1ª Coluna

Primeira coluna
A insustentável leveza do ser

IMG_1620.jpgVivemos numa sociedade em que a escola é constantemente posta à prova, onde os valores, a ética e a tolerância assumem interpretações diferentes, levadas ao extremo por aqueles que se acham representantes da razão, onde tudo pode ser utilizado para criticar e para apontar o dedo acusatório.
No último mês ficámos a saber que nas escolas não se deve brincar ao carnaval. Quer--se dizer, pode-se brincar, mas sem colocar as coisas a preto e branco, pois há sempre o risco de acusarem o estabelecimento de ensino de ser racista e de o mesmo estar a levar as crianças e os jovens a cometerem atos racistas. Isto é, mesmo fazendo uma brincadeira, porque o Carnaval é isso mesmo, sobre as culturas e costumes de vários povos, alunos e professores foram rapidamente acusados de estarem a ser racistas, porque alguns dos intervenientes nesse carnaval se disfarçaram de africanos e de gente de outras latitudes. Tenho um amigo que se disfarçou de mexicano, e já o avisei, eu que sou africano de nascimento e que tenho muito orgulho no continente que me viu nascer, que deveria ter cuidado com os seguidores do presidente do Estados Unidos da América, Donald Trump.
Certamente que para o ano, ou não, vamos ter carnaval nas escolas. Mas quem arriscar terá que o fazer a cores, para evitar questões xenófobas ou de igualdade de género. E assim, não deverá haver problema. Fora do período carnavalesco também deve haver cuidado. Recentemente fui confrontado com um relato de que no âmbito da educação para a cidadania, uma determinada associação fez um jogo na escola, em sala de aula, para promover a igualdade, a tolerância ou a solidariedade. O jogo, simples, fez com que num ápice, alunos, de 13 e 14 anos, tivessem que encarnar personagens de toxicodependentes, prostitutas, homossexuais, ciganos, ou refugiados, entre outras. Não entendi e voltei a perguntar. Que sim, que foi assim. Continuo com dificuldade em perceber a atividade. Cada um é como é, devemos respeitar-nos uns aos outros e apoiar aqueles que precisam, de facto, de ajuda. A isso se chama viver em sociedade e em democracia, com direitos e deveres. Não é com fundamentalismos que se faz o caminho e muito menos com imposições desta ou daquela doutrina, desta ou daquela orientação.
Em nenhuma circunstância poderemos admitir que a escola pública possa ser instrumentalizada. É o local onde os nossos filhos passam mais tempo, durante o dia, que estamos a falar. É lá que os pais sentem confiança e segurança. É lá que os alunos devem aprender as diferentes matérias. É lá que criam as suas relações interpessoais, entre pares, que também crescem. Assusta-me a ideia da escola poder ser instrumentalizada em valores como a ética, a religião, a xenofobia, a igualdade de género. A escola não é isso. Não pode ser isso. Não queremos que o seja. Não queremos que a escola seja utilizada como argumento para aproveitamentos extremistas. Porque é disso que estamos a falar. Sempre defendi que o ensino não tem fronteiras, e não ter fronteiras significa ter-se a capacidade de eliminar barreiras, de integrar, de incluir, de partilhar saberes, de produzir conhecimento e ciência, independentemente da raça, do credo, ou da orientação de cada um. E para que isso se faça, não precisamos que brinquem com a escola (ou a coloquem em causa) por esta, uma vez por ano, brincar ao carnaval, e por no resto do calendário ser desafiada por outros que querem brincar…

 
 
Edição Digital - (Clicar e ler)
 
 
 
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