Editorial
Um regresso ao “Eduquês”
A formação da identidade do professor, o
sentido da sua profissionalidade, constitui, hoje, uma das grandes
preocupações das associações profissionais e sindicais dos
docentes, dadas as implicações da actuação profissional na prática
social.
Neste contexto, é genericamente
aceite que os educadores devem ser profissionais que elaborem com
criatividade conhecimentos teóricos e críticos sobre a realidade da
escola e da comunidade que a envolve e condiciona.
Neste tempo de profunda revolução
tecnológica, os professores devem ser vistos como parceiros na
transformação da qualidade social da escola, compreendendo isso os
contextos históricos, sociais, culturais e organizacionais que
fazem parte e interferem na sua actividade docente. Caberia, assim,
aos educadores a tarefa de apontar renovados caminhos
institucionais face aos novos e constantes desafios do mundo
contemporâneo, com competência do conhecimento, com
profissionalismo ético e consciência política. Só assim estariam
aptos a oferecer novas oportunidades educacionais aos alunos, para
que estes alcançassem a construção e a reconstrução de saberes, à
luz do pensamento reflexivo e crítico.
A escola, então, desempenharia um
papel fundamental em todo o processo de formação de cidadãos aptos
para viverem na actual sociedade da informação e do conhecimento.
Caberia ao sistema educativo fornecer, a todos, meios para dominar
a proliferação de informações, de as seleccionar com espírito
crítico, preparando-os para lidarem com uma enorme quantidade de
informações que nos chegam, a todo o momento, dentro e fora do
espaço escolar.
A importância do papel dos
professores, enquanto agentes desta mudança, revela-se fundamental.
Eles têm um papel determinante na formação de atitudes, positivas e
negativas, face ao processo de ensino - aprendizagem e na criação
das condições necessárias para o sucesso da educação formal e da
educação permanente, motivando-os para a pesquisa e interpretação
da informação e para a elaboração de um espírito crítico. Os
aprendentes deveriam, progressivamente, desenvolver a curiosidade
pelo mundo que os rodeia, desenvolver a autonomia do pensamento
reflexivo e estimular o rigor intelectual, como forma de criar as
condições para o "saber aprender a aprender", pilar fundamental
para uma educação ao longo da vida.
Por sua vez, essa educação ao longo
da vida deve constituir um direito de todos as pessoas,
independentemente da sua idade, habilitações e percurso
profissional, à aquisição de saberes e competências que lhes
permitam participar na construção contínua do seu desenvolvimento
pessoal e profissional, proporcionando-lhes instrumentos para a
compreensão das mudanças numa sociedade em rápida evolução,
instrumentos para identificar os seus interesses e direitos e
desenvolvimento de capacidades para intervir e agir adequadamente.
Esse direito pressupõe a disponibilização de condições para a
actualização e domínio de novos saberes e tecnologias, a
certificação das competências adquiridas por via formal ou
informal, nomeadamente as adquiridas ao longo da sua actividade
profissional.
Uma estratégia de educação ao longo
da vida tem de articular e dar coerência às suas várias vertentes:
a formação inicial e a transição da escola para a vida activa; a
acreditação e a certificação das competências, formais e informais;
a educação e a formação de adultos, ou mesmo a formação permanente
nos locais de trabalho.
O cenário educacional contemporâneo
mostra, ainda, uma forte tendência: a crescente inserção dos
métodos, técnicas e tecnologias de educação à distância num sistema
integrado de oferta de ensino superior, permitindo o
estabelecimento de cursos com combinação variável de recursos
pedagógicos, presenciais e não presenciais, sem que se criem dois
sistemas separados. Nesse novo e promissor cenário, o próprio
conceito de educação à distância ganha uma dimensão renovada,
tornando-se, na verdade, numa educação sem distâncias.
A escola é, ainda, a grande
alavanca do desenvolvimento. A sociedade do conhecimento
alicerça-se no crescimento do capital humano, na promoção da
aprendizagem ao longo da vida.
Infelizmente, a equipa do ME,
liderada pela perversa incompetência de Crato, tem levado a escola
pública portuguesa a um verdadeiro colapso, em todas as frentes e
vertentes, estando as estatísticas internacionais a recolocar-nos
em valores que envergonham e nos aproximam dos que conhecemos
muitas décadas atrás.
Por isso mesmo, neste pequeno
texto, quisemos voltar ao "Eduquês", tão parodiado pelo actual
ministro, mas que manteve viva a alma da escola democrática e o
impulso renovador da classe docente.
Classe docente essa que merece o
reconhecimento público, por se manter na primeira linha de defesa
destes princípios, apesar do achincalhamento a que, diariamente, o
ME a sujeita.
Atrofiar a escola e o investimento
na educação compromete o futuro, mas também relega para o fim da
história aqueles que protagonizam essas políticas.