Daniel Hernández Ruipérez, reitor da USAL
Salamanca ganha Campus Internacional
Salamanca ganha Campus de Excelência
Internacional
Fundada em 1218, a Universidade de Salamanca (USAL)
é uma das mais conceituadas da Península Ibérica e uma referência
no ensino superior do velho continente. Anualmente muitos são os
estudantes portugueses que procuram aquela instituição para ali
tirarem os seus cursos. A área da medicina é uma das mais
procuradas, mas as pós-graduações, como os doutoramentos também
levam muitos portugueses e alunos de outras nacionalidades, a
escolher a Universidade de Salamanca.
Com mais de 30 mil alunos, a Universidade de Salamanca é a segunda
universidade de Espanha onde estudam mais alunos que não são
oriundos da sua região. Daniel Hernández Ruipérez, reitor da
USAL, explica ao Ensino Magazine quais os desafios que a
universidade tem pela frente, a forma como Bolonha foi implementada
e suas as implicações, e as relações com Portugal.
Quais os
desafios que se colocam à Universidade para os próximos anos?
A Universidade de Salamanca tem que
se saber transformar para ser uma universidade do século XXI. Isso
implica mudanças estruturais que, em momentos de crise como a que
actualmente vivemos, não são fáceis de implementar. Além disso
temos também pela frente dois desafios importantes: as comemorações
do seu 800º aniversário - os quais incluem diferentes actividades
-, e o desenvolvimento do nosso Campus de Excelência Internacional,
o qual teve o parecer positivo do Ministério da Educação, e que nos
coloca na linha da saída para transformar numa universidade de
referência, nas áreas em que hoje estamos mais desenvolvidos:
estudo da língua espanhola e em diversas áreas científicas como a
oncologia ou neurociências, entre outras.
No mercado
global, onde há uma forte concorrência entre as universidades, que
plano estratégico delineou a Universidade de Salamanca para manter
o seu prestígio?
Desenvolvemos, numa primeira fase,
um Plano Estratégico parcial, através do qual conseguimos ser
Campus de Excelência Internacional. Neste momento estamos a alargar
esse plano parcial, a um global que tem que fomentar não só uma boa
docência, mas também uma investigação competitiva, e incrementar a
transferência tecnológica junto do tecido empresarial. Este plano
deve ser implementado sem abandonar os estudos fundamentais de
ciência básica e de humanidades, que foram a fonte de prestígio da
nossa universidade durante 800 anos.
Em que mais
áreas vai incidir esse plano?
Queremos ser a universidade
referência no estudo da língua espanhola. Algo que de certo modo já
somos. Depois temos outros eixos estratégicos importantes, como a
aposta em áreas em que temos tradição, como a jurídica e
humanística. Há ainda a aposta nas áreas científicas e na
transferência tecnológica.
O ensino a
distância é outra aposta da Universidade?
Sim. O ensino a distância deve ser
complementar do ensino presencial. Podem-se desenvolver formações
que sejam desenvolvidas na sua quase totalidade no regime de ensino
a distância, mas haverá sempre uma parte em que o contacto directo
com o professor é importante. É evidente que já existe a
possibilidade do aluno e o professor falarem através, por exemplo,
do skype ou do messenger, mas não é a mesma coisa que um contacto
presencial.
Ou seja
defende um ensino b-learning?
Qualquer um dos três modelos -
totalmente presencial; a distância e presencial; ou apenas a
distância - me parece positivo. No entanto, no futuro o modelo
misto será o mais interessante.
Qual tem
sido a relação da Universidade de Salamanca com as instituições de
ensino superior portuguesas?
Temos uma forte relação com a
Universidade de Coimbra, através da qual temos um programa de
titulação conjunta que vai até aos cursos de doutoramento. Além
disso, temos boas relações com as universidades do Porto, Beira
Interior, Lisboa, Lusófona, Instituto Superior Técnico, ou com o
Politécnico de Bragança, entre outras instituições. Neste momento
temos em curso um programa de desenvolvimento com as universidades
do Norte de Portugal, no âmbito Macro Região Europeia, o qual
envolve as regiões espanholas de Galícia e Castilla e Leon.
