O
coordenador do Departamento de Epidemiologia do Instituto Nacional
Dr. Ricardo Jorge (INSA), Carlos Dias, explicou que a amostra
desenhada pretende representar a população portuguesa de todas as
idades de modo a obter estimativas nacionais, estratificadas por
região de saúde e por grupos etários específicos.
O inquérito
sorológico tem como finalidade conhecer a percentagem de pessoas
que têm anticorpos contra o novo coronavírus SARS-CoV-2, que vai
ser calculada a partir de uma amostra que envolve 350 crianças
menores de 10 anos e 1.720 pessoas com idades superiores, adiantou
o investigador.
Os
investigadores consideraram que seria "muito importante" estudar
também "as crianças abaixo dos 10 anos porque é um grupo que não
tem sido muito atingido por esta pandemia e, portanto, importa
perceber se isso se reflete no maior tipo de anticorpos ou não.
Segundo
Carlos Dias, "o primeiro estudo vai servir simultaneamente como
estudo-piloto e como primeiro inquérito e vai provavelmente ser
feito durante o mês de maio", contando com a colaboração de uma
rede de cerca de 120 laboratórios de análises clínicas ou hospitais
parceiros do projeto.
Os
laboratórios vão convidar os utentes que se dirigem para fazer
análises de rotina de controlo dos seus problemas para "doarem um
pouquinho de sangue" para depois no Instituto Ricardo Jorge se
poder determinar a concentração de anticorpos contra este
vírus.
Os
participantes no estudo, poderão receber os resultados do teste
serológico, se assim o entenderem.
"Nas
crianças como a colheita de sangue é sempre um ato mais difícil que
impressiona as crianças e os pais, etc., vamos socorrer-nos dos
serviços hospitalares de pediatria que já colaboram com o
Laboratório de Doenças Respiratórias do INSA para que sejam
amostras recolhidas nesses locais por outros assuntos",
explicou.
A propósito
de o estudo poder estimar a percentagem da população imune à
covid-19, o investigador afirmou que "a questão da imunidade é uma
questão complexa" e que se trata de um vírus novo para o qual ainda
não existe vacina.
"Quando
falamos em imunidade aquilo que nós pensamos é que eu estou imune a
uma doença, ou seja, se o microrganismo me infetar o meu corpo
reage contra ele. Ora, entre o microrganismo me infetar e o meu
corpo reagir contra ele, que é a resposta normal, existem, no
entanto, várias fases, vários fatores que podem afetar essa
resposta", referiu.
O
investigador explicou que essa reposta "pode ser mais intensa,
menos intensa, pode ser feita já com memória anterior desse
contacto ou sem memória. Ora este vírus é novo, portanto, vamos ter
muitas pessoas que nunca contactaram com este vírus".
Por outro
lado, não existe ainda uma vacina para o corpo ter memória contra
este vírus. "É cedo ainda para dizermos que se nesta amostra
verificarmos a existência de pessoas com anticorpos contra este
vírus, isso significa que elas estão imunes contra este vírus e,
portanto, terão formas menos graves desta doença, não terão doença,
etc", adiantou.
"O que vamos ter é a proporção de pessoas
na população, uma estimativa, que no seu sangue tem anticorpos, tem
moléculas que reconhecem o vírus e que em princípio lhe estarão a
conferir algum grau de imunidade, mas esse grau pode ser muito
fraco e até muito forte", salientou.
O investigador referiu que são esses
dados e essa informação que fazem com que sejam necessários mais
estudos, além deste.
Segundo Carlos Dias, este trabalho será
repetido regularmente, fazendo uma série de estudos transversais,
de acordo com a evolução da epidemia de modo a monitorizar a
evolução do nível de anticorpos contra SARS-CoV-2 na população
portuguesa.