Primeira Coluna
Quem mais estuda, mais ganha
Já o aqui escrevi nesta mesma
coluna, e volto a reafirmá-lo: a qualificação de um povo é o melhor
ativo que um país pode ter. Regresso a este tema devido a um estudo
que o Conselho Nacional de Educação divulgou, este mês, onde refere
o facto de uma pessoa com curso superior poder vir a ganhar, na sua
vida profissional ativa (entre os 20 e os 65 anos), mais 1,7
milhões de euros que um trabalhador que apenas tenha o
9º ano de escolaridade.
O estudo tem como rosto o
economista do Banco de Portugal, Mário Centeno, e foi feito, a
pedido do Conselho Nacional de Educação, a partir da evolução do
salário real médio por nível de ensino e idade no setor privado. Os
números assustam? Claro que assustam, mas também evidenciam que o
mercado de trabalho cada vez mais reclama por colaboradores
qualificados e habilitados aos desafios de um mundo mais global e
exigente.
Sempre me fez muita confusão a
ideia de que nem todos podem ser «doutores» ou nasceram para ser
«doutores». E se há quem profira tamanho disparate por
desconhecimento, ou por circunstâncias da vida, há quem o faça
consciente que assim é que deve ser, para que, de preferência, só
uma elite social possa ter o direito de concluir um curso superior.
Infelizmente ainda há muita gente a pensar assim, mesmo com
responsabilidades na matéria. Isso preocupa-me. Mas felizmente uma
grande maioria não pensa desse modo.
Os últimos anos, em que o país
mergulhou numa crise económica profunda, onde até os jovens foram
convidados a emigrar, com a ideia que lhes foi vendida de que em
Portugal não havia oportunidades para eles; onde se criou a ideia
de que um curso superior não faz falta, porque isso não é garante
de trabalho; afastaram com certeza muitos alunos, que concluíram o
ensino secundário, do ensino superior.
Muitas famílias, em dificuldades,
fizeram escolha do imediato e não do futuro. Mas também para esses
antigos alunos a história não acabou. Milhares de diplomados
concluíram as suas formações superiores como trabalhadores
estudantes. E não se ficaram apenas pela licenciatura, prosseguiram
para mestrados e doutoramentos. É duro? Claro que sim. Mas é
possível e desejável.
Hoje Portugal está servido de uma
rede de ensino superior público que garante aos jovens de todas as
regiões puderem frequentar uma universidade ou politécnico sem
terem que se deslocalizar. É verdade que as propinas e todas as
despesas associadas a um curso superior, são muitas vezes entraves.
Mas também nessa matéria as instituições de ensino estão atentas. O
desejável é que nenhum estudante fique de fora do ensino superior
devido a dificuldades financeiras. O importante é que os jovens
assumam um compromisso para consigo mesmos que vão tirar um curso
superior, que se vão qualificar para enfrentar os desafios
profissionais futuros não só em Portugal como no estrangeiro.
Porque hoje até há programas de mobilidade internacional, que
permitem aos alunos frequentarem um semestre num outro país da
União Europeia, abrindo-lhes assim novas visões sobre a vida.
O número de vagas colocadas no
concurso nacional de acesso para as instituições de ensino superior
público tem superado o de candidatos. Significa isto que haverá
sempre um lugar em aberto para quem desejar tirar um curso
superior. Pode não ser aquele com que se sonhou, mas será aquele
que, sendo o possível, garantirá um passaporte para uma viagem de
saberes, qualificações e vivências, num contexto competitivo e
exigente, porque só assim se vence o futuro. E bolas, 1,7 milhões
de euros é muita massa!... Vale a pena pensar nisso.