Esses
projectos a desenvolver em conjunto são de que áreas?
Estão relacionados com o
desenvolvimento económico, social, científico, e de investigação.
Neste momento há várias comissões de trabalho que já estão a
funcionar.
De que
forma Bolonha alterou o ensino na Universidade de Salamanca?
Bolonha pressupõe uma grande
mudança no modo de ensinar, desde logo no que respeita ao paradigma
educativo. Aos estudantes nós temos que lhes ensinar a fazer coisas
e não os conteúdos delas, como sucedia anteriormente. Os objectivos
e o sistema de ensino requerem mais dedicação e tempo dos
professores, o que obriga a uma mudança organizativa das
universidades.
E Salamanca
está a saber corresponder a esse desafio?
Este ano todos os primeiros cursos
estão a funcionar de acordo com Bolonha. Ou seja, a integração é
completa, apenas as licenciaturas que começaram há alguns anos
atrás, ainda estão com o modelo antigo. É evidente que fazer
estas mudanças numa altura de restrição económica torna a tarefa
mais difícil. Mas existe um compromisso e empenho de toda a
Universidade em implementar Bolonha.
Ao nível do
corpo docente, esse novo modo de ensinar já está enraizado?
Este é um processo lento. Há
professores que já vinham a implementar este modelo, pelo que para
eles Bolonha não é novidade. Há outros em que a implementação de
Bolonha implicou muitas mudanças ao nível das metodologias.
Metodologias através das quais os próprios professores se haviam
formado, pelo que a mudança torna-se mais difícil. Mas o importante
é que está a ser feita.
Bolonha
pressupõe uma maior abertura do espaço europeu de ensino superior.
Mas nem todos os países adoptaram o tempo de formação inicial de
forma igual. Por exemplo, em Portugal a licenciatura é apenas de
três anos e em Espanha de quatro. Isso cria dificuldades de
articulação entre as instituições?
Sim. Isso verificou-se quando
desenvolvemos o programa de titulação conjunta com a Universidade
de Coimbra. Mas são situações que conseguimos resolver. É evidente
que é mais fácil articular esse tipo de programas nas
pós-graduações. É uma pena que na Europa não tenhamos estado de
acordo em eleger uma coisa ou a outra.
A
reorganização da rede de ensino superior em Espanha é uma
necessidade?
É uma questão polémica. Existe o
sentimento comum de que o nosso país tem imensas universidades. Mas
também é verdade, que depois de estarem criadas é muito difícil
fechá-las ou tentar uni-las. Muito provavelmente continuaremos como
estamos. O que acontece é que em muitas acções as universidades já
desenvolvem projectos comuns. Exemplo disso foi o programa lançado
pelo Ministério da Educação para a criação de Campus de Excelência
internacionais, em que muitas universidades concorreram em
conjunto. Ou seja, de alguma forma as instituições já se estão a
agrupar para desenvolverem determinadas acções ou programas.
E nessa
lógica de agrupamentos, não surge desconfiança de umas
universidades para com as outras?
Isso faz parte da condição humana.
Mas todos temos a consciência que esse tipo de situações devem ser
ultrapassadas, pois todos juntos seremos mais fortes. Ao reunirmos
as potencialidades de três ou quatro universidades ficamos com a
capacidade de desenvolvermos projectos mais ambiciosos e
interessantes. Cooperando uns com os outros, todos ganhamos.
O mercado
português é apetecível para a Universidade de Salamanca?
Há já muitos alunos portugueses a
estudar aqui. Para alguns estudantes portugueses, a Universidade de
Salamanca é a instituição de ensino superior de maior dimensão que
está mais perto das suas regiões. Ou seja, a proximidade é
importante. Nos últimos anos temos tido muitos alunos portugueses
nas áreas de medicina e bio-sanitária. Penso que o mercado
português é apetecível para a Universidade de Salamanca, como
Espanha é um mercado apetecível para as instituições
portuguesas.