Editorial
TPC’s nervos para pais e alunos
Durante o mês
de novembro os pais e encarregados de educação da escola pública
espanhola estão a fazer greve aos trabalhos de casa (TPC) que os
seus educandos trazem das instituições de ensino. À primeira vista
a notícia até pode dar origem a um certo sorriso, seguido de um
assim é que é, ou que antigamente é que era e que os trabalhos até
são poucos.
No país vizinho foi a
Confederação Espanhola de Associações de Pais e Mães de Alunos que
levou por diante a greve, com o argumento de que "os trabalhos de
casa invadem o tempo das famílias e violam o direito ao recreio, à
brincadeira e a participar em atividades artísticas e
culturais".
Como ponto prévio a este debate
de ideias, devo dizer que sou defensor de trabalhos de casa, desde
que sejam ministrados de forma moderada e acima de tudo concertada.
Infelizmente aquilo que verificamos é que isso nem sempre acontece.
Na escola, cada professor pensa, e bem, na sua disciplina. Mas no
momento de dar aos seus alunos trabalhos para eles desenvolverem em
casa, esquecem, muitas vezes os princípios da moderação,
concertação e bom senso.
No 1º Ciclo, por exemplo, os
alunos entram na escola às 8H30 ou às 9H00 e saem de lá às 17H30,
contabilizando as atividades de enriquecimento curricular. Muitos,
só voltam a casa nos transportes escolares bem mais tarde. Estamos
a falar de um horário normal de trabalho de uma pessoa adulta
aplicado a crianças dos 6 aos 10 anos, as quais quando chegam a
casa e ainda têm que ir fazer os trabalhos de casa, envolvendo
nessas tarefas os pais (aqueles que têm essa possibilidade). Depois
tomam banho, jantam e vão para a cama. Será isto justo? Então as
crianças não devem também brincar? Não devem ser crianças? E os
pais não devem também usufruir de momentos lúdicos com os
filhos?
E nos 2º e 3º ciclos? É verdade
que a carga horária é menor, mas a variedade das disciplinas é
enorme. As crianças e os jovens depois das aulas são confrontados
com uma panóplia de obrigações via TPC. Se não houver bom senso,
moderação e concertação entre todos, a vida de um jovem estudante
fica muito difícil. E a dos pais, daqueles que se interessam,
também. Por vezes, duas horas de dedicação em casa, não são
suficientes para dar resposta a tanto TPC. Há sempre quem,
inconscientemente, avance para si próprio, na hora de passar os
ditos, que eles sempre podem fazer nas explicações. Pois é, mas nem
todos andam em explicações, nem todos têm que andar em
explicações!
No secundário, a lógica será a
mesma, mas já mais adultos os alunos procuram dar resposta ao que
lhes é exigido, até porque o patamar e a competição são de outro
nível. Ainda assim, importa ter em conta os três princípios atrás
enunciados.
Então, mas deve ou não a escola
intervir nesta questão dos trabalhos de casa dos alunos? Devem ou
não os pais e encarregados de educação portugueses tomar uma
posição? Devem ou não os professores refletir sobre o que são TPC
com conta, peso e medida? Sobre o que são exageros? Sobre o que não
é exagero? Tenho para mim que todos devemos ser parte da solução e
não do problema. Porque o problema existe e não necessita de ser
mais incendiado. Todos nós fomos estudantes e todos nós fizemos
trabalhos de casa. Mas a escola já não é a mesma escola. Os alunos
são diferentes, as famílias e muitos professores também. A vida
diária das crianças e dos jovens não se pode resumir a isso. Sim,
sou defensor dos TPC's, mas não da forma exagerada como muitas
vezes eles sobrecarregam alunos e as suas famílias. E até me podem
vir dizer: eram muitos porque eram para o fim-de-semana! Quem assim
pensa (e sei que a maioria não pensa assim) deveria
experimentar levar trabalho da escola para casa e fazê-lo ao fim de
semana, todos os fins-de-semana, privando-se de estar com a família
e de fazer aquilo que também é preciso fazer: descansar,
divertirmo-nos, estar com os nossos. Certamente que os
fins-de-semana não seriam tão bons, mas seriam mais iguais aos de
muitos alunos que têm que passar o sábado e o domingo a despachar
essa coisa dos TPC's, arrastando consigo as famílias para essa
angústia.