Fado é Património Mundial e Imaterial da Cultura
Vicente da Câmara: Um dos últimos aristocratas cantadores de Fado!
Vicente da
Câmara nasceu a 7 de maio de 1928. O seu nascimento deu-se em berço
aristocrata, filho de D. João da Câmara, notável radialista e
locutor da rádio portuguesa, e cresce sob a influência de uma
educação marcadamente ligada ao fado, em particular D. João do
Carmo de Noronha, seu tio-avô.
É portanto naturalmente que entra
nos meandros do fado, e tendo ganho um concurso, abre as portas da
Emissora Nacional com 20 anos, em 1948. Dois anos mais tarde assina
o primeiro contrato discográfico com a editora Valentim de Carvalho
e, a partir daí, grava êxitos como Fado das Caldas e Varina.
Progressista do fado castiço, o
mais tradicional de Lisboa, era dado ao improviso e destacou-se
pela sua voz timbrada, naturalidade com que interpreta as suas
músicas e utilização de melismas, raridade no fado.
Durante uma entrevista, insurge-se
contra as convenções políticas e afirma ser o fado uma música
pobre, e que é na pobreza que reside a riqueza, grandeza, liberdade
e valor.
Afincadamente contra os mais
conservadores que apenas recriavam os clássicos, ficou para a
posteridade a seu maior sucesso, ainda hoje cantado e recantado por
toda uma nova geração do fado, A Moda das Tranças Pretas, que
constituiu entre os outros fados do seu repertório, um ex-libris do
fado castiço.
Na década de 1980, já com algumas
digressões internacionais na carreira, as atenções do oriente
prenderam-se no fado, e tal entre uma vaga de fadistas como Amália
Rodrigues, Maria Amélia Proença e outros, fez digressões no Extremo
Oriente.
Em 1989 assinala o quadragésimo
aniversário da sua carreira no Cinema Tivoli, em Lisboa.
Pai do também fadista José da
Câmara, é um dos poucos fadistas restantes da geração do fado
aristocrata.
Em 2007 o seu trabalho ficou
imortalizado no filme Fados, de Carlos Saura.
Rui Ferreira
extraído do livro fadistas do século xxi
J. Vasco