quando Ruth sabe que o marido nada fez para evitar a morte de Burton, deixa-o. Uma exploração sublime de sentimentos contraditórios, em que no fim saem todos a perder. Em "Fúria de Viver", voltam a ser três: James Dean (Jim Strk), Sal Mineo (Plato) e Natalie Wood (Judy). Um trio que se desfaz, ficam Judy e jim, e Plato à deriva, até ao trágico desfecho final. Pelo meio destemidas corridas de carros, também com final nada feliz. Outro dos filmes do director que merece nota alta é sem dúvida "In a Lonely Place" (Matar ou não Matar, 1950), a segunda colaboração de Nicholas Ray com Humphrey Bogart, o outro foi outro filme negro, tal como este, "Knock on any Door". Bogart é Dixon Steele, um argumentista de cinema em crise criativa, assolado por acessos de violência, o que o transforma em suspeito número um do assassinato de Mildred (Martha Stewart). Acossado pela polícia encontra em Laurel (Gloria Grahame), na altura mulher de Ray, apesar de já não viverem juntos, separaram-se mesmo durante a rodagem, o amor que lhe traz de volta a vontade de escrever. Até que volta à policia, e o seu eu violento volta ao de cima, bem como a sua dificuldade de relacionamento. O que acaba por destruir aquela bela relação. Um grande filme de Ray, mas também de Bogart, que para o caso também foi o produtor. Por isso Godard disse um dia que "e o cinema é Nicholas Ray!". "Bigger Than Life", "King of Kings", ou mesmo "55 Days at Peking"o maior fracasso da sua carreira, a primeira e única incursão de Ray nas super produções de Hollywood, e outros, mereceriam um olhar mais atento. Quando a ele voltarmos.

Até à próxima e bons filmes!

Luís Dinis da Rosa
Este texto não segue o novo Acordo Ortográfico
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