Júlio Pedrosa: Taxar ensino é um passo atrás
O antigo ministro da Educação Júlio Pedrosa defendeu, à
Agência Lusa, que taxar o acesso ao ensino secundário
compromete a equidade, acentua as desigualdades do país e
representa "um passo no sentido inverso àquele que devemos
dar".
Ressalvando que não ouviu a entrevista do primeiro-ministro à
TVI na quarta-feira, o antigo ministro da Educação de António
Guterres afirmou que, a concretizar-se a introdução de uma taxa
como forma de cofinanciamento do ensino secundário, os jovens
portugueses deixarão de ter "um acesso num sistema de equidade", o
que representa uma visão "radicalmente diferente" da sua.
"Creio que o país é muito desigual, essa desigualdade vai-se
acentuar, e se há elemento decisivo para dar aos portugueses a
oportunidade de ganharem a sua própria autonomia, de viverem com
dignidade é proporcionar-lhes o bem básico que é a educação",
defendeu.
Para Júlio Pedrosa é precisamente por o país atravessar um
momento de crise que não deve desinvestir na educação.
"Estamos a dar um passo no sentido inverso àquele que devemos
dar. A educação secundária deve ser de grande qualidade, na fase em
que estamos deve crescer o acesso à educação secundária através da
educação profissional e isso deve ser aberto aos portugueses em
geral, sem condicionalismos", declarou.
O antigo ministro de segundo Governo de Guterres entende que
mais necessário que cobrar o acesso à educação é gerir e
administrar de forma mais eficiente a oferta de escolas, referindo,
a título de exemplo, a necessidade de readequar a rede escolar ao
que foram as migrações internas da população nas últimas
décadas.
O primeiro-ministro defendeu na quarta-feira que a reforma do
Estado tem de rever as despesas com pensões, saúde e educação e
considerou que neste último setor há margem constitucional para um
maior financiamento por parte dos cidadãos.