Primeira Coluna
Cheque mate ao superior?
As instituições de ensino superior
públicas portuguesas estão a sofrer um dos maiores ataques de que
há memória ao seu funcionamento e, por conseguinte, à sua missão.
Depois de no início do verão o Governo ter alertado as instituições
para cortes no seu orçamento na ordem dos 3,5 por cento, a
realidade é que esses cortes podem ultrapassar a barreira dos oito
por cento. O presidente do Conselho Coordenador dos Institutos
Politécnicos, Sobrinho Teixeira, fala num corte médio de 11 por
cento. O Conselho de Reitores, pela voz do seu presidente, António
Rendas, fala numa redução de 9,4 por cento.
A situação é de ruptura. Tanto
universidades como politécnicos já sublinharam que vai chegar uma
altura em que não haverá dinheiro para pagar vencimentos. As
instituições já demonstraram estar solidárias com a situação que o
país atravessa, mas também recordam que a grande maioria apresenta
gestões positivas. Universidades e politécnicos rejeitam, por isso,
qualquer responsabilidade no aumento do défice público. A redução
dos orçamentos das instituições acontece há vários anos (entre 2005
e 2012 reduziu-se em 144 milhões e, caso se mantenha a vontade do
Governo, em 2013 atingirá os 200 milhões - refere o Conselho de
Reitores).
Na sua história recente,
universidades e institutos politécnicos têm sabido gerar receitas
próprias. Não só através das propinas pagas pelos alunos (no último
ano houve um aumento significativo de estudantes que deixaram de
ter possibilidades de as pagar, por falta de dinheiro das
famílias), mas também por trabalhos efectuados à comunidade e por
projectos de investigação. Acontece que a comunidade está, também
ela, sem dinheiro, e em muitos projectos de investigação ou de
investimento, o Estado português nem sempre está disponível para
assegurar a componente nacional.
O dramatismo deste cenário levou já
o Conselho de Reitores a ameaçar com uma greve. Universidades e
Politécnicos estão juntos naquilo que consideram ser um violento
ataque ao ensino superior público português.
Em tempos de crise há sempre a
tentação de dizer que há instituições a mais, que há ofertas
formativas a mais e, mais grave do que isso (como li recentemente
no facebook), promove-se a ideia que nem todos podemos ser doutores
ou engenheiros. Se calhar não, mas todos os cidadãos devem ter essa
oportunidade. O acesso ao ensino e a uma qualificação, neste caso
superior ou tecnológica, é um direito que assiste a todos os
portugueses. Portugal continua muito atrás nos principais rankings
internacionais no que respeita à qualificação superior da sua
população. Não, não temos licenciados a mais. Não, não temos
mestres a mais, nem doutorados a mais. A educação e a formação são
e serão sempre mais valias, não só no capítulo profissional, mas
também no pessoal e na identidade de uma nação. Estaria bem melhor
o país se tivesse mais gente qualificada superiormente.
Os anunciados cortes no orçamento das instituições de ensino
superior públicas portuguesas podem constitui um duro golpe na
qualificação do país. Espera-se por isso que haja bom senso por
parte do Ministério da Educação e Ciência, de forma a que o nosso
país possa continuar a garantir a formação superior dos seus
filhos. Se assim não for, talvez daqui a alguns anos estejamos a
falar das repercussões que esta decisão política provocou no futuro
do país… qual cheque mate educativo.